Terceira colocada na disputa pelo governo do Paraná, com 14,87% dos votos válidos, a senadora Gleisi Hoffmann diz que o principal fator para o fraco resultado nas urnas foi uma campanha de "desconstrução" do PT promovida pelos tucanos. "As pessoas me cumprimentavam e diziam assim: Olha, gosto muito de você, mas não vou votar em você porque você é do PT. As pessoas estavam emocionalmente envolvidas com esse ódio. Aí ficava difícil argumentar", descreve a petista.
Gleisi, que contou na chapa com PDT e PCdoB, também reclamou da "ausência" do ex-senador pedetista e vice-presidente de Agronegócios do Banco do Brasil, Osmar Dias. "Se você me perguntar o sentimento que eu tenho em relação à participação do Osmar na campanha, é de decepção." Na última segunda-feira, Osmar entrou em licença não remunerada para trabalhar na campanha de Dilma Rousseff.
Qual é o diagnóstico da derrota na disputa pelo governo do estado?
Eu tinha que ter feito esse debate, em defesa do futuro do Paraná. Nós tivemos fatores que foram preponderantes para esse resultado. Um atinge não só o Paraná, mas vários estados brasileiros, concentrados no Sul e no Sudeste, que é uma campanha de desconstrução e de ódio contra o PT. Eu já fiz várias campanhas, não apenas como candidata, e essa foi uma das mais difíceis. Foi emocionalmente difícil. Parecia que o PT era responsável por todos os problemas da sociedade brasileira, inclusive dos problemas pessoais das pessoas. Não estou dizendo que o PT não tem erros e problemas, mas se cobra do nosso partido de forma muito mais veemente que de outros.
Como foi lidar com esse ódio no cotidiano da campanha?
Nunca tive nenhuma situação de animosidade, de cumprimentar alguém e não ser cumprimentada... Mas as pessoas me cumprimentavam e diziam assim: "Olha, gosto muito de você, mas não vou votar em você porque você é do PT". As pessoas estavam emocionalmente envolvidas com esse ódio. Aí ficava difícil argumentar. Outro problema, e eu acho que esse é de minha responsabilidade, foi minha ausência política do estado. Eu fui chamada para ser ministra da Casa Civil, aceitei e me dediquei de corpo e alma. Eu sabia que era um ministério interno, de "retranca", quase sem exposição. Eu não fiz uma política de comunicação adequada para mostrar de que forma eu estava ajudando. E sem informação as pessoas não tinham como ter referência desse trabalho. De que forma a sra. acredita que esse ambiente foi construído?
No Paraná foi algo construído politicamente, deliberadamente mesmo. Eu não dei a devida importância a isso, achei que as pessoas refletiriam melhor. Reiteradamente o governador falou que eu não colaborava com o estado. Eu pensava que não ia colar, afinal, tinha tantas coisas do governo federal acontecendo, programas, obras... Achei que as pessoas não iam se deixar levar por um argumento raso desses. Então a sra. avalia agora que subestimou os ataques que recebeu como ministra?
Subestimei. Achei que não seria tão eficiente. Aí juntou com minha ausência política. Aliás, se eu como ministra fizesse articulações voltadas para o Paraná, isso com certeza seria motivo de críticas não só a mim, mas à presidente. Eu procurei fazer a boa política levar ao estado programas, investimentos, mas não me utilizar do cargo para fazer articulação em benefício próprio. Vou dar um exemplo: eu participei de todos os Planos Safra, que interessam diretamente ao Paraná, mas quem dava entrevista sobre o assunto era o ministro da Agricultura. Tudo isso, finalmente, também teve consequência na formação de alianças eleitorais. A coligação da sra. contou só com PCdoB e PDT. Além disso, houve prefeitos do PDT que apoiaram a reeleição do governador. A sra. se sentiu traída por algum aliado? Alguns nomes como Gustavo Fruet e Osmar Dias deixaram a desejar?
O Fruet teve presença na campanha, gravou para o meu horário de televisão, participou de reuniões. Nós ainda não avaliamos o porquê do nosso resultado em Curitiba. É possível que a presença não tenha sido a que era necessária, mas ele teve presença. Em relação ao Osmar, foi uma absoluta ausência. E acho que isso refletiu muito no posicionamento do partido no estado. Se você me perguntar o sentimento que eu tenho em relação à participação do Osmar na campanha, é de decepção. Não só por conta da minha campanha, mas principalmente pela da presidenta. A presença dele no estado, dando esse depoimento do que foi feito, seria muito importante para que a presidenta tivesse se saído melhor no Paraná. Osmar costuma falar que não pode fazer campanha devido ao cargo que ocupa, de vice-presidente do Banco do Brasil.
Ele poderia ter tirado uma licença. Foi o que eu tinha sugerido inclusive. Não precisava ser de três meses, mas de 30, 40 dias. É plenamente possível. Não sei se ele consegue agora, no segundo turno, tirando uma licença de 15 dias, reduzir o estrago que foi feito lá, a desconstrução da imagem do PT. Você conversa com certos representantes da agricultura do Paraná e parece que o PT e a presidenta Dilma são os responsáveis por uma situação de insustentabilidade no setor. Quando na realidade estamos bem. E contra isso o Osmar teria sido muito importante. Mas o que ele falou à sra.?
Falou que estava vendo, avaliando, que ia falar com a presidenta. Não sei avaliar o que motivou. O que eu sei é que decepcionou. Dilma fez 33% dos votos no Paraná e o Aécio, 49%. Apesar dessa questão de rejeição ao PT, a sra. não poderia ter feito mais votos, no mesmo patamar dela?
Eu e o Requião [que também apoiou Dilma] fizemos juntos 42%. Então, ela é que poderia ter feito cerca de 10 pontos a mais. E como o agronegócio é fundamental para o estado, esse setor foi preponderante para impor uma derrota desse tamanho à presidente. Se eles reconhecessem o que foi feito por nós. Como a sra. vai ajudar agora Dilma no 2.º turno?
Vou me dedicar à campanha. Só tirei este último fim de semana para vir a Brasília ficar com meus filhos, passar pelo Senado e encaminhar meu mandato. Vou estar ativa na campanha da Dilma. Qual é a perspectiva política da sra. a partir de agora?
Eu sou senadora, represento o estado e vou continuar trabalhando pelo Paraná. E vou exercer, com muita responsabilidade e firmeza, meu papel de fiscalizar e cobrar do governador reeleito as promessas que ele fez durante a campanha.
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