Análise
Eleitor que vai decidir a disputa é o que avalia a gestão como regular
Os eleitores que declaram que a gestão de Dilma Rousseff é regular em torno de um terço do total é que vão definir a continuidade ou não do ciclo petista no poder. "Quem diz que uma administração é ruim ou péssima, dificilmente vai votar na permanência ou apoiar o sucessor indicado. Por outro lado, o contingente de pessoas que diz que a administração é ótima ou boa aparece como um voto seguro", afirma o cientista político Carlos Ranulfo. Segundo o cientista político Fernando Antônio Azevedo, os processos eleitorais que permitem a reeleição funcionam como um plebiscito. "O eleitor vai julgar o governo atual e daí definir o voto. Na verdade, é um voto retrospectivo", diz. Para Ranulfo, esse aspecto reforça a "sabedoria" do eleitorado. "Por que o eleitor vota em um e não em outro? Não é porque, como disse o Fernando Henrique, é mal informado. É porque naqueles estados avalia o governo e acha que o governo foi bom. O eleitorado paulista tem uma visão diferenciada, mas cada um avalia conforme a circunstância em que vive, analisa o impacto da ação do governo na sua vida". (RF)
Além de não contar com o apoio de Marina Silva (PSB) no 2.º turno, a presidente Dilma Rousseff (PT) enfrenta um obstáculo ainda maior: conquistar votos em estados onde a avaliação do seu governo está em baixa. Ainda que os eleitores "marinistas" não migrem em peso para a candidatura de Aécio Neves (PSDB), o descontentamento da população com a gestão petista é um desafio para Dilma se reeleger.
INFOGRÁFICO: Veja as intenções de voto em cada estado
No 1.º turno, Dilma conquistou 41,59% dos votos válidos, contra 33,55% do tucano e 21,3% de Marina. Em 2010, os índices não foram tão diferentes: ela obteve 46,91%; José Serra (PSDB), 32,61%; e Marina, então no PV, 19,33%. Na disputa final, o placar foi de 56,05% a 43,95% contra Serra. Naquela ocasião, Marina se manteve neutra. Porém, a aprovação recorde conquistada pelo então presidente Lula (PT) pavimentou a vitória de sua candidata.
Agora, além de enfrentar a campanha tucana reforçada pelos apoios de Marina e da família de Eduardo Campos , Dilma precisa encarar seus defeitos, conforme a opinião do eleitorado. Que é bem crítica justamente no maior colégio eleitoral do país, São Paulo. No território paulista, Aécio saiu vencedor e as outras duas postulantes ficaram empatadas. No estado, 38% do eleitorado avaliou o governo federal como ruim ou péssimo no fim de setembro, segundo pesquisa Ibope. Bem acima do porcentual nacional, de 26%.
O possível trunfo de Dilma ainda é uma incógnita: o eleitorado de Pernambuco, que no 1.º turno optou por Marina e desdenhou da candidatura de Aécio. "Na véspera da eleição, Dilma apresentava popularidade acima da média no estado, mas concentrada no interior, enquanto sofria rejeição na capital. Marina venceu pela força do eduardismo, mas neste momento não é possível afirmar para onde vai o eleitor", diz o cientista político Adriano Oliveira, da Universidade Federal de Pernambuco.
Em Pernambuco, que tem 6,3 milhões de eleitores, a força do "lulismo" ainda é muito forte, afirma Oliveira. "Pode ser que, passado o 1.º turno, com a eleição para governador já definida, a lembrança de Lula volte a ficar mais forte, ajudando Dilma." Em 2010, ela bateu Serra por 75,6% a 24,3% no estado. "Principalmente no Agreste, há muitas obras do governo federal e o impacto dos programas sociais é grande. Se o quadro virar para o Aécio, implicaria no fim do petismo em Pernambuco, e isso seria um movimento bem drástico", acrescenta.
Opinião semelhante tem o cientista político Fernando Antônio Azevedo, da Universidade Federal de São Carlos. "A situação é realmente nebulosa em Pernambuco. A liderança e a morte de Eduardo Campos criaram um ambiente peculiar, que dividiu o eleitorado entre Marina e Dilma. Ainda não dá para saber se Marina terá capacidade de transferir votos para Aécio ou se o prestígio de Lula no estado falará mais alto."
Minas Gerais
Apesar de ter ficado em 2.º lugar em seu próprio reduto eleitoral, a tendência é que Aécio supere Dilma na etapa final da disputa no território mineiro, afirma o cientista político Carlos Ranulfo, coordenador do Centro de Estudos Legislativos da Universidade Federal de Minas Gerais. "A diferença entre os dois foi pequena, e a avaliação de Dilma está na média nacional. Mas, mesmo que o tucano se recupere em Minas, não é isso que fará a diferença, mas sim o desempenho dos dois em São Paulo", diz Ranulfo.
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