Expedição em dados
Os principais indicadores coletados foram organizados e estão abertos para consultas e comparações. Há informações regionais e, em alguns casos, os detalhes por municípios.
Um trevo, cinco saídas e um gargalo
O Trevo Cataratas, em Cascavel, é a confluência da Avenida Brasil a principal da cidade com as BRs 467 (ligação para Toledo), 369 (ligação para Campo Mourão e Maringá) e 277 (saídas para Foz do Iguaçu e Curitiba). "O trevo é o maior gargalo logístico do Paraná", disse um funcionário da Secretaria de Infraestrutura e Logística do estado.
O problema não é novo. O próprio governo do Paraná tem um plano de construir um contorno para a cidade e, com isso, diminuir a pressão sobre um único ponto de rodovia. Mas não há previsão de ele sair do papel. A BR-277, principal rodovia do estado, é outro entrave, já que precisa de duplicação para dar conta da demanda de veículos que trafegam entre o Oeste terceira região mais rica do estado e Curitiba e o Porto de Paranaguá.
O gargalo logístico no Oeste foi o tema da reportagem da Expedição Paraná em 2010. Na oportunidade, foi mostrado o caso de Rafael Bertaioli, 38 anos. Motorista experiente, ele sofreu um acidente no Trevo Cataratas ao ir almoçar em casa. O carro dele ficou espremido entre dois veículos ao parar no semáforo. "Não passo mais aqui. Uso a via marginal", conta.
A construção de um trecho de aproximadamente 20 quilômetros da BR-169, entre as rodovias 467 e 277 (para desviar o fluxo Toledo-Foz) diminuiu a pressão sobre o trevo, mas o problema permanece. "Isso aqui no fim da tarde enche de caminhão. Trava tudo", diz Bertaioli.
Veja a matéria da época: http://bitly.com/2010oeste
"A tampa da chaleira está para explodir"
Com poucos leitos de internamento reservado ao SUS, população do Oeste sobrecarrega Cascavel, que demora para dar conta da demanda.
Um novo ritmo musical pode ser ouvido quando se caminha pelas ruas da pequena Serranópolis do Iguaçu, ao lado do Parque Nacional, cidade colonizada por descendentes de italianos e alemães. Além da música gaúcha comum no Oeste do Paraná , há várias casas tocando a cachaca, ritmo tipicamente paraguaio, de letras românticas e derivado da cumbia colombiana. Reflexo das centenas de paraguaios que iniciaram há cerca de dois anos uma rota de imigração para o Brasil em busca de empregos em frigoríficos e também na construção civil.
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Marti Leon Sosa e a esposa Domingas Vargas, de 43 e 39 anos, respectivamente, estão há seis meses em Serranópolis e são exemplos dessa nova onda imigratória no estado. O primeiro a chegar foi o filho mais velho, Benigno, de 21 anos. Depois de dois meses de adaptação, ele informou aos pais sobre a falta de mão de obra em várias cidades da região Oeste, o que favorece a contratação de estrangeiros. Em seguida, toda a família mudou-se para o Brasil. Marti e Benigno são pedreiros e recebem R$ 70 por dia. "No Paraguai ganhávamos 50 mil guaranis por dia, o que dá uns R$ 20 a R$ 25", fala Marti. Nenhum dos sete integrantes da família tem documentação brasileira.
A maioria dos paraguaios em Serranópolis veio do departamento de Caaguazú, perto da fronteira. O construtor Ary José Werlang chegou a ir ao Paraguai conhecer de perto a realidade local e fazer propaganda das oportunidades do lado de cá do Rio Paraná. "Tenho quatro obras simultâneas hoje. Sem os paraguaios teria uma." Werlang trabalha com 15 funcionários, 12 paraguaios.
O crescimento econômico do Brasil virou um grande atrativo para nossos vizinhos. O Paraguai, por exemplo, tem taxa de pobreza de quase 24%, um contingente de 1,5 milhão de pessoas, segundo levantamento recente do governo vizinho. No Paraná, segundo dados do IBGE de 2010, a população pobre é de 6,4%. "Na Região Sul a taxa de desemprego é de 4%. [A imigração] é um problema de quem tem pleno emprego", acredita Julio Takeshi Suzuki Júnior, diretor do Centro de Pesquisa do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes), falando do inevitável atrativo que o estado passa a ter.
São oportunidades que estimulam boa parte dos paraguaios a chegar ao Brasil sem documentação situação que gera insegurança, já que eles podem ser expulsos do país pela Polícia Federal (PF) por trabalharem sem autorização. A onda imigratória também pressiona os serviços sociais, como a oferta de saúde no SUS. Sem documentação brasileira, receber atendimentos de média e alta complexidade ficam mais difíceis para os imigrantes. "Até 2011, gastávamos 18% do orçamento em saúde. No ano passado, foram 22%", disse o prefeito de Serranópolis, Luiz Carlos Ferri. "Nem todo brasiguaio consegue emprego e criam-se comunidades carentes", diz Helena Aparecida Pereira Borges, coordenadora da Pastoral da Criança em Foz do Iguaçu.
Também não há preparo para receber os paraguaios nas escolas. "Meu filho está na escola e ele entende mais ou menos o português. Ninguém fala espanhol", conta Domingas.
O caso de Serranópolis não é único. Há comunidades de paraguaios em São Miguel do Iguaçu, Medianeira e Matelândia. "Muitos municípios enfrentam dificuldade para dar assistência aos paraguaios. É o caso de São João das Palmeiras e Diamante do Oeste", diz Jucerlei Sotoriva, prefeito de Santa Helena e presidente do Conselho dos Municípios Lindeiros. Laércio Grejanin, chefe do Núcleo de Imigração da PF em Foz do Iguaçu, diz que a corporação quer realizar reuniões para esclarecer como fazer a documentação para a permanência legal no Brasil.
Apesar das dificuldades de adaptação, a família Sosa vai se enturmando. Cristian, de 4 anos, já diz torcer para o Corinthians, enquanto os pais rivalizam com emblemas do Olimpia e do Cerro Porteño espalhados pela casa. Já Benigno conta que gosta do Botafogo e do funk. "Pretendo continuar a cá. A vida aqui es mejor."
Documentação
Para trabalhar no Brasil, estrangeiro precisa ter carteirinha de R$ 189
Os paraguaios que querem viver no Brasil podem requisitar a documentação de permanência em decorrência do acordo do Mercosul, bloco econômico e de integração formado por Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai e Venezuela. Para isso, precisam ir à uma delegacia da Polícia Federal (PF) para pedir o registro no país. "O valor que o estrangeiro deverá desembolsar para os procedimentos é de R$ 188,81, sendo R$ 124,23 relativos à confecção da carteira de estrangeiros e R$ 64,58 correspondentes ao registro", diz Laércio Grejanin, chefe do Núcleo de Imigração da PF em Foz do Iguaçu. O primeiro registro permite ao paraguaio morar e trabalhar por dois anos. Depois disso, é possível requisitar a residência permanente ao provar que trabalhou ao longo de todo o período e que tem condições de manter-se no Brasil. Novamente, pagará taxa para ter uma carteira de morador permanente.
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