Polêmicas
Como se posiciona em relação a temas que são ou podem ser alvo de mudanças na legislação.
Legalização da maconha
Contra.
Redução da maioridade penal
Contra.
Ensino religioso nas escolas
O Estado é laico. No caso das particulares, aí o livre arbítrio.
União civil de pessoas do mesmo sexo
Aquilo que disciplina a legislação hoje, eu defendo [o Supremo Tribunal Federal permite a união de pessoas do mesmo sexo].
Descriminalização do aborto
A nossa legislação é suficiente [a lei brasileira permite em duas situações: quando a gestação coloca em risco a vida da mulher ou quando a gravidez é resultado de estupro].
Ricardo Gomyde (PCdoB) escolheu a diferenciação do principal adversário, Alvaro Dias (PSDB), como plataforma na disputa pelo Senado. Se eleito, o candidato diz que vai aproximar o Paraná dos "bons recursos" de Brasília ao invés de se dedicar às questões partidárias. "Eu tenho dito, e digo também por convicção, que o Alvaro, se teve alguma importância no processo de redemocratização do país, ao longo do tempo se acomodou."
Ícone do movimento Fora Collor, Gomyde foi eleito, aos 23 anos, o mais jovem deputado federal paranaense na história, em 1994. Depois disso, no entanto, colecionou candidaturas sem sucesso para retornar à Câmara Federal, para vereador e prefeito de Curitiba. "Eu não troquei de partido, não troquei de coligação como se faz por aí a favor de busca de mandatos parlamentares", afirma o candidato, que concorre na chapa de Gleisi Hoffmann (PT).
Depois da sua eleição para deputado federal, em 1994, o sr. disputou eleições para prefeito de Curitiba, vereador e novamente deputado federal. Por que agora ser senador? É o cargo pelo cargo?
Eu nunca troquei de partido. Desde 1994, quando tive a honra de ter sido o deputado federal mais jovem do Paraná, até hoje, ocupo o mesmo partido. Acho isso um fato a ser destacado porque não é comum na vida pública do país. Meu principal adversário, por exemplo, já andou por mais de 15, ou no mínimo dez. E sempre procurei fazer política por coerência, política por ideal. Tinha várias facilidades de participar de outras coligações, de participar de outras legendas, de obter mandatos com facilidades, e renunciei a isso. Porque eu faço política por convicção. As lideranças da nossa chapa, os partidos que compõem a coligação, entenderam que o meu perfil poderia ajudar muito para que a gente fizesse esse debate para o Senado e efetivamente ganhasse a eleição pelo perfil da renovação, de fazer um contraponto com o Alvaro Dias (PSDB), que ocupa há mais de duas décadas essa cadeira do Paraná no Senado da República. Eu acho também, por isso aceitei o desfio. O prefeito Gustavo Fruet (PDT), a Gleisi [Hoffmann (PT)], o próprio Lula, conversaram comigo sobre isso, e eu estou muito animado com tudo o que tenho visto. Principalmente o que me motiva é o fato de a gente poder aproximar o Paraná dos bons recursos que hoje existem em Brasília. Eu tenho dito, e digo também por convicção, que o Alvaro, se teve alguma importância no processo de redemocratização do país, ao longo do tempo se acomodou. Hoje já não é mais um representante do Paraná, é um representante do seu partido, o PSDB. É da tribuna do Senado para comitê de imprensa, com o discurso monotemático de atacar o PT, atacar o Lula, e atacar a Dilma [Housseff]. Só isso, nada mais do que isso. O Alvaro fez oposição a todos os governadores. Ele fez oposição ao [Jaime] Lerner, ele fez oposição ao [Roberto] Requião, ele fez oposição ao Beto [Richa]. Aliás, o principal opositor do Beto era o Alvaro Dias. As críticas mais duras ao Beto vieram do Alvaro Dias. Tentou sair para o PV, não deu certo, fez uma composição de última hora para poder ser candidato. A gente sabe que, evidentemente, isso não é harmônico. E se, infelizmente, ele ganhar a eleição, ele declara oposição no dia posterior à posse. Aliás, ele tem dito na televisão, de forma arrogante: "no novo mandato...". Parece que a eleição é só uma formalidade pela qual ele tem que passar para renovar o mandato. Não é isso, não. Os avanços sociais dos últimos 12 anos encontraram no Alvaro forte oposição. O Alvaro não lutou para aproximar os nossos produtores do Plano Safra. [E a] agricultura familiar? O Paraná é um dos grandes tomadores de recursos do Pronaf e eu não vi o Alvaro percorrendo o Paraná, discutindo com os nossos produtores de que maneira aproximar o nosso setor rural desses recursos em Brasília, do Pronaf Mais. Eu não vi o Alvaro interessado em ampliar as ofertas do Prouni, do Fies, do Pronatec. Pelo contrário, ele tentou evitar que o Pronatec acontecesse. Isso está transformando a vida das pessoas. É gente que conseguiu ter acesso ao ensino superior, ao ensino técnico, se qualificou para um emprego melhor, para uma renda melhor, para uma vida melhor. Eu não vejo sentido em que a gente tenha um mandato com esse perfil. Dá, por exemplo, para trazer muito mais unidades do Minha Casa, Minha Vida. Nós temos hoje cerca de 226 mil contratadas no estado. Um senador pode ajudar nisso tudo. E eu tenho perguntado no Paraná, por onde vou, no que o Alvaro foi importante no sentido de alavancar o desenvolvimento regional sustentável. Não faz isso. O Paraná gastar um mandato exclusivamente por conta do contraponto político é uma pena, custa muito caro para o nosso estado.
