"Senti que ela estava firme, apesar do sofrimento", diz Simon
Mentor da parceria entre Eduardo Campos e Marina Silva, o senador Pedro Simon (PMDB-RS) defende que a ex-senadora assuma a candidatura a presidente. Em entrevista à Gazeta do Povo, o gaúcho explica como juntou os dois e como está trabalhando por Marina.
De onde surgiu a ideia de juntar Eduardo e Marina?
Foi quando recebi a informação de que a Justiça Eleitoral tinha negado o registro do partido da Marina [Rede Sustentabilidade, em outubro de 2013]. Achei um absurdo. Entre 30 e tantos partidos que nós temos, a grande maioria representando apenas meia-dúzia de pessoas, era absolutamente normal que a Rede saísse do papel. Não se trata de um partido da Marina, é o partido de um projeto que fez 20 milhões de votos em 2010.
Como foi a aproximação?
Ela estava na angústia de estar a dois, três dias de tomar uma decisão, que envolvia vários outros aliados. Cheguei à conclusão de que era sensato fazer uma aproximação dela com o Eduardo Campos. Então o primeiro passo foi acionar o Jarbas Vasconcellos [senador pelo PMDB-PE], que entrou em contato com o Eduardo. No dia seguinte, Eduardo e Marina estavam tomando café da manhã juntos em Brasília. Acertaram-se na mesma hora.
Por que deu certo?
O Eduardo era o grande nome do momento e o PSB é um partido que tem história. Muito diferente desses partidos pequenos que haviam sido criados de última hora e que estavam tentando atraí-la. Era a melhor opção não só para Marina, mas para o Brasil.
A candidatura de Marina é a única saída?
É o que eu defendo, mas a palavra está primeiro com o PSB. Da parte dela, conversamos ontem [quarta-feira] à noite. Senti que ela estava muito firme, apesar do sofrimento. Marina é uma mulher religiosa, que está passando por um momento de oração, de reflexão. Mas eu senti que ela não estava acabrunhada, muito pelo contrário.
O senhor vai trabalhar para que ela seja candidata?
Eu já comecei a falar com o pessoal do PSB. Acho realmente que ela é a grande saída para o partido.
Pesa o fato de ela estar somente "de passagem" pelo partido até a criação em definitivo da Rede?
Agora nós estamos diante de um fato completamente novo, uma possibilidade inclusive de um relacionamento mais profundo. O fato é que ninguém no partido vai ocupar o lugar do Eduardo Campos. Vai ser uma aliança em outros termos. Ou todos se unem como uma terceira opção para acabar com esse fisiologismo, esse toma lá dá cá, ou se perde a oportunidade. Acho que o pessoal do PSB está disposto a aceitar, mas esse é só o meu palpite.
Encorpada pelo apoio do único irmão de Eduardo Campos e de diversas lideranças políticas nacionais, a possível candidatura a presidente de Marina Silva terá de passar por um acerto de contas com o PSB. O partido comandado por Campos até a morte no acidente aéreo de quarta-feira ainda é a casa temporária de Marina. A transitoriedade do acordo fechado pelos dois duraria até que o partido construído pela ex-senadora, a Rede Sustentabilidade, seja reconhecido pela Justiça Eleitoral.
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INFOGRÁFICO: Dilemas na trajetória da possível candidatura de Marina Silva
Se a negociação continuar nos mesmos termos e a ambientalista ocupar o posto deixado pelo pernambucano, o PSB poderia até ganhar a eleição, mas não exerceria a Presidência. Além disso, há temores de que Marina possa rever alianças estaduais costuradas por Campos. Ela não aprovou as coligações com o PSDB em São Paulo e no Paraná e com o PT no Rio de Janeiro.
O anúncio oficial da decisão sobre o substituto de Campos só deve ser feito após o funeral, que pode durar até domingo. As reuniões entre os principais nomes do PSB começaram ontem, em São Paulo. Na saída, o deputado federal e presidente do Conselho de Ética da Câmara, Júlio Delgado, disse que Campos gostaria de ver Marina candidata nenhum outro dirigente, contudo, foi explícito sobre um posicionamento oficial.
O gesto mais significativo partiu de Antonio Campos, irmão de Eduardo. "Como filiado ao PSB, membro do diretório nacional com direito a voto, neto mais velho vivo de Miguel Arraes, presidente do Instituto Miguel Arraes e único irmão de Eduardo, que sempre o acompanhou em sua trajetória, externo a minha posição de que Marina Silva deve encabeçar a chapa presidencial", diz o texto.
Somaram-se no apoio a ex-senadora nomes de partidos de fora da coligação (formada por PSB, PPS, PHS, PRP, PPL e PSL), como os senadores Pedro Simon (PMDB-RS) e Cristovam Buarque (PDT-RS). Em entrevista à Gazeta do Povo, Simon afirmou que Marina é "a grande saída para o PSB" e que está conversando com membros do partido para que a decisão seja consolidada. O gaúcho foi o responsável pela aproximação entre Campos e Marina, em outubro do ano passado.
Outras opções
Um dos problemas do PSB caso Marina não assuma a candidatura é a falta de outras opções. Ao longo dos últimos anos, Campos se consolidou como nome central do partido, mas com poucas sombras. Políticos tradicionais como os irmãos Cid e Ciro Gomes deixaram a legenda por não concordar com o afastamento do PT (ambos migraram para o Pros no final do ano passado).
Na linha sucessória, o presidente do partido é o cearense Roberto Amaral, ex-ministro de Ciência e Tecnologia no governo Lula, mas sem expressão eleitoral. Também estão na cúpula Júlio Delgado (MG), o líder do partido na Câmara, Beto Albuquerque (RS), e o senador Rodrigo Rollemberg (DF). Dos demais partidos da coligação, o nome mais forte é o presidente do PPS e deputado federal Roberto Freire (SP).
Dentre eles, Delgado e Freire são os mais cotados para assumir a candidatura a vice. O primeiro, pela atuação no Conselho de Ética e em Minas Gerais, onde o pai é candidato a governador. Apesar de eleito por São Paulo, Freire é pernambucano, como Campos, e carrega a experiência de ter sido candidato a presidente pelo PCB, em 1989.
Freire quer coligação com o mesmo ideal
Agência Estado
O presidente nacional do PPS, deputado Roberto Freire (SP), defendeu ontem que o nome escolhido pela coligação para comandar o projeto presidencial liderado por Eduardo Campos deve assumir os mesmos compromissos do socialista. "A Marina [Silva] ou qualquer outro dirigente do PSB tem de entender que, quando Eduardo fez essa opção [de se lançar candidato], ele se colocou como uma alternativa ao que aí está e não para ser uma sublegenda de quem quer que seja", disse.
Para Freire, o objetivo da aliança é garantir um segundo turno nas eleições a fim de tentar, juntamente com a oposição, a derrota do projeto liderado por Lula e pelo PT. "A candidatura de Campos era fundamental para isso", afirmou.
O líder do PPS não quis afirmar se Marina, até agora vice, seria a substituta natural para conduzir a chapa. Disse que "provavelmente" vai haver uma predisposição de Marina para conversar sobre a indicação após o enterro do socialista. Pela legislação eleitoral, a coligação o dia 23 para escolher uma nova chapa.