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O ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB-PE), que estava em helicóptero que caiu em Santos nesta quarta-feira, voltava do Rio de Janeiro, onde foi entrevistado na noite de terça-feira pelo "Jornal Nacional" e pelo "Jornal das Dez", da Globo News.

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Em sua última fala da entrevista, Campos se mostrou otimista e disse acreditar que "o Brasil tem jeito". Ao longo da conversa, o socialista criticou a política econômica da presidente Dilma Rousseff (PT), dizendo que ela está "guardando na gaveta" os aumentos do preço da energia e do combustível, e defendeu o diálogo para lidar com as possíveis contradições existentes em sua chapa, que tem como vice a ex-senadora Marina Silva, que sempre se mostrou publicamente contra o agronegócio, por exemplo.

Campos também foi perguntado se considerava ético, e se não configurava um caso de nepotismo, o comportamento que teve ao articular nos bastidores a eleição de sua mãe, Ana Arraes, para ministra do TCU. Ele negou que tenha atuado para a nomeação de sua mãe para o cargo. O candidato, que aparecia em terceiro nas pesquisas de intenções de voto, defendeu uma reforma específica no país para o Judiciário, com o fim dos cargos vitalícios. Quando perguntado sobre a possibilidade de advertir o eleitor para o fato de que 2015 será um ano difícil, de cortes no orçamento, Campos criticou a condução da política econômica petista.

Confira, abaixo, a íntegra da entrevista que Eduardo Campos concedeu ao "Jornal Nacional" nesta terça-feira:

JN: Candidato, vamos começar a entrevista com a lista de alguma promessas que o senhor já fez, eu anotei algumas delas: escola em tempo integral, passe livre para estudantes do ensino público, aumento dos investimentos em saúde para 10% das receitas da União, manutenção do poder de compra do salário mínimo e multiplicar por 10 o orçamento da segurança. Tudo isso significa aumento dos gastos públicos. Mas o senhor também promete baixar a inflação atual para 4% em 2016, chegando até 3% até 2019. E isso, segundo economistas, exige cortar pesadamente gastos públicos. Ou seja, essas promessas se chocam, se batem. Qual delas o senhor não vai cumprir?

Eduardo Campos: Patrícia, na verdade, só há uma promessa, que é melhorar a vida do povo brasileiro. A sociedade brasileira tem apresentado na internet, nas ruas, uma nova pauta, que é a pauta da educação, da melhoria da assistência da saúde, que está um horror no país, a violência que cresce nos quatro cantos do país. Nós temos que dar conta de melhorar a qualidade de vida nas cidades onde a mobilidade também é um grave problema. E tudo isso em quatro anos. Nós estamos fazendo um programa de governo, ouvindo técnicos, a universidade, gente que já participou de governo. E é possível, sim. Nós estamos fazendo conta, tem orçamento. Eu imagino que muitas vezes as pessoas dizem assim: 'Houve uma reunião do Copom hoje e aumentou 0,5% os juros'. E ninguém pergunta da onde vem esse dinheiro. E 0,5% na Taxa Selic significa 14 bi. O passe livre, que é um compromisso nosso com os estudantes, custa menos do que isso. Então, nós estamos fazendo contas para, com planejamento, em quatro anos trazer inflação para o centro da meta, fazer o Brasil voltar a crescer, que esse é outro grave problema, o Brasil parou. E o crescimento também vai abrir espaço fiscal. Tudo isso com responsabilidade na condução macroeconômica. Banco Central com independência, Conselho Nacional de Responsabilidade Fiscal, gente séria e competente governando. Fazendo a união dos competentes, dos bons, o Brasil pode ir muito mais longe.

JN: Agora, candidato, o senhor então está querendo dizer que pretende deixar de gastar aqui, para gastar ali. Mas isso não significa, necessariamente, cortes pesados. Não são cortes. Então, os economistas dizem que para combater a inflação seria necessário isso: cortes severos mesmo. Como é que o senhor pretende fazer isso?

