Entrevista
"O eleitor responde ao que se faz antes da campanha"
Alvaro Dias (PSDB), senador reeleito
A que o senhor atribui sua votação?
O eleitor responde ao que se faz antes da campanha eleitoral. Isso é uma prova de amadurecimento político. A resposta ao desempenho que ele avalia como bom ou ruim. Se ele avalia como bom, a resposta é positiva. Essa eleição seria favorável a quem soubesse interpretar com mais eficiência o sentimento de indignação da população. Isso teve um peso preponderante. A população, em alguns momentos, se sente órfã, não identifica intérpretes do seu sentimento, de sua aspiração, e, quando ela identifica alguém, ela apoia.
A recuperação de Aécio Neves também ocorreu por esse motivo?
Exatamente. A Marina [Silva] surgiu como intérprete dessa aspiração, mas muito mais como mito do que como realidade, porque era o desconhecido. E, na exposição, ela não demonstrou a força que se imaginava. Com isso, o Aécio voltou a ocupar o espaço que deveria ser seu desde o início.
Aumentam as chances de vitória no segundo turno?
Sim, ele vai com amplas possibilidades de vitória. A eleição nacional num país continental como o nosso é feita de movimento. As ondas se formam, às vezes se tornam avassaladoras e, às vezes, são contidas. Se ele conseguir sustentar esse movimento, não possibilitar uma reversão desse movimento, ele pode ser vitorioso.
O Aécio deve procurar o apoio da Marina para o segundo turno?
Eu tenho uma posição diferente sobre essa questão de apoio no segundo turno. Isso consagra a tese do balcão [de negócios]. Acho que o eleitor não precisa de intermediários. A eleição no segundo turno é um confronto entre os eleitos no primeiro, a relação é deles com a sociedade. Essa história de composição e apoio no segundo turno é muito mais para ocupar espaço no governo depois. Quanto mais livre disso estiver o eleito, melhor para o país.
O senhor foi o senador mais votado do país. Isso o gabarita a se candidatar a presidente daqui a quatro anos, caso prospere a tese do fim da reeleição?
Apelos existiram já nessa [eleição]. Uma convocação muito mais fora dos partidos, fora da área política. Do país inteiro eu recebi motivação para o enfrentamento. Mas a decisão do partido é soberana. É cedo ainda para falar [sobre as próximas eleições]. Há movimentos consistentes, há movimentos que são revertidos, então é preciso aguardar o momento adequado, a oportunidade devida, para análise do quadro e ver a possibilidade. Isso é um desafio gigantesco.
Com será sua atuação nos próximos quatro anos?
Se Dilma vencer, eu continuo no mesmo ritmo, não há alteração de postura. Se o Aécio vencer, há uma alteração. Eu tenho que ser um colaborador solidário, exatamente pressionando a favor de mudanças com profundidade, que o país exige para voltar a crescer. Tenho que ser um colaborador da mudança. Trabalhar para construir um projeto de mudança efetivo. Desde o Plano Real não se muda mais nada, não se promove nenhuma reforma. E a necessidade de reformas é urgente para o país voltar a crescer.
Como o senhor analisa a vitória de Beto Richa aqui no estado?
Era uma vitória anunciada. Só nos resta cumprimentar o governador pela brilhante vitória, desejar sucesso e dizer que estou à disposição para colaborar, em Brasília, no Senado. Quero ser um colaborador permanente do governo para que ele possa ter êxito.
O PSDB paranaense sai pacificado da eleição?
Eu disse ao Beto hoje que, em que pese a existência dos amantes da intriga, nós tivemos uma campanha tranquila, respeitosa e fomos parceiros.
Paulo Galvez da Silva, especial para a Gazeta do Povo
Com 77% dos votos válidos, o senador Alvaro Dias (PSDB) foi reeleito com a maior votação proporcional do país para o cargo. Os dois adversários mais bem colocados, Ricardo Gomyde (PCdoB), com 12,51% dos votos, e Marcelo Almeida (PMDB), com 8,73%, em nenhum momento ameaçaram a liderança do tucano. Os outros candidatos somaram 1,76% dos votos (os votos de Luiz Bárbara, do PTC, não foram computados porque o candidato aguarda recurso contra o indeferimento da candidatura).
