A saída repentina do presidenciável Eduardo Campos da disputa eleitoral gerou incerteza sobre as alianças do PSB em Estados onde a atuação do ex-governador foi fundamental para consolidar os arranjos locais.
Lembrado por aliados pelo estilo conciliador e capacidade de articulação, Campos costurou pessoalmente acordos que ficarão enfraquecidos caso Marina Silva, vice da chapa, assuma a candidatura presidencial do partido.
Os problemas mais conhecidos estão nos Estados onde as alianças do PSB tiveram resistência de Marina, como São Paulo, onde o partido apoia a reeleição de Geraldo Alckmin (PSDB), e Rio, onde se aliou ao PT, de Lindbergh Farias.
A ex-ministra já evitava participar de agendas ao lado de candidatos que não endossava. A dúvida agora é se ela se manterá distante caso assuma a cabeça da chapa.
Em Santa Catarina, o deputado federal Paulo Bornhausen, filho do ex-senador Jorge Bornhausen, trocou o PSD pelo PSB em 2013 para acompanhar o projeto nacional de Campos. Recebeu dele o comando da sigla no Estado e o aval para articular uma aliança com o PSDB.
A composição contrariou os militantes da Rede, grupo de Marina, e a própria ex-ministra, que não acompanhou Campos em visita ao Estado em julho. "A minha candidatura ao Senado foi para dar palanque para ele", diz Paulo Bornhausen.
Em Alagoas, o apoio do PSB à candidatura de Benedito de Lira (PP) ao governo também foi costurado com a promessa de que ele seria o palanque de Campos.
Marina é próxima de Heloísa Helena (PSOL), que disputa o Senado por outra chapa e é rival de Lira e da ex-prefeita Kátia Born, presidente do PSB alagoano.
A dirigente socialista afirma que, se Marina for confirmada candidata, terá que viabilizar seu nome com os aliados locais, como Campos havia feito. "Não vai ser um processo tranquilo. Uma coisa era o Eduardo, outra coisa é outro nome."
Agronegócio
Partido que Campos havia prometido "mandar para a oposição", o PMDB deverá ser um dos focos de tensão com Marina. O PSB apoia candidaturas peemedebistas em seis Estados, sem o aval da Rede em três deles.
Um desses candidatos é Nelsinho Trad (PMDB), que disputa o governo de Mato Grosso do Sul e se dizia amigo próximo de Campos.
Ligado ao agronegócio, o candidato não tem apoio da Rede e enfrenta dificuldade de diálogo com a ex-ministra do Meio Ambiente.
Segundo um integrante da campanha de Trad, ele terá de "repensar" a aliança caso Marina se mantenha afastada de sua candidatura.
No Rio Grande do Sul, a saída de Campos pode acentuar um racha no PMDB local. Também ligada ao agronegócio, uma parte do diretório da sigla tinha resistência a apoiá-lo por causa da presença da ex-senadora na chapa, mas acabou sendo convencida.
A candidatura de Marina pode fazer muitos peemedebistas declararem apoio a Dilma, que já é defendida no Estado por um setor próximo ao vice-presidente Michel Temer. "Se ideias da Marina tivessem vingado no Código Florestal, criaria um problema econômico e social sério ao Estado", diz o presidente do PMDB-RS, Edson Brum.
A ala do partido próxima ao senador Pedro Simon e ao candidato ao governo, José Ivo Sartori, no entanto, tem afinidades com a ex-ministra.
Outros peemedebistas com apoio do PSB mas sem aval de Marina são o presidente da Câmara e candidato ao governo do RN, Henrique Eduardo Alves, e o governador de Sergipe e candidato à reeleição, Jackson Barreto.
Candidata
O PSB superou as divergências internas e selou acordo para lançar Marina Silva à Presidência da República no lugar de Eduardo Campos. Ela concordou com a inversão da chapa e deverá ser anunciada oficialmente na próxima quarta-feira (20). O novo presidente da sigla, Roberto Amaral, prometeu a Marina que ela não precisará permanecer no partido caso seja eleita.
O PSB agora discutirá a indicação do novo vice na chapa presidencial. O deputado gaúcho Beto Albuquerque, hoje candidato ao Senado, é o mais cotado para a vaga.
Partidos que o PSB apoia nos Estados
- PMDB: MS, PI, RN, RO, RS, SE- PSDB: PA, PR, SC, SP- PT: AC, RJ- PP: AL- PC do B: MA