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Família Mendes Martins. Da esquerda para direita: Arlindo, Rafaela, Micheli, Rosieli e Lurdes. Junto com eles os filhos de Rafaela e Micheli | Brunno Covello / Gazeta do Povo
Família Mendes Martins. Da esquerda para direita: Arlindo, Rafaela, Micheli, Rosieli e Lurdes. Junto com eles os filhos de Rafaela e Micheli| Foto: Brunno Covello / Gazeta do Povo

Expedição em dados

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Sem apoio, sem transformação

O agricultor Izaias Santana: falta de apoio para montar uma fábrica de suco que industrialize o maracujá que planta

O agricultor Izaias Pereira Santana, de 47 anos, aumentou a produção de maracujá na propriedade rural que administra em Morretes, no Litoral. Atualmente, ele colhe 4 toneladas da fruta por ano ante as 3 toneladas de quatro anos atrás, quando foi mostrado na Expedição Paraná 2010. A história dele embasava a reportagem sobre a necessidade de apoio aos pequenos agricultoresda região como forma de agregar valor à produção por meio da industrialização. A maior quantidade de maracujá é a única mudança desde então. Boa parte da fruta continua sendo desperdiçada por falta de possibilidade de industrializar a polpa.

Izaias cogitou em 2010 montar uma fábrica de suco. Ele poderia melhorar a lucratividade e empregar mais funcionários se colocasse o plano em prática, em vez de vender o maracujá in natura para um comerciante. À época, os custos de R$ 30 mil e a burocracia para abrir a empresa já o espantaram. De lá para cá, ele estima que os gastos para montar a microindústria disparou. "Já deve estar perto dos R$ 100 mil."

Morretes é uma das três principais cidades produtoras de maracujá no Paraná. São cerca de cem agricultores que cultivam a fruta e produzem, juntos, 1,5 milhão de tonelada por ano, de acordo com dados de 2012 da Secretaria Estadual da Agricultura. Vender o suco pronto traria mais renda para o Litoral. Izaias estima que de 25% a 30% da produção é desperdiçada sem a fábrica de suco. Boa parte dos frutos tem algum ‘machucado’ externo e a fruta já não serve para ser vendida devido à aparência ruim. Mas, internamente, o fruto está bom e poderia ser beneficiado. "É prejuízo", sintetiza.

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A perna fraca da saúde no Litoral

Marlene Pereira é o reflexo da longa espera por médicos especialistas na rede pública da região. Ela aguarda desde 2011 uma cirurgia no joelho direito, que não lhe permite nem permanecer em pé sem sentir dor.

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  • Rosieli (20) e Micheli Mendes Martins (22), as duas irmãs moram em Itaquanduva – pequena comunidade de pescadores em Guaraqueçaba. Ambas desistiram de estudar sem terminar o Ensino Fundamental
  • Filho de Micheli brinca enquanto Rosieli e Micheli falam do fim dos estudos
  • A partir do 5º ano, para estudar moradores de Itaquanduva precisam de transporte escolar marítimo para chegar à escola
  • A partir do 5º ano, para estudar moradores de Itaquanduva precisam de transporte escolar marítimo para chegar à escola
  • Família Mendes Martins. Da esquerda para direita: Arlindo, Rafaela, Micheli, Rosieli e Lurdes. Junto com eles os filhos de Rafaela e Micheli
  • Itaquanduva, pequena comunidade de pescadores em Guaraqueçaba
  • Itaquanduva, pequena comunidade de pescadores em Guaraqueçaba
  • José Almeida de Oliveira (50) e a mulher Marlene Dias Pereira (52), moradores de Pontal do Paraná
  • Marlene espera há três anos por uma cirurgia no joelho direito para recompor a cartilagem. Fêmur e a tíbia, ossos da perna, encostam um no outro e causam dor por conta do problema
  • Em pé, Marlene mostra exame
  • Depois de alguns segundos em pé, a dona de casa não aguenta a dor
  • Detalhe de exames e remédios de Marlene
  • Marlene engordou 30 quilos desde que espera a cirurgia no joelho. Ela não consegue caminhar nos últimos três anos
  • Izaias Pereira Santana (47), pequeno agricultor em Morretes
  • Izaias perde de 25% a 30% da produção de maracujá porque os frutos não servem para o comércio e ele não consegue apoio para industrializar o suco

Nenhum dos seis filhos do casal Lurdes e Arlindo Mendes Martins concluiu o ensino fundamental. A família vive em Itaquanduva, uma pequena comunidade de pescadores à beira de rio de mesmo nome, distante 19 quilômetros (pelo mar) da cidade de Guaraqueçaba, no Litoral paranaense. Todos foram deixando os estudos de lado pela necessidade de trabalhar, somada à dificuldade de acesso às escolas. Com isso, ajudam a colocar a região como a que tem a mais alta taxa de evasão escolar do ensino fundamental do Paraná. Entre os alunos matriculados no Litoral, 2,6% largam os estudos. O índice é bem maior que a média do estado: 1,6%.

