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Renda

Redução da pobreza é trunfo do PT, mas ritmo está diminuindo

A maior carta na manga da campanha de Dilma é a redução da pobreza e da desigualdade. Nesse quesito, os governos petistas ganham na comparação com os tucanos. Ainda assim, é preciso reconhecer que a estabilidade econômica da gestão FHC permitiu que os programas de transferência de renda deslanchassem nas administrações do PT. Além disso, dados recentes do IBGE mostram uma desaceleração no processo de combate à pobreza nos últimos anos.

Aécio Neves (PSDB) disse, em diversos momentos da campanha, que o maior programa social da história do país foi a estabilização da economia. Mas as estatísticas não mostram isso. É verdade que o Plano Real resultou numa redução quase imediata do número de pobres no país: entre 1993 e 1995, a taxa de pobreza caiu cerca de 18%. Entretanto, nos anos seguintes, a taxa ficou estagnada, voltando a cair somente a partir de 2004 – já no governo Lula. A redução da pobreza foi de 37% em seus dois mandatos, contra 20% nos dois governos de Fernando Henrique Cardoso. Já nos primeiros anos de Dilma, a pobreza caiu 25%. Os dados são do Ipea, calculados a partir das respostas da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) e do valor da cesta básica em diferentes regiões do país.

O índice de Gini, que mede a desigualdade de renda, também caiu com muito mais força durante a era petista (quanto menor o índice, menor é a desigualdade). Em oito anos de FHC, a redução foi de 2,5%. Apenas nos dois primeiros anos de Dilma, o índice caiu 2,3%. Em 2013, entretanto, o índice se manteve estável – um erro na metodologia da PNAD apontou, inclusive, um ligeiro crescimento, corrigido posteriormente para uma ligeira queda. Com Lula, a queda total foi de 7,9%.

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Desemprego é menor na gestão petista. Porém, tendência é de alta

O índice de desemprego é outro indicador usado na campanha petista como exemplo do sucesso da gestão de Dilma Rousseff (PT). A presidente disse, em quase todos os debates, que, em sua gestão, o Brasil enfrentou a crise econômica sem aumentar o desemprego – ao contrário das gestões do PSDB, que deixaram o país com o desemprego em um nível alto. Entretanto, caso a economia não se recupere, é possível que a manutenção dos patamares atuais de emprego não seja possível nos próximos anos.

É difícil comparar diretamente a taxa de desemprego entre as gestões petista e tucana devido a uma mudança na metodologia de cálculo do IBGE, em 2002 – apenas os três últimos anos de Fernando Henrique aparecem na metodologia atual. Considerando a variação, entretanto, é possível constatar a variação de todas as gestões. Durante o primeiro mandato do tucano, o desemprego cresceu 53%, caindo 6% na segunda gestão. A partir do governo Lula, a taxa passou a cair de forma constante: 21% de redução no primeiro mandato, 32% no segundo e 27% durante a gestão Dilma. Atualmente, apenas 5% dos trabalhadores brasileiros que procuram emprego estão desocupados – a menor taxa desde FHC.

Ano que vem

Entretanto, para o economista Luciano D’Agostini, integrante do Grupo de Pesquisa Macroeconomia Estruturalista do Desenvolvimento, a manutenção desse patamar será inviável nos próximos anos, caso o crescimento se mantenha em baixa e a inflação continue alta – cenário que considera o mais provável, independentemente de quem vença as eleições. Ele prevê que, no próximo ano, a taxa de desemprego vai chegar a um valor entre 7% e 8% – patamar no qual o país estava em 2008.

O desempenho da economia brasileira voltou ao centro do debate político na eleição presidencial. Por um lado, o baixo crescimento verificado nos últimos anos e a alta da inflação em 2014 pautaram o discurso por mudanças feito por Aécio Neves (PSDB). Já a presidente Dilma Rousseff (PT) defende que, apesar desses percalços, seu governo manteve uma taxa de desemprego baixa mesmo em um contexto de crise econômica e que a redução da pobreza e da desigualdade foram conquistas do governo petista. Ela diz ainda que a inflação durante seu governo é inferior à da era FHC. A comparação entre os governos petistas e tucanos ficou ainda mais forte depois que Aécio declarou que, caso vença, indicará Armínio Fraga para o Ministério da Fazenda. O economista foi presidente do Banco Central durante o segundo mandato de Fernando Henrique. Durante a campanha, sua atuação no cargo sofreu fortes críticas da atual presidente. A reportagem da Gazeta do Povo avaliou os discursos de Aécio e Dilma e os comparou com os dados históricos da economia nacional nos últimos 24 anos.

