Surpresa e preocupada com a arrancada final do tucano Aécio Neves, a cúpula da campanha de Dilma Rousseff definiu que precisa agir rapidamente para conter a onda de ascensão do candidato a ser enfrentado no segundo turno da eleição.
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Em seu pronunciamento após o fim da apuração, Dilma afirmou que o "povo brasileiro vai dizer que não quer os fantasmas do passado de volta", numa referência ao PSDB que governou o país entre 1995 e 2002.
Também disse que o "povo não quer de volta quem chamou os aposentados de vagabundos" e que "trouxeram o racionamento de energia", em referência ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, fiador da candidatura de Aécio. Na frente econômica, haverá o discurso de que o modelo tucano aceita algum nível de desempreg o em nome da competitividade.
Nas palavras de um integrante da cúpula da campanha dilmista, se contra Marina o PT abriu a "caixa de ferramentas" para desconstruí-la, lançará mão de uma "oficina inteira" para evitar uma virada do senador.
O tom de preocupação e surpresa tomou conta do Palácio da Alvorada, onde a presidente acompanhou a apuração com sua equipe, diante dos números mostrando que o tucano obteve mais votos do que o esperado.
No pronunciamento, Dilma procurou transmitir otimismo e evitar transparecer a preocupação que tomou conta de seu comitê.
"A luta continua", disse ela para uma plateia de ministros e petistas, reunidos no mesmo hotel em que ela apareceu abatida depois da frustração de não ter ganhado no primeiro turno em 2010.
Perfil
Dilma tenta reconstruir imagem de "gerente" e admite mudanças
Reuters
Depois de ser eleita em 2010 sob a marca de gestora competente, a presidente Dilma Rousseff passa para o segundo turno deste ano com o pior desempenho de um candidato do PT desde 1998, quando Luiz Inácio Lula da Silva perdeu a eleição para Fernando Henrique Cardoso (PSDB) já no primeiro turno. A imagem mostrada na campanha de quatro anos atrás ficou bastante desgastada no decorrer do mandato, principalmente pelo fraco desempenho econômico.
À época, a fama de gestora e técnica eficiente, construída ao longo dos anos no ministério de Lula, primeiro como titular da pasta de Minas e Energia e depois como ministra-chefe da Casa Civil, serviu para catapultá-la à Presidência, sem nunca antes ter disputado uma eleição. Hoje, a presidente é retratada, até por aliados, como uma gestora muito apegada a detalhes, que dialoga pouco, que intervém exageradamente na economia e que agiu de forma inábil politicamente para fazer sua enorme base aliada aprovar as reformas necessárias ao país.
Na disputa atual, a candidata tenta se apresentar como a presidente que merece mais quatro anos para manter e aprofundar o modelo petista, deixando um pouco de lado a faceta de gestora que lhe garantiu a vitória em 2010. Um ministro do governo avalia que Dilma, de 66 anos, já mudou e isso ocorreu depois das manifestações de junho de 2103, quando milhares de pessoas foram às ruas para protestar. "Ali a presidente entendeu que precisava se abrir, dialogar mais com os políticos, com os movimentos sociais", disse o ministro, sob a condição de anonimato.
No seu entorno, porém, nem todos acreditam que o mandato serviu de experiência para Dilma a ponto de transformá-la numa presidente menos obcecada por detalhes e intransigente politicamente. "O que existe na verdade é uma torcida para que ela tenha aprendido com os erros", disse uma pessoa que esteve perto de Dilma na campanha de 2010. Um exemplo recente mostra a resistência da presidente para fazer correções de rota.
Dilma já vinha sendo aconselhada por aliados há meses a sinalizar que num novo mandato faria mudanças. Somente depois de uma conversa franca com o ex-presidente Lula, ela passou a dizer que faria mudanças na economia se reeleita. "Foi preciso dizer a ela que teria que escolher entre o ministro da Fazenda (Guido Mantega) e a reeleição", contou um aliado, referindo-se à conversa com Lula.
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