Comitês eleitorais não se pronunciam
A revelação de parte do conteúdo dos depoimentos do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, a partir da sexta-feira, provocou muita tensão nos comitês das campanhas de Dilma Rousseff (PT) e de Marina Silva (PSB). Mas, até o fechamento da edição, nenhum dos dois comitês havia comentado o assunto bem como os demais políticos envolvidos.
O ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom), Thomas Traumann, que viajaria para o Rio de Janeiro na sexta, desistiu da viagem e permaneceu em Brasília para monitorar os desdobramentos da situação. Dilma e o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, reuniram-se para discutir o assunto. "A crise é séria", desabafou um assessor do Planalto ouvido pela reportagem.
Em São Paulo, o comando da campanha de Marina convocou na sexta-feira uma reunião. Assessores e colaboradores chegaram ao comitê da candidata sem esconder o clima de tensão. Marina, que inicialmente não participaria do encontro, esteve presente. Oficialmente, o assunto do encontro seria a estratégia para rebater ataques dos adversários. No partido, chegou-se a prever que Marina poderá cancelar compromissos de campanha no fim de semana. Ao final da reunião, perguntada sobre o assunto, Marina desconversou: "Não li a matéria". Diante da insistência dos jornalistas, apenas comentou: "Vou ler a matéria".
Da Redação, com Agência O Globo
O esquema de desvio de dinheiro da Petrobras para pagamento de propina a políticos e partidos, delatado pelo ex-diretor de abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa, atinge em cheio as duas principais candidaturas à Presidência da República de Marina Silva (PSB) e Dilma Rousseff (PT). Segundo reportagem da revista Veja, o dinheiro desviado da Petrobras teria como um dos destinatários o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB), candidato à Presidência morto no mês passado em um acidente aéreo cuja vice na chapa era Marina. Além disso, um ministro do governo Dilma Edison Lobão (PMDB-MA), das Minas e Energia também seria beneficiário do esquema, bem como dezenas de parlamentares do PT e de partidos da base aliada da presidente no Congresso. A revista afirma inclusive que a verba da estatal sustentava a base de Dilma numa nova versão do mensalão. A cúpula da Câmara dos Deputados e do Senado também estariam envolvidas.
A revista Veja ainda diz que o depoimento de Costa revelou que houve pagamento de propina na compra, pela Petrobras, da refinaria norte-americana de Pasadena um negócio que deu prejuízo de US$ 792 milhões e que havia sido autorizado por Dilma quando ela era presidente do conselho de administração da estatal, em 2006. A revista ainda informa que, dentre os envolvidos no esquema, estariam Sérgio Cabral (PMDB), ex-governador do Rio de Janeiro; e Roseana Sarney (PMDB), atual governadora do Maranhão. Os dois são aliados de Dilma. Rio e Maranhão tem grandes empreendimentos da Petrobras, assim como Pernambuco (governado por Campos).
A reportagem de Veja indica ainda que o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), fazem parte do esquema de corrupção. Outros citados são os senadores Ciro Nogueira (PI), presidente nacional do PP, e Romero Jucá (PMDB-RR), líder do governo na Casa. Já no grupo de deputados figuram o petista Cândido Vaccarezza (SP) e João Pizzolatti (SC), um dos líderes da bancada do PP. O ex-ministro das Cidades e ex-deputado Mario Negromonte, também do PP, é outro envolvido, segundo a reportagem.
Já a revista IstoÉ informou que também foram citados nos depoimentos de Paulo Roberto Costa os senadores e ex-presidentes da República Fernando Collor (PRB-AL) e José Sarney (PMDB-AP) ambos aliados do governo Dilma. Ainda não há números fechados, mas a quantidade de parlamentares envolvidos seria de pelo menos 50. O Congresso Nacional tem 513 deputados e 81 senadores.
Pena menor
Paulo Roberto Costa foi preso em março pela Operação Lava Jato da Polícia Federal (PF) sob a acusação de participar de um esquema de lavagem de dinheiro comandado pelo doleiro Alberto Youssef que teria movimentado R$ 10 bilhões. Sob muita resistência do Planalto e da base aliada, o Congresso instalou duas CPIs para investigar a Petrobras, citada nas investigações da Lava Jato. As CPIs, porém, pouco esclareceram devido a manobras da base aliada.
Mas, recentemente, Costa aceitou um acordo de delação premiada para que sua pena fosse reduzida, já que haveria farto material para condená-lo. Assim, começou a revelar à PF e ao Ministério Público Federal (MPF) como funcionava o esquema. Segundo os depoimentos de Costa, os político receberiam 3% do valor dos contratos da Petrobras no período em que ele esteve à frente setor de distribuição da estatal, entre 2004 e 2012.
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