Eduardo Campos: Olha, a inflação não pode ser combatida só com a taxa de juros, como vem sendo feita no país. É preciso ter coordenação entre a política macroeconômica monetária, a política fiscal, mas é preciso também ter regras seguras. As regras que mudam a todo dia no Brasil muitas vezes fazem com que o preço do dinheiro suba, o chamado Custo Brasil. A falta de logística que encarece o produto que vem do mundo rural, da própria indústria, a falta de ferrovia, de rodovia, que o Jornal Nacional mostra tantas vezes aqui, de portos, encarece o país. Então, o Brasil precisa enfrentar a inflação, porque ela está corroendo o salário. As pessoas estão percebendo, quem está nos assistindo tem percebido que o salário não dá para o mês inteiro. Os aposentados, os assalariados, os que vivem por conta própria do seu esforço percebem. O compromisso um com o centro da meta da inflação e a retomada do crescimento.

JN: Então, o senhor não acha que seria justo dizer para o eleitor que o próximo ano será um ano difícil, duro, com remédios mais amargos?

Eduardo Campos: É, o ano difícil está sendo já esse, Patrícia. Porque a gente vai ter um crescimento de -1%. O Brasil está perdendo...

JN: Sem aumento da tarifa.

Eduardo Campos: É, o Brasil perdeu de 7 a 1 dentro do campo de futebol, na Copa, e está perdendo também de 7 a 1 fora do campo. Porque é sete de inflação, com a presidenta guardando na gaveta dela, para depois da eleição o aumento da energia e o aumento do combustível, mesmo assim, com menos de um de crescimento.

JN: Mas vai ser um ano difícil, o próximo ano, candidato?

Eduardo Campos: Eu acho que vai ser um ano que nós vamos terminar melhor do que o ano de 2014. Porque nós vamos enfrentar os problemas. A pior coisa na vida de uma pessoa, de uma família e de um governo é a gente ficar escondendo os problemas e não tendo coragem e humildade de dizer: 'Ó, estamos com problemas. Vamos resolver o problema?'. Nós estamos com um problema, por exemplo, na questão da energia. Não seria muito melhor dizer: 'Ó, choveu menos do que deveria, não investimos tanto'. Por que a gente não criar todo um esforço de eficiência energética, como a Europa está fazendo? Premiar quem faz as mesmas coisas, seja na indústria, no comércio, em casa, com menos energia.

JN: Vamos mudar de assunto. O senhor se articulou com o ex-presidente Lula e com partidos políticos para eleger a sua mãe, a então deputada federal Ana Arraes, ministra do Tribunal de Contas da União. O senhor considera isso ético? Não foi uma forma de nepotismo?

Eduardo Campos: Veja, Bonner, se a nomeação fosse minha, se dependesse da minha nomeação enquanto governador, seria nepotismo, e eu quero te dizer que eu fui o primeiro governador a fazer a lei do nepotismo no estado de Pernambuco. Ela, Ana, era funcionária pública de carreira por concurso da Justiça, elegeu-se deputada por duas vezes, com votações crescentes, fez mandatos respeitáveis. A Câmara foi chamada a eleger um parlamentar para uma vaga no Tribunal de Contas, ela se candidatou, outros deputados se candidataram, como o ex-presidente da Câmara Aldo Rebelo. Ela disputou uma eleição com vários deputados, ela foi a única mulher que ganhou no voto, com a votação muito grande, e foi ser ministra e tem feito um trabalho como ministra do Tribunal de Contas que todos reconhecem como trabalho digno, sério.

JN: Certo, mas o que eu estou colocando em questão não são os méritos da sua mãe, não se trata disso, a questão é: o senhor ter usado o seu prestígio, o seu poder para se empenhar pessoalmente num trabalho de catequese, numa campanha para que um parente seu ocupasse um cargo público e vitalício. O senhor acha que isso foi um bom exemplo para o país?

Eduardo Campos: Olha, na hora que ela saiu candidata com apoio do meu partido, se fosse uma outra pessoa, eu teria apoiado. Por que eu não apoiaria ela que tinha todos os predicados, tanto é que pode registrar a sua candidatura, pode fazer a disputa. Eu nem votei, Bonner, porque eu não era deputado. Eu, simplesmente, torci na hora em que ela se candidatou para que ela ganhasse e ela tem feito um trabalho no Tribunal de Contas que tem o reconhecimento, inclusive, do corpo técnico do Tribunal.

JN: O seu empenho pessoal, o senhor não vê nada de errado no seu empenho pessoal nesta eleição?