Mas é preciso um senador para fazer esse papel? Ele acaba sendo um papel muito similar ao de um deputado federal. Não é mais importante ter um estofo político, ser alguém que se posicione politicamente, que em grandes causas, grandes projetos, defenda o Paraná?
Essas são grandes causas. Um despachante de município desvirtua o mandato parlamentar, seja deputado ou seja senador, porque fica trabalhando com aquelas emendinhas parlamentares para levar determinados recursos. É uma forma da velha política. O que eu estou dizendo é outra coisa. É você aproximar o estado dos recursos federais, participar dos debates, dos arranjos produtivos, discutir com as associações comerciais, com as associações de indústrias, com os sindicatos, sejam patronais, sejam de trabalhadores, discutir com os nossos prefeitos. Sequer com os prefeitos o Alvaro tem discutido. Você pega questões fundamentais, de cidades-pólo importantes para o nosso estado, e há tempos o Alvaro não vai lá, não senta, não discute com a sociedade viva, com os elementos pensantes, de que forma pode participar no sentido de alavancar o desenvolvimento dessas regiões, de melhorar a qualidade de vida das pessoas. Isso é parte intrínseca de um mandato parlamentar, quanto mais ainda de um senador. No Senado da República nós temos três representações de cada estado, e ele é um senador do estado, não um senador do PSDB. Claro que a opinião política é importante. Eu, pela minha história política, vou ter opinião, uma opinião forte. Agora, vou me dedicar para que a gente possa ajudar o estado. Isso é o que todos os outros senadores fazem. Por obrigação. Aproximar o estado de Brasília. Ter opinião política, evidentemente, mas auxiliar para que a vida das pessoas melhore. Isso é parte irrenunciável do mandato no Senado e eu vou me dedicar a isso.
O sr. foi o deputado federal mais jovem do Paraná, em 1994, um resquício ainda do seu papel com os caras-pintadas, do movimento Fora Collor. Companheiros seus como Randolfe Rodrigues (senador pelo Amapá) e Lindberg Farias (senador pelo Rio de Janeiro) conseguiram manter uma trajetória, sendo eleitos para outros cargos. Por que o sr. não conseguiu vencer outras eleições?
O Lindberg foi meu companheiro, fizemos o movimento estudantil juntos, fomos da mesma diretoria da UNE. O Lindberg foi para o PSTU, depois foi para o PT, e teve muito mais estrutura, teve condições de ser prefeito de Nova Iguaçu e dali ganhou a eleição para o Senado. Eu demorei um pouquinho mais, mas vou ganhar agora. Tomara que possa contribuir não só para o debate democrático do país, mas também para ajudar esse "Paranazão".
Foi uma votação bastante expressiva em 1994. Por que ela não se desenvolveu?
Eu fiz uma grande votação em 1998. Minha coligação foi ruim. Eu fiz uma grande votação em 2006. Minha coligação foi ruim. Agora, eu não troquei de partido, não troquei de coligação como se faz por aí, em busca de mandatos parlamentares. Eu acho que tem uma coisa superior a isso, que é a coerência, que é a dignidade, que é o compromisso com as suas ideias.
Qual o sentido de pertencer ao PCdoB hoje em dia, com a dissolução de praticamente todos os regimes comunistas?
