Se for eleito, qual a sua primeira ação?Uma auditoria nas contas e convocação dos aprovados em concurso para a área da Saúde e para a Defensoria Pública. São duas medidas que podem ser tomadas de imediato, sem depender de Assembleia Legislativa ou de outras questões. É o suficiente para suprir os leitos fechados nos hospitais regionais. O hospital de Ponta Grossa, por exemplo, tem só 30% dos leitos funcionando. E na Defensoria Pública tinha cinco vagas, tem cinco aprovados e o governo não chama. Outras medidas eu não consigo dizer, porque dependeria da correlação de forças na Assembleia Legislativa. A demanda da saúde aparece em todas as pesquisas como a primeira, e a demanda da Defensoria Pública está bem clara, tivemos três rebeliões [em presídios] em duas semanas.
Tradicionalmente a Assembleia é de maioria governista, mas nunca tivemos um governo de esquerda. Qual a sua expectativa?Certamente a gente não vai eleger a maioria na Assembleia, nem na hipótese de sermos vitoriosos. A gente aposta na participação popular para suprir isso, com apresentação dos projetos de maneira clara, mostrando por que eles são importantes. A gente acredita no convencimento da Assembleia, embora haja indícios do contrário. Caso a Assembleia se faça de morta, atravanque os processos, defenda os seus lobies e interesses pessoais, será preciso a boa e velha pressão, encher as galerias. É um pouco o processo que acontece onde o Psol tem prefeito e um pouco o que aconteceu em prefeituras do PT nos anos 80, em Fortaleza, São Paulo e Porto Alegre. É o processo mais difícil, mas é a única maneira de romper com o clientelismo que reina hoje entre Executivo e Legislativo. Quem vota no Psol vota contra o balcão de negócios. Não dá para chegar lá e continuar com esse balcão.
Você já disse que para 2015 não seria possível implantar o projeto. Como seria o primeiro ano?Um ano de planejamento do que o governo vai fazer, mas também já de ações. Quando um governo entra a população tem muitas expectativas, ainda mais em relação a um governo com um discurso radicalmente de oposição. Seria um momento de recompor a máquina pública e secretarias que hoje estão destinadas praticamente para cargos comissionados. Tem secretarias que têm mais cargos em comissão do que concursados. Seria momento de recompor uma equipe técnica para executar as ações de governo nos próximos anos. Mas também já de ações, como por exemplo chamar os aprovados em concurso, porque quem está na fila do hospital tem pressa. A gente não pode ser eleito para ficar dizendo que tem uma herança maldita. Certamente se a Gleisi [Hoffmann, candidata do PT ao governo] ou o [Roberto] Requião [candidato do PMDB] ganharem, vão falar isso por pelo menos três anos, que é o que o Beto Richa [governador e candidato à reeleição pelo PSDB] fez nos últimos quatro. É evidente que haverá uma herança da maldita, venha do Beto ou ganhando em outra oportunidade. Mas esse discurso a gente não compra.
Qual a política para empresas como a Copel e a Sanepar? O que fazer com a tarifa?Precisamos de empresas públicas com caráter público mesmo. A Copel está disputando edital para explorar o xisto a partir do método do fracking, que pode ter um grande impacto do ponto de vista ecológico. Certamente não é o interesse público que está orientando essa ação. Até porque, se a gente for olhar a produção de Itaipu, o Paraná não precisa de mais energia. Tem problema de linha de transmissão, tem outras questões, mas não de mais energia. Hoje a Copel e a Sanepar são empresas poluidoras. Tem a Secretaria do Meio Ambiente de um lado, Copel e Sanepar do outro, uma coisa dissociada da outra. Temos que integrar as ações. Não e só a discussão da tarifa: a tarifa é a ponta do problema. No governo Requião ele não se importou com as reivindicações de movimentos indígenas e quilombolas em relação à usina de Mauá, tratorou todo mundo e fez a usina. A tarifa é só a ponta do problema, Copel e Sanepar tomam outras ações que também são prejudiciais ao interesse coletivo.
Mesmo sendo a ponta do problema, qual seria a sua ação em relação à tarifa?Nós queremos congelar a tarifa. Mas me parece um pouco de bravata ficar dizendo que vamos congelar, porque temos que verificar bem o orçamento.
