Sob o olhar de um retrato sorridente de Getúlio Vargas, a presidente e candidata à reeleição pelo PT Dilma Rousseff enfrentou nesta quarta-feira (27) um prato de arroz, feijão, salada, sobrecoxa de frango e abóbora no restaurante popular que tem o nome do presidente e ícone trabalhista, em Bangu, zona oeste da capital fluminense.
Caçava votos ao lado do anfitrião, o candidato do PR a governador, Anthony Garotinho. Foi ele, que, quando governou o Rio, de 1999 a 2002, criou o programa para vender refeições a R$ 1, com subsídio. Mas, em respeito à lei eleitoral e vigiada por fiscais do Tribunal Regional Eleitoral, não pediu votos, nem fez discursos, nem distribuiu panfletos. Fez imagens para a propaganda eleitoral, liquidou a refeição em menos de quinze minutos e foi embora em meio a tumulto, blindada por seguranças e sem dar entrevistas.
"Ela gostou muito, disse que a ideia é maravilhosa e que vai levar para todo o Brasil", disse Garotinho em entrevista no Estádio do Bangu, depois que a presidente deixou o local. "Perguntou quanto era, gostou do ambiente, gostou do carinho das pessoas, gostou da comida. (Disse) 'Puxa, não está tão salgada, está boa', estava com bom paladar. Gostou."
Foi uma visita rápida. Repórteres, isolados em um balcão no segundo andar, a acompanharam de longe e de cima. Tensa, a assessoria da campanha chegou a cogitar permitir que fotógrafos e cinegrafistas só registrassem a chegada da candidata e, durante a refeição, ficassem do lado de fora. Aparentemente, havia preocupação de evitar que a presidente fosse filmada enquanto comia. Mas foi impossível retirar os profissionais de imagem do "curral" montado ao lado da mesa onde a presidente se sentou, ladeada por Garotinho e pela candidata ao Senado Lilian Sá (Pros). Apelos de uma assessora para que saíssem foram ignorados. A mesa da presidente foi cercada por seguranças, ilhados por eleitores que queriam falar com Dilma ou fazer "selfies" com a candidata.
Moeda
Ao chegar, Dilma ganhou uma moeda de R$ 1 da ex-governadora Rosinha Garotinho para pagar a refeição, segundo a deputada estadual Clarissa Garotinho (PR). Às 12h25, entrou no restaurante e começou a cumprimentar funcionários e usuários do restaurante. Depois, pegou sua bandeja e entrou na fila.
O ambiente alegre contrastava com o tom trágico do trecho da Carta-Testamento de Vargas, deixada pelo presidente ao se matar em 24 de agosto de 1954 e reproduzido abaixo da foto que adorna o restaurante. "Ao ódio respondo com o perdão. E aos que pensam que me derrotaram respondo com minha vitória. Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas esse povo de quem fui escravo não mais será escravo de ninguém."
A presidente deixou no prato parte da abóbora. Não tinha se servido da sobremesa, uma fatia de melão. Às 12h55 já estava de pé, indo embora. Depois que Dilma se foi, Garotinho afirmou que não daria conselhos a uma presidente, diante da ascensão de Marina Silva (PSB). "O melhor conselho que alguém dá a alguém nesta hora é não se apavorar com nada, ter calma" disse. "Se eu fosse ouvir muitas pessoas, nem teria sido candidato. Quem rejeita hoje pode apoiar amanhã. Tudo muda. Quem até ontem era Aécio (Neves, presidenciável do PSDB) já não é mais. Tudo pode acontecer. Quem podia prever a fatalidade que aconteceu com Eduardo Campos?". Lembrou que Dilma deverá voltar ao Rio para outros eventos, com os demais candidatos ao governo que a apoiam.
"Acho que agora ela deve cumprir uma agenda com o Lindbergh (Farias, candidato do PT), deve cumprir uma agenda com o (Marcelo) Crivella (candidato do PRB) e deve voltar ao Rio para aparecer com o (governador e concorrente à reeleição pelo PMDB Luiz Fernando) Pezão no meio do povo, porque o Pezão a escondeu em uma churrascaria", ironizou, lembrando o evento do peemedebista com Dilma e prefeitos em 24 de julho, na Baixada Fluminense. "Acho que aqui ela viu (no restaurante popular) muito mais povo que na churrascaria, com os prefeitos".
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