Os ataques de rivais contra a presidenciável Marina Silva (PSB) e seu programa de governo surtiram um efeito limitado no eleitorado, e aliados e estrategistas do PSB apostam na igualdade de tempo de TV no segundo turno para derrotar a presidente Dilma Rousseff (PT) na disputa final.
Marina, que chegou a liderar com vantagem de até 10 pontos simulações de segundo turno, aparece em empate técnico com Dilma nas pesquisas divulgadas nos últimos dias. Além disso, nas pesquisas internas e dos institutos, Marina passou a apresentar uma leve oscilação para baixo nas intenções de voto para o primeiro turno, enquanto a presidente oscilou para cima.
Esse quadro, porém, não surpreende o coordenador-geral da campanha, Walter Feldman. Ele acredita que o efeito dos ataques foi menor do que o calculado pelos adversários e que no segundo turno haverá condições mais iguais de disputa, o que permitirá a Marina esclarecer as críticas que sofre agora. "Os ataques (dos adversários) foram duros e contundentes, mas o efeito foi menor do que o imaginado pelos adversários", disse Feldman à Reuters. "E eles não tiveram a subida que imaginavam."
"No segundo turno o jogo muda, porque teremos tempo (na TV) para responder (os ataques). Eles vão continuar com o debate destrutivo e nós, com o programático. E aí ficará a diferença entre a gerente (Dilma) e a líder (Marina)", avaliou o coordenador, dando como certa a disputa entre PT e PSB no segundo turno.
Os últimos levantamentos Ibope e Datafolha mostraram o terceiro colocado na disputa, Aécio Neves (PSDB), bem atrás das duas candidatas. Agora, Marina tem apenas 2 minutos e 3 segundos na propaganda eleitoral obrigatória, contra 11 minutos e 24 segundos de Dilma e 4 minutos e 35 segundos de Aécio. No segundo turno, os candidatos terão 10 minutos cada para expor suas propostas no rádio e na TV.
Além do bloco do horário obrigatório, cada candidata tem um número de inserções ao longo da programação normal das emissoras e o número de Dilma agora também é bem maior que o de Marina.
Para o professor Roberto Romano, da Unicamp, os ataques da campanha petista são "lamentáveis" pelo nível baixo utilizado, mas ao contrário de Feldman ele acredita que as propagandas ainda podem surtir mais efeito no eleitorado de Marina e causar mais danos nas próximas semanas. "A Marina tem 2 minutos e a Dilma tem quase 12 minutos. E isso cala", afirmou Romano.
Um dos estrategistas de Marina reconhece que as oscilações nas pesquisas são decorrentes, principalmente, da campanha do PT contra Marina e que fizeram alguns eleitores deixarem de declarar voto na candidata do PSB. "Nem todo mundo que diz que vai votar na Marina está decidido, mas isso não é o suficiente para impedir a ida dela para o segundo turno", avaliou essa fonte à Reuters, pedindo para não ter seu nome revelado. Segundo esse estrategista, não há mais aquela vantagem inicial nas simulações de segundo turno, que permitiria Marina "vencer de braçada" a eleição.
Já o candidato a vice-presidente na chapa do PSB, o deputado Beto Albuquerque (RS), não acredita que Marina continuará oscilando para baixo nas pesquisas por conta dos ataques, mas admite que é cedo para dizer que o atual patamar garante chances de vitória no segundo turno. "Não creio em queda na pesquisa e nem em aumento dos outros", disse à Reuters. "Estamos com 30 por cento. É um bom patamar, mas é cedo para dizer se é suficiente para vencer o segundo turno", argumentou.
O sentimento no comitê de Marina é de que os ataques dos adversários, em especial do PT, estão no limite do que o eleitor tolera. "O PT está no limite de que o remédio vira veneno e está matando sua história com esses ataques", argumentou Feldman. Romano avalia, entretanto, que essa aposta pode estar errada. "A campanha da Marina foi extremamente inocente, eles acharam que a personalidade da Marina permitiria o efeito teflon. E isso não existe", argumentou o especialista.
Para Romano, não basta ter tempo igual na TV no segundo turno. "Ela tem um espírito religioso e não é assim que se rebate", disse Romano, referindo a declarações da candidata de oferecer a outra face. "É preciso que ela tenha o domínio da ironia e do deboche, caso contrário, ela vai ficar nas cordas."
Mas tanto Feldman, como Albuquerque e os estrategistas da campanha descartaram uma mudança na reação de Marina e da campanha nesse momento. A decisão é de manter a linha mais propositiva e tentar deter as "fofocas" e os "boatos mentirosos" contra a candidata.
"Dizem que ela vai acabar com o Bolsa Família, com o Prouni, com o Pronatec, com o Minha Casa Minha Vida. Nem se ela fosse o 'exterminador do futuro' isso seria possível", comparou um dos estrategistas da campanha, no que parece ser um discurso ensaiado pela campanha, já que a própria candidata deu uma declaração praticamente igual nesta manhã.
Apoio do PSDB
Há também outra aposta que embala a candidatura do PSB e infla a expectativa de vitória no segundo turno: a migração para Marina dos votos de antipetistas que estarão com Aécio no primeiro domingo de outubro. Esse é um trunfo eleitoral muito importante para a candidata do PSB, mas seus aliados estão tomando o máximo de cuidado para evitar constrangimentos aos tucanos e a Aécio.
Eles também temem que ao tentar construir pontes com o PSDB para o segundo turno desde já o discurso de quebra da polarização entre tucanos e petistas, um dos motes da campanha de Marina, seja atingido. "Seria um desrespeito com o Aécio buscar o apoio do PSDB agora. Nos deixaria com a imagem de hipócritas. Não está na hora", disse Feldman.
Ao mesmo tempo, porém, ele abre as portas para um futuro acordo eleitoral, de olho nos votos para vencer Dilma. "Depois (do primeiro turno), se o PSDB se dispuser, vamos conversar", disse o coordenador, acrescentando que isso os deixaria "muito felizes".
Mas há também quem acredite que os votos que Aécio conquistar no primeiro turno migrarão para Marina sem que haja a necessidade de qualquer acordo eleitoral com os tucanos.
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