A ex-senadora Marina Silva se vê lançada ao centro do palco eleitoral com a súbita morte do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos e agora terá de levar adiante sozinha o projeto construído com o aliado no ano passado, quando teve rejeitada pela Justiça Eleitoral a tentativa de fundar um novo partido.
Com perfil bem menos conciliador que Campos, que morreu em um acidente aéreo no caminho para um evento de campanha no litoral paulista, Marina chega à cabeça de chapa do PSB sem, na verdade, pertencer ao partido. Nascida em um seringal no Acre, Maria Osmarina Marina Silva Vaz de Lima tem 56 anos e foi colega de Campos no ministério do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva - ela no Meio Ambiente, ele na Ciência e Tecnologia. Ambientalista de carteirinha, militou ao lado de Chico Mendes, assassinado em 1988.
Marina tem uma ligação histórica com o PT, onde ficou por 24 anos e partido pelo qual foi eleita senadora no Acre, tornando-se a política mais jovem a chegar ao Senado, com 36 anos. Com a eleição de Lula em 2002, foi uma dos primeiros nomes anunciados pelo ex-presidente para seu ministério, mas acabou saindo do governo em meio a atritos, especialmente com o Ministério da Agricultura e com a então ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, em maio de 2008. "Esta difícil decisão, senhor presidente, decorre das dificuldades que tenho enfrentado há algum tempo para dar prosseguimento à agenda ambiental federal", escreveu Marina em sua carta de demissão a Lula.
Marina se alfabetizou somente aos 16 anos, quando se mudou do seringal para a capital acriana Rio Branco com o sonho de ser freira, que não se realizou. Mais tarde, porém, tornou-se evangélica e frequenta a Assembleia de Deus. Já se posicionou pessoalmente contra o aborto, embora tenha defendido que a questão fosse discutida pela sociedade.
A ex-senadora tem um grande histórico de problemas de saúde, como hepatite e contaminação por mercúrio, o que faz com que tenha uma dieta restrita e tenha de tomar cuidados como evitar o uso de maquiagem, que lhe causa alergia.
Trajetória política
Pouco mais de um ano após sua saída do ministério, Marina decidiu deixar o PT. Em comunicado ao partido em que iniciou sua carreira política manifestou desacordo com o que enxergava como uma "concepção do desenvolvimento centrada no crescimento material a qualquer custo, com ganhos exacerbados para poucos e resultados perversos para a maioria, ao custo, principalmente para os mais pobres, da destruição de recursos naturais e da qualidade de vida".
Onze dias depois estava filiada ao PV, partido pelo qual disputou a eleição presidencial de 2010 levantando a bandeira da sustentabilidade e buscando compensar os parcos 1 minuto e 23 segundos de tempo na TV com a mobilização, especialmente da juventude, nas redes sociais. Uma arrancada no final da campanha deu à então candidata verde perto de 20 milhões de votos, o que lhe garantiu a terceira posição e forçou um segundo turno entre Dilma e o tucano José Serra.
Agora como candidata à Presidência, Marina embola a corrida presidencial que caminhava para um segundo turno entre a presidente Dilma, que tenta a reeleição pelo PT, e Aécio Neves, do PSDB. Sua presença na disputa praticamente assegura que a eleição não será definida no primeiro turno e lança dúvidas sobre quais serão os dois oponentes finais.
Nova política
Quatro anos atrás, Dilma e Serra cortejaram Marina em busca de seu capital político, mas a ex-senadora declarou-se neutra no segundo turno daquele ano. Cerca de três anos depois, partiu de Marina a iniciativa de buscar um nome para legar seu capital político. Após a eleição de 2010, Marina passou a reclamar de falta de espaço político dentro do PV e decidiu desfiliar-se do partido, passando a buscar o projeto de uma nova legenda, iniciado com a criação do Movimento por uma Nova Política.
A tentativa de criar a Rede Sustentabilidade, no entanto, fracassou apesar de reclamações de partidários de Marina contra o procedimento de checagem de assinaturas dos cartórios eleitorais. Sem conseguir registrar a Rede no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no início de outubro do ano passado, a ex-senadora ficou com uma decisão a tomar: filiar-se a outro partido para disputar a Presidência ou desistir da candidatura.
Ela escolheu uma terceira alternativa. Entrou em contato com integrantes do PSB e já na noite de 4 de outubro, véspera do prazo final para a filiação visando as eleições deste ano, Campos viajou a Brasília para se encontrar com a ex-colega de ministério. O anúncio feito em um sábado surpreendeu o mundo político. Marina aliou-se a Campos e o mantra repetido por ambos o tempo todo era o da necessidade de uma "nova política".
A morte repentina do ex-governador pernambucano deixa agora Marina - que até ser confirmada como vice na chapa do PSB à Presidência aparecia nas pesquisas de intenção de voto com desempenho superior ao de Campos - como principal porta-voz dessa "nova política".
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