O PCdoB é um partido que tem como ponto fulcral a defesa da democracia. O PCdoB é um partido jovem, nós temos a maior bancada feminina do Congresso Nacional. Nossos quadros quase sempre vêm dos movimentos sociais, seja do movimento sindical, muitas vezes do movimento estudantil. Particularmente, o deputado Aldo Rebelo foi também presidente da UNE. E isso é um elemento que me faz ter mais ainda convicção na liderança do PCdoB. É um partido que defende a produção. Muita gente se surpreendeu com a postura do Aldo durante [a relatoria] do Código Florestal, mas o PCdoB não abre mão desses valores, da defesa da democracia, defesa do setor produtivo, e claro, de uma visão mais generosa de país.
Essa defesa do Aldo Rebelo do Código Florestal foi bastante criticada internamente, pelos movimentos de esquerda. Existem outras questões também, como concessões públicas de aeroportos e rodovias federais, que têm os mesmos conceitos de uma privatização. O PCdoB não se desvirtua quando apoia esse tipo de ação?
Seria contraditório se o PCdoB achasse que a iniciativa privada não tem papel a cumprir no desenvolvimento do nosso país. Muito pelo contrário. Tem, e bastante. Não há qualquer tipo de contradição entre o programa que está sendo desenvolvido no nosso país e o programa do PCdoB. Se associando aos bons exemplos, àquilo que de bom existe na produção, sem abrir mão do controle da economia, é que a gente vai obter êxito. Está aí uma diferença muito clara do nosso projeto de país para o projeto da Marina [Silva]. A Marina defende independência do Banco Central. No dia em que o PCdoB defender a independência do Banco Central, aí vai estar abrindo mão dos seus princípios. Agora, o PCdoB bebe nas suas fontes teóricas. Seria irracional, e seria abrir mão de fazer política, trazer escritos de outra região do planeta, de outro século para cá, e aplicar literalmente. Aí é religião, não é política. E eu faço política.
O senador Alvaro Dias critica muito o que chama de "balcão de negócios" na política nacional. Esse loteamento de cargos, que é uma das principais críticas da oposição, não faz parte da velha política que o sr. diz combater?
O Alvaro diz assim: "isso acontece agora, acontecia antes, acontece nesse governo, acontecia no outro que eu participava, acontece desde sempre". Ele tem mais de 20 anos no Senado. Obviamente que há fisiologia no Congresso, há troca de cargos. Eu defendo a meritocracia, eu defendo que a gente possa ter mais concursos públicos, menos cargos comissionados, pessoas comprometidas com o serviço público, e não apenas com um determinado agrupamento político.
O sr., por ter exercido funções no Ministério do Esporte, não se considera parte desse modelo?
De maneira nenhuma. Uma parcela de cargo em comissão é absolutamente fundamental. Senão, o povo não se faz ouvir. Você faz uma eleição, elege um presidente da República, e ele não tem nenhuma condição de governar. Obviamente que isso tem uma proporcionalidade, tem a medida de justeza, e tem a excrescência. Há que se resolver isso no sentido de limitar. Mas é fato público, notório, óbvio, que nós temos cargos em comissão em demasia, seja em Brasília, seja no estado, seja nos municípios. E o Brasil tem que se deparar com isso, fazer um enxugamento da máquina no sentido da produção. Porque também não é enxugar por enxugar e depois comprometer os serviços públicos. As funções públicas e aqueles que as ocupam têm que estar em sintonia com o serviço que é apresentado. O que não pode é ter alguém contratado para fazer política. Eu me orgulho da minha passagem por Brasília. Ocupei uma função técnica, que foi a preparação do país para a Copa do Mundo, participei durante todo esse período da preparação do país. Muita gente, inclusive o senador Alvaro Dias, com destaque, achava que nada ia ficar pronto. Fizeram um terrorismo danado, houve uma revista de circulação nacional que colocou na capa que o Maracanã ia ficar pronto em 2038. Diziam que os aeroportos não iam funcionar, que não ia ter segurança pública, que ia dar tudo errado, mas que a seleção ia brilhar no campo. O que aconteceu, lamentavelmente? A seleção não brilhou no campo, mas fora de campo tudo funcionou. Todas as pesquisas, todas as análises daqui e de fora do país, dão conta de que o Brasil organizou uma grande Copa. E eu participei disso no olho do furacão. Me orgulho do meu trabalho em Brasília.
