Aécio Neves e Dilma Rousseff participaram ontem do debate na TV Globo, o último antes da votação de amanhã| Foto: Antonio Lacerda/ EFE

Opinião

Agressividade menor e foco no social, mas ainda longe do Brasil real

O debate de ontem pareceu o corolário do que ocorreu ao longo do segundo turno. Todos os grandes assuntos estavam lá: das denúncias de corrupção até as propostas para alguns dos temas mais importantes. Os candidatos também usaram o que aprenderam anteriormente com seus fracassos. Aécio Neves e Dilma Rousseff evitaram o tom agressivo do SBT, mas foram mais duros do que na Record.

A tentativa de achar o meio termo, o tom perfeito, marcou principalmente o discurso de Aécio. Ele deixou de chamar Dilma de mentirosa e de leviana, trocando isso por eufemismos, como o que diz que "não é possível reescrever a história". Ao invés de fazer cobranças em termos mais duros, dizia que daria a ela a oportunidade de se explicar. Não se sabe se isso evita que o eleitor o veja como agressivo.

No caso de Dilma, ela parecia querer ir sempre para o tema do social, falando de números bons de seu governo, em áreas como educação e assistência social, e atacava o tucano dizendo que o governo do partido dele não tinha a mesma experiência nesses temas. Difícil saber se o indeciso se convencerá depois de quatro anos já conhecendo o governo.

Mas a grande novidade foi mesmo a participação dos eleitores indecisos fazendo perguntas. Os candidatos foram obrigados a deixar de lado o discurso preparado pelos marqueteiros e enfrentar temas que nunca vinham sendo trazidos à tona quando a coisa ficava confinada a eles e a jornalistas. Valas a céu aberto, por exemplo. E nenhum dos dois parecia ter propostas claras e compreensíveis que convencessem os eleitores. Foi o Brasil real se impondo ao marketing, o que é sempre uma boa novidade.

Rogerio Waldrigues Galindo, colunista da Gazeta do Povo.

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No último debate das eleições de 2014, na TV Globo, os dois candidatos à Presidência da República expuseram suas táticas para a reta final das eleições. Seis pontos porcentuais atrás de Dilma Rousseff (PT) segundo a última pesquisa Datafolha, Aécio Neves (PSDB) partiu para o ataque já no primeiro bloco, questionando a presidente sobre denúncias veiculadas na revista Veja. Já Dilma preferiu evitar o confronto, e questionou o adversário sobre temas mais favoráveis ao atual governo – como o Minha Casa Minha Vida e o Pronatec, de ensino técnico.

O debate ainda trouxe uma novidade: a participação de eleitores indecisos. Oito eleitores indecisos foram sorteados para apresentar suas questões aos candidatos. Foi um momento no qual os ataques, ainda que não acabassem completamente, deram mais espaço às propostas. Temas pouco abordados durante os outros debates, como as propostas para a Previdência e para o saneamento, foram trazidos pelos eleitores. A audiência do programa foi alta: 34 pontos no Ibope. No primeiro turno, o debate fez 20.

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Perguntas dos candidatos

Já na primeira pergunta, Aécio questionou Dilma sobre uma denúncia da revista Veja de que ela e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva saberiam de irregularidades que supostamente ocorreram na Petrobras. Aécio ainda acusou o PT de fazer "a mais sórdida campanha eleitoral da história".

Dilma disse que o veículo não possui provas e negou todas as acusações. "A revista Veja não apresenta nenhuma prova do que faz. Manifesto aqui minha inteira indignação. Essa revista tem o hábito de tentar um golpe eleitoral no final da campanha, já fez isso em campanhas anteriores", disse.

Aécio questionou, também, o empréstimo feito pelo BNDES para a construção do porto de Mariel, em Cuba. "Seu governo optou por financiar a construção de um porto em Cuba, enquanto nossos portos não recebem investimento", questionou, criticando, também, o fato de as cláusulas do contrato serem confidenciais.

A presidente ressaltou que o empréstimo foi feito à empresa que executa o projeto (a Odebrecht), e não para o governo cubano. "É necessário a gente parar e olhar com cautela essa questão do porto. Nós financiamos uma empresa brasileira que gerou emprego no Brasil, nos R$ 800 milhões contratados, geramos 156 mil empregos", disse.

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O tucano levou, ainda, o tema do mensalão para o centro do debate. "Não há nenhum brasileiro que não tenha uma opinião clara sobre o mensalão. Para a candidata Dilma Rousseff, o senhor José Dirceu foi punido adequadamente?", questionou. A candidata disse que os responsáveis pelo mensalão do PT foram condenados, mas que o tucano Eduardo Azeredo renunciou para evitar o processo. No entendimento de Aécio, a questão não foi respondida.

Dilma evitou partir para o ataque e falou pouco da gestão de Aécio no governo de Minas Gerais, ao contrário dos debates anteriores. Ela preferiu buscar o comparativo do seu governo com a gestão tucana na Presidência, perguntando sobre temas como a taxa de desemprego e programas de governo, como o Pronatec e o Minha Casa Minha Vida. Ela criticou, também, a suposta falta de planejamento do governo paulista para evitar a falta de água, e ainda citou o humorista José Simão, dizendo que São Paulo está a caminho do "Meu Banho, Minha Vida".

Reforma política

Tema de pouco destaque nos outros programas, a reforma política acabou sendo trazida para o debate pelo candidato tucano. Ele questionou as propostas de Dilma, que defendeu o fim das coligações e do financiamento empresarial de campanha, o voto proporcional em dois turnos – proposta defendida pelo Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE). O tucano, por sua vez, defendeu o voto distrital misto, o fim da reeleição e a manutenção do financiamento misto de campanhas, com limites mais restritos.

Metodologia

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A pesquisa citada foi feita pelo Datafolha com 9.910 eleitores em 399 municípios do país, nos dias 22 e 23 de outubro. A margem de erro é de dois pontos porcentuais. Registro no TSE: BR-01162/2014.