Eduardo Campos: Não.

JN: Ok.

JN: Ainda nesse ponto, candidato, o senhor indicou um primo seu e um primo da sua mulher para trabalhar no TCE, que é o órgão responsável por fiscalizar as contas do estado, quando o senhor era governador de Pernambuco. Como é que fica a isenção nisso?

Eduardo Campos: Na verdade, eles se candidataram na Assembleia Legislativa em vagas que eram próprias da Assembleia Legislativa. Um deles e um outro foi indicado, como ele foi desembargador eleitoral, tinha todos os predicados jurídicos para fazer exatamente esse pleito e foi votado pela Assembleia Legislativa.

JN: Mas foram indicados pelo senhor?

Eduardo Campos: Não. O Marcos Loreto...

JN: Para julgar suas contas.

Eduardo Campos: Não, para julgar minhas contas, não. Eles foram indicados para vaga no Tribunal de Contas. Um pela Assembleia Legislativa, não há nenhuma indicação, a vaga era da Assembleia, pessoas podiam se candidatar e ele não estava impedido por lei de se candidatar. E, um outro, que foi indicado na vaga do Executivo respeitando a legislação em vigor.

JN: Então, o senhor, não vê conflito nisso. Se o senhor fosse eleito presidente hoje, o senhor manteria esse comportamento no governo federal, sem dúvidas?

Eduardo Campos: Não, eu acho que a gente precisa, na verdade, sobretudo agora que vamos ter cinco vagas no Supremo Tribunal Federal, o Brasil precisa fazer uma espécie de comitê de busca, o que é feito para os institutos de pesquisa, juntar notórias, pessoas com notória especialidade e conhecimento para fazer ao lado do presidente a seleção de pessoas que vão para esses lugares vitalícios. Aliás, eu acho que o Brasil deve fazer uma reforma constitucional para acabar com esses cargos vitalícios que ainda existem na Justiça, é preciso ter os mandatos também no Poder Judiciário, coisa que existe em outras nações do mundo, de maneira a oxigenar os tribunais e garantir que esse processo de escolha seja um processo mais impessoal.

JN: Candidato, o senhor tem procurado apresentar o discurso de um gestor moderno, de um gestor favorável ao empreendedorismo privado, mas o fato é que, logo depois do anúncio da sua aliança com Marina Silva, Marina fez restrições ao agronegócio, que é um setor que tem sustentado a economia brasileira em muitos anos. Como é que o senhor pretende resolver esta contradição dentro da sua chapa?

Eduardo Campos: Olha, com diálogo, Bonner. Mostrando exatamente que Marina não tem nada contra agronegócio ou contra indústria ou contra o desenvolvimento econômico. O que Marina defende e eu defendo também, e a sociedade brasileira quer ver hoje, é que nós temos que ter desenvolvimento com respeito ao meio ambiente e com inclusão. Esse é um conceito que no século passado parecia que disputava: ou se tem desenvolvimento ou se tem respeito à natureza. E, hoje, o mundo todo bota numa equação só, tenta efetivamente conciliar desenvolvimento com proteção da natureza e com inclusão das pessoas mais pobres.

JN: Claro, candidato. Mas eu acho que eu preciso ser um pouco mais específico sobre a contradição a que eu me referi. Vamos falar da reforma, da votação do Código Florestal. Assunto importantíssimo. Na votação do Código Florestal, o seu partido aprovou, quase que por unanimidade. E o grupo político de Marina Silva teve uma posição rigorosamente oposta. Marina chegou a dizer que o Código Florestal representava um retrocesso de 20 anos. A questão é: como é que o eleitor pode se convencer da coesão da sua chapa, se os dois candidatos têm visões tão opostas, tão antagônicas em relação a esse assunto?

Eduardo Campos: Absolutamente. Nós temos uma visão, uma aliança, que não é feita em cima da minha opinião, da opinião de Marina. Em cima de um programa, de um programa que tem a participação da academia brasileira, de diversos estudiosos, cientistas, militantes do movimento social, que têm nos ajudado a construir um programa, que vai ser lançado nos próximos dias, exatamente para não ter uma coisa de uma aliança pessoal, uma aliança de personalidades, mas uma aliança de pensamentos.