Setores da esquerda vêm defendendo a desmilitarização da polícia. Ao mesmo tempo, os candidatos prometem mais policiais na rua, pois é uma ideia que agrada à população. Qual seria a sua política em relação a isso?Estamos debatendo esse ponto por conta das manifestações do ano passado. A discussão da desmilitarização da polícia é antiga, tem uma discussão acadêmica sobre isso há 15 ou 20 anos, mas aparecia em alguns momentos. A partir do ano passado a discussão avançou e hoje a gente fala sem parecer que é uma coisa de maluco. Há setores da polícia e dos bombeiros que apoiam, especialmente os praças. É mais uma das pautas em que a nossa atuação na eleição tem um caráter pedagógico, de plantar sementes, de colocar um tema que pode avançar. De alguma maneira fizemos isso em 2008 com a tarifa zero [do transporte público]. Quando o Bruno [Meirinho, candidato do Psol à prefeitura de Curitiba em 2008 e 2012] defendeu tarifa zero em 2008 a gente foi ridicularizado. E hoje ninguém mais ri, pode ter gente que discorda. A desmilitarização da polícia é mais um desses temas. Em entrevista a uma rádio, um senhor ligou disse que não concordava com a desmilitarização, mas concordava com as propostas. Ele pode não saber, mas defende a desmilitarização.
Que propostas eram essas?Regulamentação da jornada, plano de carreira único, revisão do código de ética, que hoje é baseado no regime disciplinar do Exército, que vê a população como inimiga. Não é um bicho de sete cabeças. Hoje o praça avança e um tempo depois tem que fazer outro concurso. O oficial fica no quartel cuidando da burocracia e quem vai para a rua é o praça. E a regulamentação da jornada de trabalho de policiais e bombeiros. Hoje o policial faz 50 horas e o bombeiro faz 60. Não é indicado que profissionais que trabalham com segurança pública tenham essa carga de trabalho. E eles não ganham hora extra.
As campanhas do Psol são mais no sentido de plantar essas ideias?A experiência do PT mostra que não dá para ter atalhos na política. Quem tem atalho se desvirtua. Quem tem atalho está abraçado com o [José] Sarney. A Marina Silva [candidata do PSB à Presidência] está fazendo atalho e está abraçada com o [Jorge] Bornhauasen. Como se faz política sem o atalho? Com trabalho de base, de formiguinha. De longo prazo. Isso não nos impede de ter propostas concretas de gestão. E é claro que esse projeto, para ser fortalecido, precisa ser bem votado.
Quem financia a campanha do Psol?São doações de pessoas físicas e só uma pessoa jurídica, um escritório de advocacia. Não tem nenhuma doação de empreiteira, banco, do agronegócio, do lobby da saúde, da indústria farmacêutica. A Gleisi e Requião têm doações da indústria farmacêutica. O Psol tem doações pequenas, a gente tem uma postagem na internet, o "doe 50 para o 50". Tem muita gente que doou R$ 50. É uma campanha modesta, indo de busão. Também é a campanha que nos permite deitar no travesseiro e dormir tranquilos.
Há muitas semelhanças entre o discurso do Psol e o discurso do PT nos anos 80. E o PT acabou indo por um caminho que o Psol condena. Como evitar que o Psol, se chegar ao poder, siga esse caminho?Não há nenhuma garantia, não há 100% de imunidade. O que o Psol procura fazer: primeiro, não fazer na campanha aquilo que condena em um governo. Não tem cabo eleitoral pago, não tem dinheiro de empreiteira. Segundo: uma construção coletiva. Estamos na terceira eleição presidencial e é a terceira candidatura diferente [Heloísa Helena, Plínio de Arruda Sampaio e agora Luciana Genro]. Isso é para evitar que a gente tenha um líder supremo, como teve historicamente no PT. Em 2010 a Heloísa Helena defendia que o candidato não fosse o Plínio, ela perdeu a acatou. E estar sempre antenado com o que está acontecendo: o que aconteceu no ano passado [protestos em junho] sacudiu a gente, mas avaliamos que o Psol soube responder a essas demandas, entendeu o que foram as pessoas gritando "sem partido". Nós abrimos mão de levar bandeira aqui [nas manifestações]. Se as pessoas achavam que não é para levar um pedaço de pano... temos princípios, mas você deve saber trabalhar as demandas.
