Se o Facebook retratasse fielmente a vida off-line, Marina Silva (PSB) seria a nova presidente do Brasil ou, pelo menos, estaria no segundo turno. É o que aponta o relatório da ferramenta americana Social Bakers, que mediu a performance dos principais candidatos à Presidência da República na rede social de Mark Zuckerberg.
Até pouco antes do fechamento do primeiro turno, Marina figurava como grande favorita, contando com mais curtidores e engajamento dos internautas do que Aécio Neves (PSDB) e Dilma Rousseff (PT) em suas páginas oficiais no site. Para entender a diferença entre esse resultado e o das urnas, alguns pontos podem ser questionados.
1. O número de eleitores com acesso à internet
Somados, os internautas interessados nos três políticos eram, no máximo, 6 milhões no Facebook. Embora formem um grupo mais expressivo que o de entrevistados de uma pesquisa eleitoral, eles ainda são poucos se comparados com o total de eleitores brasileiros: 141,8 milhões, segundo a Justiça Eleitoral.
2. O perfil do eleitorado
O cientista político Emerson Urizzi Cervi pontua: "O grupo presente nas redes sociais jamais representará o perfil social do brasileiro. O Brasil é um país gigantesco e extremamente desigual". Essa visão é reforçada pelos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad 2013) divulgados no mês passado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Nos três meses que antecederam a realização do Pnad, apenas 86,6 milhões de brasileiros acessaram a internet, menos da metade da população total do país.
Ainda de acordo com IBGE, o Sudeste concentra 48% do número total de internautas brasileiros: 42,5 milhões. Em 2011 (ano do último relatório de Contas Regionais do Brasil divulgado pelo instituto), o Sudeste era responsável por 55,4% do PIB brasileiro sendo, portanto, proporcionalmente mais rico que o resto do país. Para arrematar, o perfil do eleitorado brasileiro foi traçado pelo Datafolha antes do primeiro turno e constatou que Marina liderava as intenções de voto das classes altas, enquanto Dilma tinha larga vantagem entre os eleitores mais pobres.
3. Marina militante x Marina candidata
O doutor em comunicação sociopolítica Sérgio Trein atenta para um fato importante: Marina Silva já atuava no Facebook antes das eleições e representava uma causa (sua militância em torno em questões ambientais), por isso tem tanto engajamento; mas em uma campanha eleitoral as ações na internet não podem ser isoladas. "Elas são somadas ao desempenho midiático e performático nos programas eleitorais e nos debates políticos. A Marina atuante e defensora de suas causas nas redes sociais não converteu essa imagem para a Marina candidata", explica.
4. O fator emocional
As eleições deste ano foram marcadas por um fato novo: a morte de Eduardo Campos, candidato que Marina Silva sucedeu. "Muitos que nem sequer conheciam direito o candidato do PSB e suas propostas acabaram se direcionando para uma espécie de voto homenagem", diz Trein, sugerindo que, nessa época, o evento também tenha alavancado Marina nas redes sociais.
5. De que forma são utilizadas as redes sociais?
Há questões contraditórias em relação ao uso das redes sociais. "Evidentemente, elas permitem a mobilização. Mas, ao mesmo tempo, basta um simples clique para que a pessoa passe a aderir a uma causa", afirma Trein, emendando que o clique não necessariamente se converte em ação no mundo fora da internet.
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