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Quem chegou mais próximo de concluir os nove anos de ensino básico na família Mendes Martins foi Rosieli, de 20 anos. Ela largou a escola em 2013, no último ano do fundamental. Isso ocorreu após descobriu que não teria como fazer o ensino médio porque o curso é ofertado somente à noite para as comunidades ribeirinhas. Como a navegação noturna é proibida pela Marinha, devido ao risco de acidentes, a prefeitura de Guaraqueçaba não pode contratar o transporte escolar com barcos nesse horário. "Fiquei com preguiça de ir para escola", diz a garota, que queria ser professora. Desde então, ela tem ajudado os irmãos a mariscar siri para vender.

A mais recente baixa escolar na família foi Alex, de 18 anos, que abandou o 6.º ano no início de 2014. Agora, dedi­ca-se à pesca de tainha e à coleta de siris. "Dá para tirar de R$ 10 a R$ 15 por dia", diz. Micheli (22 anos) engravidou quando cursava o 5.º ano. "Tenho vontade de estudar, mas aqui não tem como. Espero voltar um dia." Já Rafaela (24) não terminou a 4.ª série para trabalhar como doméstica.

Transporte marítimo

Todos da família precisavam pegar barco para chegar ao colégio, distante 10 quilômetros pela água. Em Itaquanduva, a única escola da comunidade tem uma turma multiseriada até o 5º ano. A partir de então, a oferta de ensino acontece na Ilha Rasa, que oferece do 6º ao 9º ano do ensino fundamental e médio.

Guaraqueçaba mantém 30 escolas municipais nas diferentes comunidades espalhadas pelo município, mas somente até o 5º ano – como em Itaquanduva. Apenas cinco escolas estaduais oferecem a conclusão do fundamental e do médio. Com isso, boa parte dos alunos depende de deslocamentos diários para estudar. Há casos de alunos que enfrentam até duas horas e meia de barco, segundo o secretário de Educação da cidade, Thomas Victor Pinto Lorenzo.

Ao todo, 103 alunos dependem do transporte escolar marítimo em 11 linhas diferentes. "São dez barcos com motores a diesel, que são mais lentos, e só uma voadeira", detalha o secretário. Para ele, facilitar o acesso é um dos fatores primordiais para reduzir o abandono escolar.

Jogar a rede

Pedagoga e professora em Itaquanduva, Katia Fernandes Miranda acredita que, além da distância, o trabalho é o principal motivo do abandono. "O pessoal crê que, para jogar rede e pescar, não precisa de estudo", confirma Angelo Fernandes, secretário do Colégio Estadual Ilha Rasa.

As dificuldades de acesso à escola influenciam outro fator: a qualidade do aprendizado. Guaraqueçaba tem as piores notas do Litoral no ensino fundamental, de acordo com o Ideb de 2011. Apenas 2,8% dos alunos aprenderam matemática de forma adequada. Em português, foram apenas 8,7% em português. As médias do Paraná são de 14% e 25%, respectivamente.

Potencial turístico

O Litoral tem a menor economia do Paraná. Segundo dados de 2011, a produção de riqueza foi de R$ 5,3 bilhões. Em número absolutos, a região também tem o menor número de pessoas com carteira assinada: 57,6 mil.

O turismo, que é uma das vocações do Litoral e poderia melhorar a renda da população, ainda tem um potencial inexplorado. O presidente do Sindicato dos Lojistas de Paranaguá, Said Khaled Omar, acredita que, para dinamizar a indústria turística, é preciso justamente elevar o nível educacional da população. "Precisamos de mão de obra especializada, com cursos profissionalizantes para atendimento em hotéis e restaurantes. É necessário aumentar a qualidade da oferta do turismo, incentivar os empresários a melhorar e criar novos negócios."

O diretor do Cen­­tro de Pes­­quisa do Insti­­tu­­to Pa­­ranaense de Desen­­vol­­vimento Econômico e Social (Ipardes), Julio Takeshi Suzuki Júnior, lembra que a região precisará encontrar uma forma de crescer economicamente nos próximos anos sem prejuízo às belezas naturais, que atraem os turistas. "O desafio do Litoral será ter um desenvolvimento sustentável mesmo com as demandas de investimento para o pré-sal e de novos portos. Como absorver tudo isso e manter a preservação ambiental?", questiona.

O que o Litoral precisa para se desenvolver?Deixe seu comentário abaixo e participe do debate.

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