Sobre o socialismo com liberdade da sigla: existe, ou já existiu, algum modelo de socialismo com liberdade? Ou é apenas uma ideia?Existem experiências. E é uma ideia. Ou muda o modelo da sociedade ou a gente caminha para a barbárie, para a destruição ambiental sem critérios, para uma desigualdade cada vez maior. O socialismo hoje é mais uma negação, tanto das experiências capitalistas como de algumas das experiências socialistas, especialmente as do Leste europeu. Diria que hoje o socialismo é mais uma negação do que uma afirmação. Uma sociedade que garanta acesso à saúde e à educação, que não tenha machismo, homofobia, racismo. Isso para a gente é o socialismo com liberdade.
Mais ligado à garantia de direitos do que necessariamente a uma interferência maior do estado na economia?Para isso precisa ter o controle de áreas estratégicas, até para gerar recursos. Quando o Brasil tinha a Vale do Rio Doce ela gerava recursos para investir em outras áreas. Não adianta reivindicar 10% do PIB para a educação se não tem PIB. Mas não achamos que tem que estatizar padaria, mecânica, nada disso. O socialismo não é a estatização de tudo, isso é uma falsa visão. Algumas experiências acabaram rumando para isso. O capitalismo se consolidou ao se expandir para o mundo, o socialismo também precisa disso. Não existe socialismo num só país, num só município, num só bairro.
Nem em um só estado, como seria o governo do Psol no Paraná, lutando contra o modelo do restante do país?Não seria um governo socialista, seria um governo de recuperação da máquina pública, de reestruturação de algumas áreas, de ganhar a população para essa ideia. Governo é de quatro anos, a nossa ideia é para daqui a 30 ou 40. Um governo de quatro anos teria que ganhar as pessoas para essa ideia. Se fizesse isso, seria um governo vitorioso.
Você diz que é preciso apoio popular para fazer um governo de esquerda sem troca de favores, mas as pesquisas mostram que a população brasileira é majoritariamente conservadora. Não é paradoxal?Em parte, porque são difundidos mitos. O debate sobra a maconha é muito maldoso. O Fantástico passou uma reportagem sobre o uso maconha para fins medicinais, mostrou que a maconha pode evitar o Alzheimer. Depois perguntou se [os telespectadores] usariam o remédio, deu 96% a favor. Porque foi esclarecido. Quando há um debate real, sem mistificações, tem um impacto. Mas também temos como certo que o Psol só chega ao poder com um trabalho de base permanente, também em torno dessas pautas. Por isso é bom não ter grandes figuras, porque as pessoas estão votando em ideias.
Depois dos protestos de junho do ano passado, houve informações sobre uma possível ligação do Psol com os black blocs. Como você vê isso?Isso é calúnia, fruto do crescimento do partido. O nosso deputado [Marcelo Freixo, do Rio de Janeiro] é presidente da Comissão de Direitos Humanos [da Assembleia Legislativa do Rio]. É evidente que após as passeatas ele foi verificar se pessoas haviam sido presas, como aconteceu. É uma função institucional, é evidente que em algum momento ele se relacionou com black blocs.
Não houve ligação em nenhum momento durante as manifestações?Se você falar isso para um black bloc, ele quebra a sua vidraça. Se a gente gostasse da tática dos black blocs, a gente não disputaria eleições.
O candidato do PCB à Presidência, Mauro Iasi, disse no horário eleitoral que a proposta do partido é revolucionária. Isso não passa necessariamente por eleições. É também uma visão do Psol, ou o partido se dispõe apenas a disputar eleições?Se acontecesse uma convulsão social no Brasil, que encaminhasse um processo revolucionário, o Psol não seria contra. Mas entendemos que a disputa eleitoral deve ser feita. Não estou aqui para gritar que o socialismo é a melhor coisa do mundo, estou para dizer que é possível ter educação e saúde de qualidade. Isso ajuda. No ano que vem, quando tiver a Conferência Estadual de Saúde e disserem que a Escola de Saúde Pública tem que ser valorizada, a ideia já estará na cabeça das pessoas. Não pode só falar abstratamente sobre o socialismo.