INFOGRÁFICO: Veja os resultados para o Senado
Em 2006, quando foi eleito para o atual mandato, o tucano teve que se esforçar para vencer a petista Gleisi Hoffmann por 50,5% a 45,1% dos votos. Quatro anos antes, Dias havia sido derrotado por Roberto Requião (PMDB) ao governo do Paraná. Com discurso anticorrupção e tecendo duras críticas ao governo federal, o tucano atribui à atuação como um dos líderes da oposição no Congresso Nacional o bom resultado nas urnas.
A expectativa do senador agora é pela disputa presidencial no segundo turno. "Se Dilma vencer, mantenho minha postura. Se Aécio sair vitorioso, vou pressionar e colaborar por mudanças profundas", avisa. Alvaro Dias acredita que o PSDB "chega forte" para a disputa com Dilma Rousseff. No Paraná, após atritos com o governador reeleito, Beto Richa (PSDB), nos últimos anos, o senador afirma que o partido segue unido. "Estou à disposição para ajudar", diz.
Durante toda a campanha, o senador tucano foi alvo comum dos adversários. Acusado de ter se distanciado do Paraná durante o atual mandato, percorreu o interior e intensificou o contato direto com o eleitor. Em várias oportunidades, defendeu a postura de fiscal do governo federal. "Era o melhor que eu poderia fazer", alegou.
Dias também não deixou de aproveitar temas sensíveis ao eleitor. Ao defender o fim do uso de animais pela indústria de cosméticos, apareceu no programa eleitoral com o cachorro da família, Hugo Henrique, no colo. O bichon frisé foi um dos pontos altos da campanha. Parece que deu certo. Alvaro Dias chega ao quarto mandato para o Senado.
Mesmo derrotados, Gomyde e Almeida elogiam campanhas
Renan Araújo, especial para a Gazeta do Povo
Diante da expressiva votação de Alvaro Dias (PSDB), não houve candidato ao Senado pelo Paraná que conseguisse se aproximar do tucano. Ricardo Gomyde (PCdoB) teve 12,51% dos votos válidos, enquanto Marcelo Almeida (PMDB), 8,73%. Os demais concorrentes juntos fizeram apenas 1,76%.
Gomyde teve apoio da petista Gleisi Hoffmann, e Almeida, do peemedebista Roberto Requião. Apesar do suporte dos dois candidatos ao governo do estado, também derrotados ontem nas urnas, ambos não conseguiram conquistar o eleitor. Em todas as pesquisas de intenção de voto, os dois candidatos apareciam com menos de 10%. Gomyde até conseguiu chegar a 12,51%, mas muito longe dos 77% de Alvaro Dias.
Apesar do fraco desempenho, tanto Almeida quanto Gomyde destacaram os pontos positivos de suas campanhas. Enquanto o primeiro reclamou da falta de apoio do próprio partido, que estaria "dividido", o segundo comemorou a eleição de um deputado federal de sua legenda.
Liderança
Marcelo Almeida afirmou que ficou contente pelo próprio desempenho e pelas questões discutidas ao longo da campanha. Segundo ele, a candidatura serviu principalmente para fortalecer sua liderança dentro do partido. Mas lamentou a falta de apoio. "Eu poderia ter feito mais votos se eu tivesse apoio como o que o PT deu ao Gomyde. O PMDB ficou muito dividido, e isso me prejudicou um pouco", diz. Para o futuro, ele garante que os planos serão fortalecer as lideranças estaduais e municipais. Sobre futuras eleições, ele foi enfático. "A cada dois anos meu nome está na lista."
Já Ricardo Gomyde disse que ficou satisfeito com a votação, uma vez que foi "superior ao que as pesquisas mediam". Para ele, o mais importante foi realizar um debate de ideias em várias regiões do estado. Em relação a 2016, ressaltou que ainda não há previsão para candidatura. "A partir de amanhã vou me engajar na defesa do nosso projeto de país", explica, projetando seu trabalho na campanha de 2.º turno da reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT). Ele também manifestou alegria com a eleição de Aliel Machado (PCdoB) à Câmara dos Deputados.
Para o cientista político da UFPR Adriano Codato, apenas o alto investimento financeiro nas campanhas não foi o suficiente. O especialista ressalta que ainda falta experiência tanto a Gomyde, quanto a Almeida. "É preciso ter carreira na política, ter apoio. É a capilaridade que Alvaro e Beto aproveitaram um do outro", explica.