Análise
"Ameaça" de Marina antecipou debate
Geralmente reservados ao 2º turno, os discursos mais duros entre os candidatos foram antecipados para o primeiro "desde que Marina Silva substituiu [Eduardo] Campos e se apresentou como uma ameaça". É o que explica a doutora em Ciência Política Luciana Panke, da UFPR. Ela lembra que "todo o cenário eleitoral esteve tenso desde o começo: manifestações, Copa, crise na economia mundial e, depois, a morte de Eduardo Campos. Acho que esses fatores podem explicar um pouco esse clima nas eleições, e todos eles deram munição para a oposição". Para Luciana, não há um motivo único para Marina ter caído nas pesquisas após ameaçar o primeiro lugar de Dilma, mas "a dúvida que se criou ao redor do seu nome pesou bastante, em especial em relação a comportamentos associados à indecisão e à influência evangélica". Por outro lado, a candidata adotou um discurso "com muitas críticas ao governo" e tentou se posicionar quase como alternativa ao PT e PSDB.
Tudo indicava mais uma polarização entre PT e PSDB, como nas últimas cinco eleições presidenciais. À exceção da campanha de 1989, quando Lula e Brizola disputaram voto a voto o direito de ir ao segundo turno na primeira votação direta após a ditadura militar, vencida por Fernando Collor, nas eleições seguintes, candidatos de dois partidos polarizaram a disputa. A morte trágica de Eduardo Campos (PSB) em acidente aéreo em 13 de agosto deste ano, porém, mudou o rumo da atual corrida presidencial e o humor dos candidatos.
Assim que Marina Silva (PSB), substituta de Campos, surgiu como forte concorrente, o tom da campanha subiu e a troca de farpas se intensificou. Estado laico, casamento homoafetivo, pré-sal, experiência administrativa e até a CPMF (Contribuição Provisória Sobre Movimentação Financeira), extinta há quase sete anos, se transformaram em munição entre os candidatos.
"Um presidente não pode mentir. Isso é desvio de caráter", disparou Dilma Rousseff (PT), em atividade de campanha no Rio de Janeiro, sobre o fato de Marina ter dito, em debate na Band, que votou a favor da criação da CPMF, mesmo contra a orientação do PT, seu partido à época. A candidata pessebista usou o argumento para afirmar que não faz "oposição por oposição". O tema chegou ao programa eleitoral de Dilma. A resposta de Marina veio no mesmo tom: "O PT distorce a realidade e mente sobre a questão da CPMF".
A primeira grande polêmica da candidata do PSB se deu na divulgação do programa de governo do partido. Inicialmente, a proposta apoiava o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Dois dias depois, pressionada por aliados evangélicos, Marina recuou, disse que houve erro na divulgação e decidiu "garantir os direitos oriundos da união civil entre pessoas do mesmo sexo". Desta vez, a mudança provocou críticas de Aécio Neves (PSDB): "Nosso plano não virá a lápis. Virá à caneta", declarou.
Alvo comum do tucano e da petista, Marina foi criticada também por seu suposto posicionamento contrário à exploração do pré-sal. Na propaganda eleitoral, Dilma criticou o programa de governo da adversária por trazer apenas "uma linha" sobre o tema em 250 páginas. Marina defende fontes energéticas alternativas, apesar de afirmar não ser possível abrir mão de combustíveis fósseis. Também no horário eleitoral, Aécio classificou Marina como inexperiente: "Sem força política, as mudanças que você deseja não acontecem", afirmou.
O último encontro entre os candidatos foi na quinta-feira, dia 2, no debate da Globo, quando as acusações mútuas continuaram. Resultado da intensa troca de farpas ou não, o fato é que o sobe e desce entre os três principais candidatos ao Palácio do Planalto marcou a campanha.
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