Expedição em dados
Os principais indicadores coletados foram organizados e estão abertos para consultas e comparações. Há informações regionais e, em alguns casos, os detalhes por municípios.
Um rio que come terra e esperanças
O Rio Trajano continua "roubando" o solo arenoso da chácara de Adão Felipach, em Terra Rica, no Noroeste do Paraná. O problema de Felipach foi mostrado pela Gazeta do Povo na Expedição Paraná em 2010 como exemplo do quanto é sensível o solo do região e de como a economia depende dos cuidados ambientais para que a agricultura continue viável. Mas quase nada mudou em quatro anos. A única diferença é que a erosão está maior. "A lavoura aqui é difícil. A região não é propícia."
Em 1985, o leito dágua tinha entre 5 e 7 metros de largura e pouca profundidade. Em 2010, o rio já havia criado um "minicânion" com distância de 40 a 50 metros entre uma margem e outra e profundidade de 20 metros. Atualmente, o buraco já tem 25 metros.
O Rio Trajano recebe a água da chuva que cai sobre a cidade de Terra Rica. A enxurrada faz com que a água chegue com força na propriedade e vá desmoronando as margens do rio. "Penso em processar a prefeitura", diz Felipach. Ele arrendou a terra para o plantio de mandioca e dedica-se a outra propriedade que tem na margem do Rio Paranapanema, onde explora o turismo com o aluguel do espaço para acampamentos e pescarias. "Meu principal negócio é a prainha." Veja a reportagem da época: http://bitly.com/2010noroeste
A triste fortuna da família Fortuna
O número de pessoas que morreram no Noroeste do Paraná de todas as causas aumentou 13% nos últimos cinco anos, entre 2009 e 2013. É o maior índice de crescimento do estado, alcançado também por outras duas regiões: Centro-Sul e Norte. As três tiveram crescimento de óbitos acima da média do Paraná: 7%.
O agricultor Odilon Alves de Lima, de 81 anos, cria 26 cabeças de gado em um sítio de 12 alqueires em Inajá, Noroeste do Paraná. Ele chegou a ter 90 vacas e novilhos na propriedade. Mas, aos poucos, foi abandonando a criação dos animais para se dedicar ao plantio da mandioca. Atualmente, tem dez alqueires plantados, mas deverá perder de 20% a 25% da produção. Nos dois negócios, amarga prejuízos causados pelo mesmo inimigo: a formiga cortadeira, popularmente conhecida como saúva. Isolado, o inseto é pequeno e inofensivo. Em colônia, é um problema. A disseminação de formigueiros no Noroeste criou um terror. "Se não combater, não fica uma folha em pé", diz o produtor rural.
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As cortadeiras derrubam grandes quantidades de folhas verdes ao redor de um ninho. Tanto as gramíneas usadas para o pasto do gado quanto os ramos da mandioca são utilizados para produzir, dentro do formigueiro, um tipo de fungo que é a base de alimentação das formigas. No início da primavera, acontece a revoada de formigas e novas colônias são formadas. Com o meio ambiente fragilizado onde há pouco predadores, como aves e tamanduá , a saúva encontrou as condições ideais para se multiplicar. E virou praga. "Um formigueiro come mais que uma cabeça de boi", diz José Heronides Batista, que produz leite em um sítio de 15 alqueires em Inajá e que também sofre para combater o minúsculo inimigo.
Arenito caiuá
A invasão das cortadeiras é apenas um dos problemas ambientais que atingem o Noroeste e causam prejuízos à economia da região. Em comum, todos são causados em grande parte pelo desmatamento. A erosão, por exemplo, é outro problema da região há décadas. O solo do local composto pelo arenito caiuá, um tipo de terra arenosa e, portanto, delicada tende a ser carregado pelas chuvas, o que favorece a erosão. Se a cobertura vegetal não tivesse sido posta abaixo, o problema poderia ser reduzido, pois as matas retêm a água da chuva.
Nelson Hauenstein, coordenador regional da Emater em Umuarama, afirma que a cana de açúcar principal produto agrícola do Noroeste agravou a situação porque os produtores negligenciam os cuidados ambientais. "A cana, durante dez anos, causa um desgaste na terra. Acrescente o uso de fogo para fazer a colheita e temos um solo desgastado. A proibição do uso do fogo, que deveria estar vigorando, todo ano é adiada", diz Hauenstein. O coordenador de Meio Ambiente da Emater em Paranavaí, Alberto Carlos Moris, reforça o peso da cana no problema e diz que é difícil até mensurar o prejuízo da saúva na agricultura. "Não há um cálculo econômico efetivo do impacto. Não temos como dimensionar. Olhando na paisagem, a frequência de formigueiros é muito grande."
Combate
Para diminuir o impacto da saúva e conter a erosão, é preciso proteger o solo e recompor a cobertura vegetal. No caso dos formigueiros, também seria necessário uma ação simultânea em vários municípios. "Não adianta eu eliminar os formigueiros aqui e meu vizinho, não", diz o agricultor Odilon Lima.
Especialista em controle biológico de pragas, o engenheiro agrônomo e pesquisador da Embrapa Florestas Wilson Reis Filho conta que a situação pode piorar se os formigueiros continuarem a se expandir. "Estima-se que um formigueiro corte uma tonelada de material vegetal por ano. Numa área degrada em que se plante eucalipto, uma das espécies mais atacadas pelas cortadeiras, e na qual não se tenha controle nenhum, a perda de mudas pode chegar a 70%."
Uma das alternativas para conter as formigas tem sido o uso de inseticidas. Mas há quem esteja comprando o produto clandestinamente no Paraguai, sem origem ou procedência o que pode criar um novo problema ambiental para o Noroeste.
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