Pautas como as de gênero e a liberação da maconha: tradicionalmente essas não eram pautas da esquerda, parte da esquerda era até contrária a certas condutas e pautas consideradas liberais. Na sua opinião, o que levou a esquerda a adotar esses temas?É bom que a esquerda tenha atualizado as suas pautas, dentro de princípio de crítica ao capitalismo. A ponto de entender que legalização da maconha vai diminuir a violência contra os mais pobres, que proibir o aborto significa jogar para o assassinato milhares de mulheres pobres. Há uma atualização da esquerda, até evitando a ortodoxia "se o Marx não falava sobre maconha, nós não podemos falar sobre isso". E por outro lado teve um esvaziamento de setores liberais que defendiam essas pautas. É uma atualização. E aconteceu muito a partir dos anos 60, do maio de 68. No Brasil representa o esvaziamento de setores liberais, que se aliaram a setores retrógrados. Essas pautas de costumes, que setores da direita poderiam defender, caem com exclusividade no colo da esquerda no Brasil -- como as pautas do bom senso. Tem a atualização da esquerda e o esvaziamento dessa pauta por parte dos liberais, e até por parte do pessoal mais libertário, que no início dos anos 80 foi para o PV.
O que um governo do Psol pode fazer em relação a essas pautas?A gente não pode legalizar o aborto, a gente poderia garantir o nome social em escolas e universidades. E dar um atendimento de saúde mais qualificado para essas pessoas. Pautas não tradicionais, que fogem do "saúde, segurança e educação". Cultura, esporte, abordar temas sobre indígenas. Melhorar o atendimento na Delegacia da Mulher, com mais horários.
Como você analisa o crescimento da direita e de movimentos conservadores?Acho que há grupos profissionais da direita de intervenção nas redes sociais. A defesa para que as pessoas que recebem o Bolsa Família não votem, por exemplo: não é possível que isso venha de maneira autônoma, pois não se reverte em votos, eles não vão para a passeata. Convocaram uma e foi um fracasso. A ascensão conversadora é fruto de uma esquerda que não disse seu nome. Quando a Gleisi [Hoffmann] fala que não tem indígenas no Paraná, um cara do agronegócio fala "estou liberado para barbarizar os indígenas". O mesmo quando a Dilma fala que não vai ter mais kit antihomofobia. É o vácuo deixado pelo governo do PT, pela despolitização que o PT fez na sociedade brasileira. Quando chegou lá [à Presidência], o Lula falou "não tem esquerda e direita, somos todos a favor do Brasil". Esse discurso que a Marina [Silva, candidata do PSB à Presidência] faz hoje o PT fez em 2002. O PT critica agora, mas a Marina é fruto disso. Não foram pelo caminho mais difícil, foi pela trilha mais fácil.
Qual a causa dessa fragmentação à esquerda do PT? PCO, PSol, PSTU e PCB têm candidatos a presidente. A divergência é assim tão grande?Não há divergências tão grandes, há táticas diferentes, que pesam muito no momento da definição. Avaliações do que aconteceu no ano passado, de como trabalhar nas eleições. No Paraná isso inviabilizou uma aliança. Chegamos a discutir uma aliança com PSTU e PCB. Mas a gente não gosta muito de falar mal do PSTU e do PCB. Tem outros tantos pra gente criticar.
A principal meta da campanha do Psol no Paraná é eleger um deputado?A democracia ganha com um deputado estadual do Psol. O Psol defende que CPIs investiguem, que não se vote em coleguinha para o Tribunal de Contas, que não tenha auxílio-moradia para os juizes. Não são bandeiras socialistas e revolucionárias, são medidas republicanas. O Marechal Floriano e o Rui Barbosa seriam a favor. Se o Beto Richa ganhar a eleição, o PT vai fazer isso; se a Gleisi ganhar, o PT não vai fazer isso. É como na Câmara Municipal Curitiba: o projeto mais cretino aprovado pela Câmara é do Jony Stica (PT), de cobrar as pessoas por obras públicas. Era um bom vereador na oposição. A garantia de que vai ter um deputado de oposição é o Psol.