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INFOGRÁFICO: Veja alguns indicadores da economia brasileira nos últimos 24 anos

Ponto fraco de Dilma é o baixo crescimento

O crescimento do país talvez seja o maior calcanhar de Aquiles de Dilma Rousseff (PT) – e, não por acaso, tem sido uma das principais críticas de Aécio Neves (PSDB). Mesmo considerando uma otimista e pouco provável variação positiva do PIB de 1,5% neste ano (o mercado estima que, na realidade, o país deve crescer só 0,3%), o crescimento do país durante a atual gestão será a menor desde 1990. Mais do que isso, a evolução do PIB ainda está abaixo da grande maioria das economias do planeta no período: é o pior desempenho entre os Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e está abaixo da média da América Latina e é inferior até mesmo ao dos EUA.

Se a comparação for entre quatro anos dos mandatos dos últimos presidentes, o crescimento durante o atual governo é o menor. A presidente justifica que essa retração na economia é causada pela crise internacional. Ainda assim, comparando os dados do Brasil com os do resto do mundo, o país fica bem atrás – inclusive em comparação com a América Latina. Apenas a zona do Euro vive um momento pior.

Para o economista Fe­­lipe Salto, da Tendências Con­­sul­­toria, o crescimento do Brasil costumava ser próximo ao do resto da América Latina. Nos últimos quatro anos, houve um descolamento – que, na sua opinião, deve-se mais a fatores domésticos do que externos. Alguns desses fatores seriam a queda de produtividade da indústria, o excesso de protecionismo e o desajuste da política fiscal.

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O economista Luciano D’Agostini, do Grupo de Pesquisa Macro­­econo­­mia Es­­truturalista do Desen­­volvimento, vê na estrutura do PIB brasileiro o motivo da desaceleração da economia – algo que pouco mudou desde a era FHC. Para ele, o PIB do país depende excessivamente do consumo da população e do governo e tem baixa taxa de investimento e de produtividade. Segundo D’Agostini, com o aumento do poder de compra durante a era Lula, o país pôde crescer ao longo da última década. Entretanto, o alto endividamento das famílias freou o consumo, que, por sua vez, comprometeu o crescimento. Para D’Agostini, a possibilidade da retomada do crescimento no curto prazo é nula.

Inflação com FH e Lula caiu, mas voltou a crescer

De todos os indicadores econômicos, a inflação talvez seja a que mais pese na decisão do eleitor na urna. Isso acontece porque, independentemente de qualquer discurso, o eleitor sente diretamente no bolso quando os preços sobem. Durante a campanha, Aécio Neves (PSDB) e Dilma Rousseff (PT) trocaram muitas farpas sobre o tema. O tucano diz que a inflação está fora de controle, enquanto a petista argumenta que os índices de inflação atuais são muito inferiores aos da gestão tucana.

Olhando apenas os números, de fato, a inflação do governo Dilma é mais baixa do que a do governo Fernando Henrique Cardoso. Nos últimos quatro anos, os preços subiram, no total, 27% – considerando o índice de inflação de 2014 em 6,74%, IPCA do mês de setembro. Nos dois quadriênios da era FHC, esses índices foram de 43% e de 39%, respectivamente.

Entretanto, é preciso considerar também que o governo tucano sucedeu um período de hiperinflação. Nos quatro anos anteriores, os preços subiram 2.581.611% – ou seja, o que custava 100 em 1990 passou a custar 2,5 milhões em 1994. Naquele ano, de lançamento o Plano Real, o IPCA foi de 916%. No ano seguinte, primeiro da gestão tucana, esse índice estava em 22%.

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Para o economista Feli­­pe Salto, da Tendências Con­­sultoria, é preciso observar a tendência da inflação, antes de compará-las numericamente. De 1994 a 2010, ela caiu progressivamente, primeiro com Fernando Henrique, depois com Lula. Nos últimos quatro anos, entretanto, a tendência foi de crescimento. Desde 2005, a inflação não passava dos 6% ao ano – em 2011, a inflação foi de 6,5% e em 2014, a previsão do mercado é que ela feche em 6,45%.

A presidente atribui essa piora a um choque de oferta: no debate da última quinta-feira, no SBT, ela disse que a falta de chuvas contribuiu para perdas na agricultura e para o aumento do custo da energia, o que gerou pressão sobre os preços. Para Salto, ainda que isso influencie no resultado final, a alta na inflação tem mais a ver com a política econômica do governo – a manutenção da taxa de juros em um patamar baixo seria um exemplo de fator que estimulou a inflação.