Paraná, 82,3% dizem ser brancos
O Paraná repete o cenário eleitoral brasileiro: o candidato mais comum é homem, branco e empresário. A grande disparidade em relação à média nacional é observada na declaração de raça e cor da pele. Enquanto no Brasil 55,1% dos candidatos declararam ser brancos, no Paraná o índice sobe para 82,3%. O porcentual é maior que o número de pessoas que declararam ser brancas no estado no Censo 2010: 70,3%.
Só 6,3% dos candidatos registrados no estado para as eleições deste ano declaram ser pretos (total de 75), enquanto 11,3% disseram ser pardos (134) e apenas 0,2% disseram ser indígenas (dois candidatos). Os diplomados também são maioria no Paraná: 49,9% em 2010 eram 51,1%.
O candidato mais comum nas eleições deste ano é homem, branco, empresário, tem entre 45 e 49 anos e curso superior completo. Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o perfil médio dos candidatos não sofreu alterações significativas em relação às últimas eleições: negros e mulheres ainda são minoria quando o assunto é a busca por uma vaga no Executivo ou no Legislativo.
INFOGRÁFICO: Veja o perfil dos candidatos
A participação das mulheres teve um pequeno avanço em relação à eleição de 2010, mas o equilíbrio ainda está distante. Segundo o Censo 2010 do IBGE, as mulheres são 51% da população brasileira, mas apenas 30,5% das vagas para candidatos nas eleições deste ano são ocupadas pelo sexo feminino eram 22,4% há quatro anos. Antes do prazo final para a homologação das candidaturas, na próxima terça-feira, a maioria dos partidos e coligações do Paraná não havia cumprido a cota mínima de 30% de mulheres nas candidaturas.
O grau de escolaridade mais citado pelos candidatos foi curso superior completo. Neste ano, muitos declararam que são deputados (4%) e vereadores (4%). Quanto à cor da pele, 55% dos candidatos se declararam brancos no país. No Paraná, o índice foi de 82%.
Os números mostram que o perfil dos candidatos é bem diferente do perfil dos eleitores. Segundo o TSE, 52,1% do eleitorado brasileiro é formado por mulheres (total de 68,1 milhões de eleitores). Além disso, a maioria dos aptos a votar em outubro não tem curso superior completo: 30,2% (43,1 milhões de pessoas) declaram que possuem o ensino fundamental incompleto. Só 5,6% (8 milhões de eleitores) disseram ter curso superior completo.
Vício e bloqueio
Para o cientista político e professor de Sociologia da Universidade do Norte do Paraná (Unopar) Marco Rossi, os dados do TSE mostram que o sistema político tem uma espécie de "bloqueio" aos avanços verificados em outros setores. "Não é porque a sociedade não tem mudado. Se pegarmos os últimos 30 anos, há mais mulheres e negros em escolas, empresas e alguns espaços públicos. Há uma ascensão das classes C e D para espaços de debate e para o consumo. Essa mudança na sociedade civil não se estende até a sociedade política, pelo fato de a sociedade política ser bloqueada a essa mudança", afirma.
Esse bloqueio, segundo Rossi, pode ser explicado em parte por uma espécie de "vício" do eleitorado. "Os partidos são estruturados de forma viciada, com caciques regionais e mandatos para filhos e netos. Há um fechamento para novas mentalidades", diz.
Política de gravata
O cientista político Doacir Quadros avalia que os dados das eleições deste ano reforçam as características da política brasileira. "É a política de gravata, com uma sub-representação das mulheres no Legislativo e no Executivo. Isso também repercute internamente nos partidos: por mais que uma lei os obrigue a reservar pelo menos 30% das vagas para as mulheres, eles não conseguem atingir esse porcentual mínimo", diz o professor de Ciência Política do grupo Uninter.
Para Quadros, o maior número de candidatos com curso superior completo reforça esta tese. "A política brasileira sempre foi caracterizada por representantes com ensino superior. Quanto mais democrática uma sociedade, maiores as possibilidades para todos os cidadãos disputarem um cargo público. O critério é o voto, não o partido, o sexo ou o grau de instrução", diz.
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