O Paraná é um estado onde predominam a agricultura e o agronegócio. Como seria um governo do Psol nesse contexto?O Paraná precisa deixar de ser o Paraná celeiro para o ser o Paraná alimentador. A gente exporta couro para comprar sapato, exporta soja para alimentar o gado na China. Embora sejamos um estado do agronegócio, também somos um estado de luta pela reforma agrária. Teve a Guerra do Contestado, a Guerrilha de Porecatu, aqui foi fundado o MST. Tenho ido bastante ao interior, as cidades com assentamentos foram esvaziadas. Têm comida de melhor qualidade, menos uso de agrotóxico e desenvolvimento do comércio local. As Casas Bahia amam o MST. [As pessoas] deixaram ir para a periferia das cidades. É importante dizer: ou o Estado muda isso por opção política ou ele vai mudar por opção física, geográfica. Porque o plantio da soja e só da soja esgota o solo. O planto do pinus e só do pinus esgota o solo. Essa é a maior sacanagem da Araupel, está deixando de ter reforma agrária para plantar pinus. Só no pedaço onde já foi feita a reforma agrária estão morando 5,5 mil famílias. Uma mudança política será com planejamento e terá menos impacto social.
As tarifas do transporte público ainda são altas, apesar do recuo depois dos protestos do ano passado. O que o governador pode fazer por isso, qual a sua posição sobre o subsídio?O transporte é o direito dos direitos. No Hospital de Clínicas tem gente que deixa de ir ao fisioterapeuta porque não tem dinheiro para a passagem. O não direito ao transporte impede o acesso à saúde. Mas não dá para o governo estadual dar dinheiro para contratos irregulares. Em um governo do Psol só teria subsídio para cidades onde o contrato está regular. Certamente Curitiba não receberia.
Mas em Curitiba teve licitação.Mas há diversos apontamentos do Tribunal de Contas do Paraná, da CPI [da Câmara Municipal de Curitiba] e até de comissão até interna da Urbs dizendo que há irregularidades. Nesse caso não deveria receber subsídio, a prefeitura tem que tomar um lado nessa história. A prefeitura tem todos os indícios para queimar esse contrato e não queima sabe-se lá por quê. Teria que ter essa orientação ao municípios: façam uma auditoria, verifiquem os seus contratos, nós [o governo] só podemos ajudar contratos regulares. Outro ponto é melhorar o transporte intermunicipal no interior. Ele é totalmente privado e não controlado. Ônibus de quatro empresas chegam a Campo Mourão, três são do mesmo dono. Para ir a Umuarama tem dois dois horários por dia. Defendemos uma empresa pública de transporte no interior, também na perspectiva de gerar desenvolvimento. Hoje, Londrina tem mais ligação com Curitiba do que com Paranavaí. Não precisaria estatizar as empresas privadas, teria uma empresa pública com mais horários. Seria uma briga permanente, porque as empresas privadas são financiadoras de campanha.
O que fazer em relação ao pedágio?Auditoria. Tenho certeza que tem irregularidades nesses contratos. As estadas são ruins. Até Cascavel é praticamente só pista simples na estrada que traz a produção inteira do Mato Grosso do Sul até o Porto de Paranaguá.
Na sua opinião, por que o governo anterior e o atual não fizeram uma auditoria?Porque têm o interesse em manter o pedágio. Porque tem dinheiro de pedágio na campanha, tem dono de pedágio nas campanhas. Esse ano está mais claro ainda.
E em relação à dívida do estado?Entra na ideia da auditoria. Para ver de onde vem essa dívida, qual a composição dela, o que dela é legal e ilegal. Tem uma experiência do Equador, 40% da dívida era ilegal. A dívida brasileira já teve uma CPI na Câmara dos Deputados que também apontou uma série de ilegalidades.
Qual a sua proposta para a saúde?O que cabe ao estado são os hospitais regionais. Defendemos um aumento dessa rede, um investimento maior na Escola de Saúde Pública do Paraná, para uma formação mais adequada ao SUS. Hoje os profissionais são formados com uma visão de saúde privada e uma visão individual da saúde. Temos uma série de deficiências e nós como governo não teremos condições de mudar os parâmetros curriculares nacionais, é uma discussão que remete ao governo federal. A gente teria uma indústria farmacêutica do estado. O estado gasta muito comprando remédios, tem comprimido que custa 10 mil. Já tem hoje produções experimentais nas universidades estaduais, nos cursos de Farmácia e Química. Defendemos também o esvaziamento da Fundação (Fundação Estatal de Atenção em Saúde do Paraná, a Funeas, criada pelo governo estado) e não usar a fundação aprovada pelo Beto Richa. Em Curitiba a gente teria dificuldades, mas no interior é possível contratar pela administração direta. Tem ainda o parto humanizado e a questão da violência obstétrica. É um limbo na legislação, não está claro se é atribuição do estado, do município ou federal. A gente poderia assumir essa parte.