Tem como combinar meritocracia com o sistema de loteamento? Alguém que nunca foi filiado a partido nenhum, mas que tem um bom currículo, experiência em determinada área, não fica prejudicado se, de repente, o escolhido para a função é alguém do PCdoB?
O atual diretor de Futebol Profissional [do Ministério do Esporte] é o Toninho Nascimento, ex-diretor de esportes de O Globo, que tem uma vivência danada na área do futebol, na cobertura jornalística, mas também nos seus contatos com presidentes de clubes, com a CBF... E o Toninho deixou a redação de O Globo, onde ele estava já há muito tempo, para assumir essa função. O importante é ver o seguinte: nós estruturamos, em Brasília, uma Secretaria Nacional de Futebol, que tem um corpo técnico destinado a pensar isso, a organizar o futebol. É difícil, o futebol é organizado dentro de um sistema arcaico, mas nós temos que modernizar. Entender o futebol como uma indústria. Porque assim nós conseguimos ampliar a participação do futebol no PIB do país e também na oferta de empregos. Nós temos cerca de 800 clubes de futebol profissional. Só cem têm calendário. São os 20 da primeira [divisão], os 20 da segunda, os 20 da terceira e os 40 da quarta. O resto joga o campeonato estadual e depois de maio fica sem atividade. Olha o desperdício do ponto de vista da geração de emprego. Não estou falando só de jogadores de futebol, mas da cadeia que se forma em torno do futebol. E olha do ponto de vista também de recursos. Nós temos que organizar, colocar no futebol boas práticas de governança. Há uma luta legislativa, uma discussão no governo, mas tinha que acontecer com mais celeridade. Fazer com que o futebol não só fortaleça os clubes, para que a gente tenha ganhos nacionais e internacionais, mas fundamentalmente para que ele ajude mais o PIB do país e a geração de emprego.
Qual sua visão sobre o esporte em geral no Brasil, sem falar no futebol? As outras modalidades na maior parte do tempo são relegadas a um segundo plano.
O esporte recebe um comprometimento orçamentário que mostra que ele não é tratado como prioridade. O que é um erro. É até um chavão, porque é sempre repetido: as Nações Unidas têm dados de que cada centavo investido no esporte recupera três ao longo da vida do cidadão, só em saúde pública. É evidente que se você desenvolve projetos de caminhada para a terceira idade, de controle de pressão e batimento cardíaco, é menos gente doente, é menos gente no posto de saúde. Investir em esporte é inteligente. Precisamos desenvolver desde a infância a ideia de que o cidadão tem direito à saúde, à educação e também a uma atividade esportiva. Não para virar atleta. Se ele puder e quiser virar atleta, bom. Mas fundamentalmente para que ele tenha uma atividade física continuada, para poder ter mais qualidade de vida. Lamentavelmente, nisso a gente ainda engatinha. Do ponto de vista do esporte de alto rendimento, houve um salto muito grande agora. Primeiro porque com a Lei Agnelo-Piva [que repassa dinheiro das loterias para as federações esportivas] já houve um recursozinho para as federações, para que elas pudessem se estruturar. Tem a Bolsa Atleta, que pôs um dinheirinho para os atletas que têm conquistas desde a fase estudantil. Mas ainda é insuficiente. Vamos esperar que a partir dos jogos olímpicos no Brasil essa estrutura toda que está sendo construída seja aproveitada como legado e que o esporte não viva de ápice e queda. No ano olímpico ele cresce, nos demais ele cai. Que a gente possa ter uma crescente constante. É nas conquistas esportivas que a gente vê o civismo aflorar.
Recentemente a presidente Dilma falou que o baixo crescimento da economia em 2014 está ligado à organização da Copa. O Mundial fez mais bem ou mais mal para o país?
A Copa comprovadamente fez bem ao Brasil. Tanto que você não vê a Copa no debate eleitoral. Proclamavam antes que ela seria o ponto central do debate. Ela ter saído mostra que a questão é consensual. Os analistas todos mostram que o Brasil ganhou e vai ganhar muito com a Copa. Há um legado intangível, que a gente vai receber do ponto de vista da imagem do país internacionalmente, de turistas que vão querer voltar e também de partes do país que foram expostas com a Copa e não eram tão conhecidas internacionalmente. O Rio de Janeiro é um símbolo do país, conhecido em todos os locais, mas Belo Horizonte nem tanto assim, Curitiba nem tanto assim. Com a Copa, essas cidades puderam ter mais visibilidade. Seria impensável pensar o Brasil para projetar internacionalmente e não ter uma sede na Amazônia e outra no Pantanal.
