Expedição em dados
Os principais indicadores coletados foram organizados e estão abertos para consultas e comparações. Há informações regionais e, em alguns casos, os detalhes por municípios.
Adeus, Carrapato. Olá, Minha Casa
Albari Rosa/Gazeta do PovoA dona de casa Cleusa Viana Pires, 34 anos, ganhou dois netos e mudou de endereço desde 2010, quando foi mostrada pela Gazeta do Povo na primeira Expedição Paraná. Ela trocou o barraco em que vivia no Morro do Carrapato, em Londrina, por uma casa de alvenaria no Conjunto Vista Bela, zona norte da cidade, após ser beneficiada pelo programa Minha Casa Minha Vida em 2011. "Aqui é mais gostoso", afirma.
Cleusa, o marido que trabalha como servente de pedreiro , os quatro filhos e uma nora agora têm um banheiro, uma cozinha e dois quartos. É apertado, mas maior do que o barraco que tinha apenas uma divisão: entre a cozinha e o quarto.
A vida da dona de casa mudou em quatro anos. Porém, o Morro do Carrapato não foi transformado. O lugar continua um depósito de lixo com crianças brincando em meio a papelões e restos de bugigangas enquanto alguns adolescentes e adultos tentam buscar algo para ser reaproveitado. Além disso, há quatro anos a Gazeta já mencionava a necessidade de descentralizar as oportunidades existentes em Londrina e Maringá como forma de diminuir a desigualdade da Região Norte. Veja a reportagem da época em http://bitly.com/2010norte.
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Histórias como a de Bruno Monteiro, que deixou de estudar para trabalhar e concluir as aulas de direção, são comuns no Norte do Paraná. A região tem o 2º maior índice do estado de evasão no ensino médio
O agricultor Pedro Rodrigues da Silva, de 43 anos, e sua mulher, Marisa da Silva, 27 anos, moram na zona rural de um município rico: Marilândia do Sul. A cidade tem a segunda maior produção agrícola do Norte do Paraná com forte produção de hortaliças e legumes. Perde apenas para Londrina. Apesar disso, a família Silva não aproveita o forte dinamismo econômico da região e vive em um barraco.
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Nos últimos anos, Pedro plantou feijão, milho e criou animais. Sozinho e sem acesso a financiamento bancário, a produção foi praticamente para a subsistência. Nos dias em que há serviço, o agricultor trabalha também como boia-fria na terra dos outros para receber uma diária entre R$ 30 e R$ 40. O Bolsa Família complementa a renda. "A família ainda teve problemas frequentes de perda do benefício por causa das faltas das crianças na escola", diz a assistente social Vanessa Ferreira. Ela explica que, nos dias de chuva, os quatro filhos do casal não conseguiam chegar a tempo de pegar o ônibus escolar devido à estrada rural em más condições.
Sonho metropolitano
Cansados, Pedro e Marisa resolveram desistir de lutar por um pedaço de terra e planejam se mudar para Piraquara, na Região Metropolitana de Curitiba. Pedro irá cuidar de uma chácara depois de esperar durante nove anos pela posse de um pedaço de chão no assentamento Maria Bueno, onde mora desde 2005 com outras 20 famílias. "São muitos anos e o Incra não consegue a terra." O motivo da mudança é tentar dar um pouco mais de segurança para os filhos: Ângelo (de 10 anos), Rosângela (8), Estefani (4) e Eloar (2).
Sem saber, a família é reflexo da distorção de oportunidades no Norte do Paraná. A região produz 17% das riquezas do estado. É a segunda maior em quantidade de empregos formais. E tem um parque industrial diversificado, com 8,9 mil empresas. Mas a maioria desses números positivos concentra-se em Londrina e Maringá. Entre as 79 cidades da região, 27 delas têm o porcentual de pessoas beneficiadas pelo Bolsa Família acima da média do estado.
Mesmo em Marilândia do Sul, existe distorção. Cerca de 6% da população precisa da complementação financeira do Bolsa Família a média do Paraná é de 4%. "O valor da produção agrícola não condiz com a receita da prefeitura", afirma o secretário de Administração e Planejamento da cidade, Aristides Bueno Junior. Isso ocorre porque boa parte do dinheiro gerado pelos agricultores é gasto em outros municípios e não circula em Marilândia. "As cidades pequenas estão virando cidades dormitórios. Não é gerada renda nos municípios menores, que tem de oferecer creche, escola, etc", reclama o prefeito de Floresta e presidente da Associação dos Municípios do Setentrião Paranaense (Amusep), José Roberto Ruiz.
Juntar as forças
"Precisamos organizar o planejamento da região, buscando a integração e não com uma discussão individual", afirma Luiz Nicacio, prefeito de Centenário do Sul e presidente da Associação dos Municípios do Médio Paranapanema. "É possível ampliar e melhorar diversos serviços e equipamentos públicos por meio da cooperação entre municípios", opina Angela Maria Endlich, doutora em Geografia e professora da Universidade Estadual de Maringá (UEM).
Estudiosa da importância de pequenos municípios, a professora diz que houve uma perda de população significativa nas cidades menores para os grandes centros. Como Pedro e Marisa pretendem fazer, muitos moradores dessas localidades foram em busca de oportunidades melhores. "O filho do agricultor não quer pegar na enxada. Quer emprego melhor. O campo só seguraria esses jovens se eles tivessem uma nova perspectiva, com a propriedade dando mais dinheiro", afirma Luiz Carlos Gil, prefeito de Ivaiporã e presidente da Associação dos Municípios do Vale do Ivaí (Amuvi).
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