Em relação à educação, o Paraná teve uma queda acentuada no Ideb. Como reverter isso?Temos duas frentes, uma pauta mais característica dos trabalhadores e do movimento sindical, com melhores salários, plano de carreira e contra as terceirizações, e pautas de concepção. Na pauta da valorização: pagar o piso, entender o piso como piso e não como teto, valorizar os funcionários e não só os professores. E redução de alunos por sala de aula. Na frente da concepção: a escola hoje é vista hoje como uma obrigação. É preciso ter cultura e lazer mais próximos da realidade das pessoas. A gente tem conteúdos que estão muito longe da nossa realidade e a escola está muito distante da realidade dos alunos. Na educação superior a autonomia universitária é o fundamento de tudo. Precisa ter financiamento. A gente quer vincular uma parte da arrecadação do ICMS para as universidades. Assim como tem os 12% do orçamento para a saúde, embora o governador não cumpra. Outro mecanismo seria um plano estadual de assistência estudantil, para garantir que quem entra permanece. É uma garantia de que o aluno com bolsa terá moradia, almoço no restaurante universitário. O cara se mata de estudar para passar no vestibular, passa em uma faculdade pública e depois descobre que não é tão gratuito assim, porque o curso de Odontologia que custa R$ 2 mil por semestre.
Se somar tudo isso, tem custos. De onde vem o dinheiro? Primeiro vamos fazer uma auditoria, ver onde está o dinheiro do estado. Somos o 5º PIB do Brasil. Nada que eu apresento é exagerado, é tudo coisa de bom senso. Só que hoje o bom senso é radical. Defender que as pessoas entrem na universidade e permaneçam até o fim é bom senso. Não é nada demais, mas hoje é surreal. Nós não precisamos de alguém que vá para o governo para assinar o choque, se fosse assim teria concurso público. Precisamos de um cara que chegue lá e tenha vontade, que vá atrás se não tiver dinheiro, que discuta com a sociedade se vai aumentar o tributo. Certamente isso tudo tem um custo maior, mas também tem um retorno. E também precisamos cortar excessos. Hoje temos setores econômicos beneficiados pelo programa Paraná Competitivo e pela Fomento Paraná que não de precisam de benefícios. Não precisa ter fomento para hamburgueria. Certamente não é uma demanda da sociedade.
Você construiria mais presídios?É preciso mudar a concepção e o modelo. A gente assume várias bandeiras da Comissão de Direitos Humanos da OAB em torno da questão de pernas alternativas e de verificar os presos que já podem ser soltos. É preciso ter presídios menores, mais casas de convivência do que presídios. Jogar muita gente em um lugar não vai resolver o problema, só gera situações bárbaras. O cara que foi pego fumando um baseado está preso junto com um cara que é assassino de 30 pessoas. São rebeliões seguidas, depois você descobre que cabiam 100 e no lugar estavam 400, que tinha rato na comida. É óbvio que vai ter rebelião. A Defensoria Pública é muito importante. Se a Defensoria Pública não fornece advogado, o PCC [o grupo criminoso Primeiro Comando da Capital] fornece. Quem não faz Defensoria Pública está sendo conivente com a atuação do PCC. Beto Richa e Requião são coniventes. Não tem "não advogado", o preso arranja um advogado.
Qual a sua opinião sobre os candidatos Beto Richa, Roberto Requião e Gleisi Hoffmann?São três marcas de um produto igual. Têm suas nuances, mas representam o mesmo projeto, baseado em uma política de balcão de negócios, em ser vassalo dos seus financiadores de campanha, em fazer campanha baseada no pagamento de cabos eleitorais. Eles mantêm um método muito semelhante. Na essência, significam a manutenção de um projeto que está no poder há pelo menos 30 anos.
Você apareceu pouco até agora no horário eleitoral. Haverá mudanças?Primeiro a gente entendeu que era importante chamar a atenção. Os programas eleitorais não são vistos, é pouco tempo e ninguém repara. Primeiro nós criamos a curiosidade. Porque os caras [os outros candidatos] gastam milhões para mostrar personagens de mentira. Agora vai entrar na fase propositiva. É uma inversão das outras campanhas: todo mundo mostrou o rosto até agora, eu apareci muito pouco. Quando todos os rostos estão cansando, nós estamos entrando. A gente espera entrar em um vácuo de espaço político.
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