O que fazer para melhorar a relação entre a União e o estado do Paraná?
Isso é um fato fundamental. O Paraná não se articula [no Congresso] como outras bancadas para conseguir recursos da União. Isso não é recente, é histórico e precisa ser revertido. Eu acho que eu posso ajudar nisso. Acho que nós não podemos ter no nosso governo uma relação com Brasília de tomar Brasília como inimigo. Não podemos, porque estamos na situação ou oposição, estarmos melhor ou pior. Eu vou dar o exemplo do governador Antonio Anastasia [PSDB, Minas Gerais], ele está constantemente apresentando projetos. Eu via em outras áreas em que a gente [Ministério do Esporte] trabalhava. A Copa era multidisciplinar, passava por todos os ministérios e ele estava lá com um projeto embaixo do braço, com equipe técnica... Isso tem que ser feito. Acho que isso cabe também ao governador, mas a nossa bancada precisa estar em sintonia. Lamentavelmente, não ocorre no Paraná. Vou ser um agente para solidificar essas questões. Acho que isso faz parte da nova política, não é quem está lá há 20 anos detectando isso e sem conseguir resolver que vai mudar algo.
O que considera fundamental para a reforma política?
As manifestações de junho do ano passado pediam muita coisa, mas fundamentalmente gritavam que as pessoas não se sentiam representadas pelos representantes do nosso país. O problema fulcral das manifestações é o grito pela necessidade da reforma política. Não dá mais para essas campanhas, nos preços absurdos que temos hoje, não dá mais que esse sistema político arcaico, corrupto, de caixa dois, prevalecer. Por que a reforma política não sai? Porque se você perguntar para os atuais parlamentares do Congresso Nacional, se eles concordam com a reforma política, todos eles vão dizer que sim. A hora que você aponta que elementos são fundamentais para essa reforma, aí então eles sentam nas suas cadeiras e impedem que ela seja feita. Tem vários temas que eu tenho colocado. Um deles é o fim do horário eleitoral do jeito que ele está hoje. Custa muito caro. Há uma prevalência desses marqueteiros e aquele horário fixo acaba sendo assistido por pouca gente. Será que a gente precisa daquele horário? Você amplia o número de comerciais, que entram na programação normal das televisões e acabam mais assistidos e obriga que haja debates transmitidos em cadeia de rádio e televisão. Nos debates os candidatos não são assessorados, eles são testados, obrigados a responder com o conhecimento que têm. Segundo, temos que discutir essa excrecência que é a formação do Senado com pessoas que não tiveram votos [suplentes]. Uma pessoa com boa votação sai candidato ao Senado, vende a vaga de suplente para um bilionário, assume o mandato, tira licença e esse bilionário, sem ser conhecido e votado, vira senador. Isso tem que acabar. Não resiste a qualquer discussão. Passam-se os anos e isso continua. Outra coisa que eu quero defender com vigor é que para senador só seja permitida uma reeleição. Se um senador se reelege, fica 16 anos na mesma função. Não tem sentido nenhum você permitir que uma pessoa se encastele no Senado e fique lá quase que eternamente. Caso aqui do Paraná. O Alvaro está lá há mais de duas década. É uma raposa da política, se articula muito bem, elimina concorrentes e vai disputar a reeleição quase querendo ganhar no WO. Tem que ter travas para que a gente possa defender a democracia. Eu vou defender a reforma com energia. Mas também não adianta apresentar projeto demagógico só para dizer que apresentou. Tem que articular, montar um campo político para que tenha êxito.
Houve muita polêmica com relação à aliança entre o PCdoB, o PDT e PT agora. Os aliados do Roberto Requião no PMDB dizem que a aliança do PCdoB com eles já estava sacramentada e depois o sr. teria voltado atrás e fechado com a Gleisi Hoffmann. Foi isso mesmo? O que de fato aconteceu?