JN: Mas eu apresentei um caso concreto, em que houve posições bem diferentes. Um dos dois lados cedeu em relação a esse assunto para chegar a um consenso?

Eduardo Campos: Neste caso, em particular, eu defendi as posições de Marina. Na nossa bancada, ela rachou, na verdade. Teve muita gente que era ligado a estados onde o agronegócio tinha mais expressão que não votou com a orientação partidária, mas eu defendi a posição que foi representada por Marina.

JN: Só dois votos do seu partido foram contrários.

Eduardo Campos: Exatamente. E eu me coloquei solidário à posição dela.

JN: Ainda sobre coerência. O senhor e o seu partido foram colaboradores próximos do então presidente Lula. O senhor, inclusive, foi ministro em 2005 do governo dele, exatamente quando o escândalo do Mensalão veio a público e o senhor não deixou o cargo. O senhor só se afastou do governo Dilma quase três anos de um mandato de quatro. Foi no fim do ano passado. O que que o senhor diria aos críticos que afirmam que o senhor abandonou todos esses anos de colaboração a Lula e Dilma pela ambição de ser presidente da República?

Eduardo Campos: Não se trata de ambição. Se trata de um direito, numa democracia qualquer partido pode lançar um candidato, pode divergir. Porque você apoiou, você não está condenado a apoiar quando você já não acredita, quando você já não vê, não se representa naquele governo.

JN: Mas o senhor levou quase três anos de um mandato de quatro para sair do governo, para deixar de apoiá-lo, não é tempo demais?

Eduardo Campos: Se você for ver, isso aconteceu antes. Já em 2012, nas eleições de 2012, nós já enfrentamos o PT em várias cidades, inclusive no Recife. Quando a presidenta apoiou o Renan e o PMDB para Câmara, Renan para o Senado, o PSB já apoiou outros candidatos. Nós já vínhamos num processo de afastamento claro do governo. Por quê? Porque esse governo é o único governo que vai entregar o Brasil pior do que recebeu. Nós vamos estar pior na economia, pior na questão da violência, pior na logística, pior na relação externa com o resto do mundo. Ou seja, e aí nós estamos oferecendo um caminho para que o Brasil volte a crescer.

JN: Mas o senhor apoiou durante mais de 10 anos esse governo. O que que aconteceu neste meio do caminho?

Eduardo Campos: O que aconteceu é que aquilo que foi prometido, que o Brasil ia corrigir os erros e aprofundar as mudanças, não aconteceu. Tantas pessoas que votaram na Dilma e se frustraram, tantas pessoas que estão nos assistindo que viram agora um governo que valoriza no seu centro a velha política, um governo que deixou a inflação voltar, um governo que está fazendo derreter os empregos. Agora, o que o povo quer é alguém que dê solução a isso. E eu e Marina entendemos que para dar solução a isso é fundamental um novo caminho. Porque PSDB e PT há vinte anos governam o país. Se a gente quer chegar a um novo lugar, a gente não pode ir pelos mesmos caminhos.

JN: Candidato, chegou aquele momento em que o senhor agora se dirige ao eleitor para expor aqueles projetos que o senhor consideraria prioritários caso eleito.

Eduardo Campos: Eu queria ter a oportunidade de falar com você de todo Brasil. Eu governei o estado de Pernambuco por duas vezes. Fui reeleito com 83% dos votos e deixei o governo com mais de 90% de aprovação. Governei com pouco, porque governei um estado do Nordeste brasileiro com muita pobreza, e botei o foco naqueles que mais precisam. Então, aprendi a fazer mais com menos. Agora, ao lado da Marina Silva, eu quero representar a sua indignação, o seu sonho, o seu desejo de ter um Brasil melhor. Não vamos desistir do Brasil. É aqui onde nós vamos criar nossos filhos, é aqui onde nós temos que criar uma sociedade mais justa. Para isso, é preciso ter a coragem de mudar, de fazer diferente, de reunir uma agenda. É essa agenda que nos reúne, a agenda da escola em tempo integral para todos os brasileiros, a agenda do passe livre, a agenda de mais recursos para a saúde, a agenda do enfrentamento do crack, da violência...

JN: Ok.

Eduardo Campos: O Brasil tem jeito. Vamos juntos. Eu peço teu voto.

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