Irritado com o recuo no programa de governo de Marina Silva (PSB) voltado aos gays, o secretário nacional do partido para o segmento LGBT, Luciano Freitas, deixou a campanha da candidata. Em compensação, o pastor Silas Malafaia, líder da igreja evangélica Assembleia de Deus Vitória em Cristo, anunciou ontem que apoia a candidata em um eventual segundo turno.
Oficialmente, Malafaia está na campanha de Pastor Everaldo (PSC). Mas, como Marina é evangélica e estaria "roubando" votos de Everaldo, lideranças religiosas passaram ontem a defender abertamente a desistência do candidato do PSC para passar a apoiar Marina já no primeiro turno. Foi o caso do deputado federal Marco Feliciano (PSC-SP), que disse que vai sugerir ao colega de partido que desista da candidatura para apoiar Marina. Segundo ele, isso evitaria a divisão do eleitorado cristão.
O programa de Marina, lançado na sexta-feira, defendia o "casamento" gay. Menos de 24 horas depois, foi retificado apoiando a "união civil" de pessoas do mesmo sexo. Grupos religiosos consideram a distinção importante porque, em seu entendimento, "casamento" seria a união entre homem e mulher. Na noite de segunda-feira, em entrevista ao Jornal da Globo, Marina pessoalmente disse ser favorável à união civil e não ao casamento entre homossexuais. A mudança de postura atendeu ao segmento evangélico, mas desagradou os defensores dos direitos da comunidade LGBT.
Reação de Dilma
A polêmica envolvendo o assunto acabou chegando à campanha da presidente Dilma Rousseff (PT), que tentou agradar tanto aos religiosos quanto aos homossexuais. A petista defendeu ontem a criminalização da homofobia. Segundo ela, o tema não está relacionado à crença religiosa ou a opção partidária.
Por outro lado, para agradar aos evangélicos, Dilma anunciou que irá determinar que seja dado regime de urgência ao projeto de lei que concede diversos benefícios às instituições religiosas, entre eles a isenção tributária. Hoje, apenas a Igreja Católica tem direito aos benefícios. O projeto foi apresentado em 2009 e estava engavetado no Senado desde o ano passado.
O deputado Beto Albuquerque (PSB-RS), candidato a vice na chapa de Marina, ironizou a ofensiva do governo para colocar em votação a chamada Lei Geral das Religiões. "Tem que perguntar por que o governo está tendo um choque espiritual a três meses de acabar o seu governo", afirmou.
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