Está aí uma acusação completamente sem fundamento. O PCdoB está desde 1989 apoiando o Lula e a Dilma. Temos um histórico de caminhada com o PT que não é de hoje. O Lula diz que o único partido que sempre lhe deu apoio foi o PCdoB. É uma aliança 100% natural. Evidentemente que além de candidato eu era presidente do meu partido. E como presidente, tinha de conversar com todas as forças daqui do Paraná. Na época era a candidatura do Requião e da Gleisi. Passado isso, o partido se reunião em convenção, o nosso partido é muito democrático, e decidiu por consenso marchar com a candidatura da Gleisi. Estamos muito confortáveis com isso. Eu fui convidado pelas lideranças da nossa coligação para sair candidato ao Senado, a ministra Gleisi, o prefeito Gustavo [Fruet], o presidente Lula. A nossa coligação desde o início é extremamente harmônica, ao contrário das outras. O Beto passou nesse período por uma dificuldade muito grande para achar o seu vice. O Beto queria que o vice viesse do PMDB, disputou a convenção do PMDB e perdeu. Depois convidou o secretário Ratinho Júnior [PSC], que chegou a ser anunciado como vice, depois o secretário desistiu. Houve outras negociações, mas acabou sendo escolhida a deputada Cida Borghetti [PROS]. A própria candidatura do Alvaro ao Senado foi um parto. Todos sabem que o governador não tem uma boa relação com o senador Alvaro Dias. O [deputado estadual Valdir] Rossoni, que é presidente do PSDB no Paraná, se colocou como pré-candidato ao Senado. Ao final, fizeram um arranjão e está aí o que está aí. A própria candidatura do Requião também foi formada com muita disputa. O Requião teve de viajar pelo Paraná, conversar com o PMDB, houve muita fissura. Eu recebi no Twitter do deputado [Luiz Cláudio] Romanelli um recado dizendo: "o Gomyde vai ganhar a eleição para o Senado porque não é dono de pedágio e significa a renovação". O presidente do PMDB [estadual], deputado Osmar Serraglio, falou claramente pela imprensa para todo mundo ouvir, recebi aqui no Twitter também, que tem dificuldade de marchar com uma candidatura do pedágio, pelo histórico de vida dele. A nossa candidatura não: caminhamos harmoniosamente.
Mas foi fechado com o PMDB antes?
Evidentemente que não.
E não provocou fissuras para a candidatura da Gleisi?
Quais?
O PDT por exemplo, que também queria essa vaga para o Senado, muitos prefeitos do interior não estão com a Gleisi.
Isso foi decidido em harmonia. O presidente do PDT, o Osmar Dias, me ligou reforçando essa tese. O que houve foi um problema isolado que já foi superado. Não houve nenhum confronto em relação à minha campanha.
O Senado vota empréstimos internacionais dos estados. Como pretende se posicionar, independentemente se o governador for seu aliado ou não, em caso de novas votações?
Apoiar o Paraná. Não tem tese. Resposta curta e simples: apoiar o Paraná.
Qual é a proposta legislativa que considera mais importante para o Paraná?
Inúmeras. Temos de discutir a questão do mar territorial, que nos atrapalha. A forma de divisão do mar territorial coloca o Paraná dentro de uma curva convoca, ficamos com um pedacinho muito pequeno. Não é fácil, mas lutar para mudar. Temos que discutir uma questão que o [José] Serra nos colocou, o Serra do PSDB do Alvaro, que a tributação diferenciada do ICMS da energia. O Paraná é um grande produtor de energia, mas você arrecada no consumo e não na geração. Tem muita coisa para discutir aqui no Paraná, que só não foram resolvidas por culpa da nossa desunião. E não é a velha política, quem já ficou mais de duas décadas no Senado que vai resolver. Não dá para aceitar que o governo federal faça o pedágio custando em média R$ 4 a cada 100 quilômetros e nós tenhamos um pedágio de Curitiba a Paranaguá custando R$ 15,40. É uma lógica que assalta o paranaense e sangra a nossa produção. Dá para resolver. O governo do estado pediu para a presidente Dilma renovar essa concessão e ela disse que não. Amparado nos acórdãos do Tribunal de Contas da União e no Ministério Público Federal a gente tem todas as condições de fazer esse reequilíbrio. Um contrato muito ruim para o Paraná, muito ruim para o povo e muito bom para o dono do pedágio.
STF inicia julgamento que pode ser golpe final contra liberdade de expressão nas redes
Plano pós-golpe previa Bolsonaro, Heleno e Braga Netto no comando, aponta PF
O Marco Civil da Internet e o ativismo judicial do STF contra a liberdade de expressão
Putin repete estratégia de Stalin para enviar tropas norte-coreanas “disfarçadas” para a guerra da Ucrânia