Fenômeno é consequência da fragilidade do sistema político
Cientistas políticos ouvidos pela Gazeta do Povo dizem que o fenômeno dos candidatos laranjas nas eleições são decorrentes da fragilidade do sistema político brasileiro. "Os partidos no Brasil são muito fracos, têm donos. O partido passa a ter um registro e a ser dono de horário eleitoral, isso tudo é tratado como uma moeda", analisa o professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) Mário Sérgio Lepre. "A política é um jogo de interesses, mas a negociata é algo nefasto. Os partidos deviam ter uma formação mais política, mas enraizada, que atendesse aos interesses públicos."
Ricardo Oliveira, cientista político e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), também avalia que as candidaturas de laranjas decorrem da fragilidade do modelo. "Isso ocorre com legendas nanicas, sem base social. Muitas vezes esses candidatos caem de paraquedas no processo eleitoral, saem de uma profissão com a única intenção de atacar outra candidatura. "O Brasil tem muitos partidos que são apenas agremiações para negócios e negociatas, controlados por famílias."
Oliveira lembra que no Paraná praticamente todas as eleições têm candidatos laranjas. "Nessa eleição para o governo do Paraná, como foi nas últimas eleições para a prefeitura de Curitiba, temos visto laranjas nas candidaturas majoritárias. É preciso analisar a trajetória (do candidato), ver quem é quem e o que ele faz com a sua campanha nanica." O cientista político avalia que o efeito muitas vezes não é o espero pelos criadores da estratégia. "Só gera rejeição e não promove o efeito esperado. É uma subpolítica. É o lado exótico, quando não cômico, de uma eleição." (JML)
Eles estão em todas as eleições, ainda que seja difícil identificá-los. São os famosos "laranjas", nomes desconhecidos do eleitorado e sem chances de eleição, mas que são lançados para servir a candidaturas mais fortes. Geralmente são eles que fazem o "serviço sujo" durante a campanha eleitoral, com críticas mais pesadas e denúncias contra adversários. Também podem ser os protagonistas de batalhas jurídicas nos bastidores ou atuar como meros "agregadores de votos" para um determinado partido ou coligação nas eleições proporcionais.
Segundo especialistas, vários aspectos podem caracterizar a "laranjice" eleitoral. O mais comum é a agressividade: candidatos a cargos majoritários que atacam constantemente algum dos principais concorrentes podem estar a serviço de outro. Mas há também o "laranja jurídico", que entra com ações na Justiça para impedir a divulgação de materiais de campanha ou pesquisas; e o "laranja legislativo", utilizado pelos partidos para preencher cotas ou tentar aumentar o número de votos na legenda.
"Laranja é o candidato que está a serviço de outro", define o diretor do instituto Paraná Pesquisas, Murilo Hidalgo. "Não é algo moderno. O eleitor demora um tempo para perceber quem são os laranjas, mas com o tempo ele descobre." Para Hidalgo, quando a crítica ou a denúncia são consistentes, não é preciso utilizar um laranja. "Quando o candidato fala a verdade não há uma percepção de que está 'batendo' no outro, o duro é quando cria factoides. Esse é o papel do laranja, porque bater nunca é bom."
Toma lá dá cá
Apesar da dificuldade para caracterizar um laranja e de comprovar os acordos, nos bastidores da política são comuns os comentários sobre a troca de favores: um candidato menos cotado que aceita "trabalhar" para outro com chances de vitória pode ser contemplado com um cargo na futura administração. "Se o candidato parceiro foi eleito, o laranja pode ser contemplado com cargo ou algo assim", afirma o cientista político Doacir Quadros, professor de Ciência Polícia do grupo Uninter.
Para Quadros, a possibilidade de o eleitor identificar os laranjas majoritários é maior do que a chance de os laranjas das eleições proporcionais serem descobertos. "Nas majoritárias é mais visível, porque o laranja passa a ser extremamente agressivo, e o que tem se observado é que o eleitorado se incomoda muito com isso. Por outro lado, o candidato emparelhado com o laranja fica com uma imagem positiva", avalia. "Na eleição proporcional, o eleitor tem mais dificuldade para identificar, porque a quantidade de candidatos é maior."
Para o cientista político e professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) Mário Sérgio Lepre, a melhor maneira de identificar os laranjas é observar os candidatos que atacam constantemente uma determinada candidatura. "O laranja é um indivíduo que está a serviço de outro, mas é difícil apontar exatamente. A não ser que comece a atacar especialmente um dos adversários. Em alguns casos, é perceptível que ele atua em uma linha auxiliar de outra candidatura e ataca adversários."
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