Na tevê, candidatos evitam ataques e adotam tom mais propositivo

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A propaganda eleitoral no rádio e na tevê acabou ontem. No ar desde 19 de agosto, foram 90 horas de políticos na telinha. Em geral, os três principais concorrentes ao Palácio do Planalto – Dilma Rousseff (PT), Marina Silva (PSB) e Aécio Neves (PSDB) – usaram o tempo mais para propor do que para atacar os adversários. Quando criticaram, não optaram por ataques pessoais, de acordo com analistas. "O nível da campanha pela televisão costuma ser mais alto. No Executivo federal, as críticas são sempre sobre o comportamento público dos oponentes, dificilmente recai para as questões mais pessoais", comenta Alberto Carlos Almeida, autor do livro A Cabeça do Eleitor.

Dilma, candidata a reeleição, usou os programas para fazer uma retrospectiva do mandato. Ela destacou realizações, mas não deixou de falar sobre planos para o futuro. "Do ponto de vista publicitário, foi uma boa jogada de marketing o slogan ‘muda mais’, porque captou aquilo que veio nas manifestações do ano passado", comenta Pedro Fassoni, cientista político da PUCSP. Beneficiada por mais tempo de propaganda, Dilma apostou em muitos clipes e entrevistas com populares.

De acordo com Fassoni, ao longo da divulgação das pesquisas de intenção de voto, o programa dos candidatos mudou. "Para Dilma, quando as pesquisas indicavam queda, o tom era mais incisivo. Os últimos programas [após a recuperação] já foram bem mais leves e com o tom mais emocional", aponta.

Aécio e Marina puderam afirmar com mais ênfase o discurso oposicionista. Ambos aproveitaram o fraco desempenho da economia e os escândalos de corrupção para se colocar como contrários às ações do atual governo, mas com ressalvas. "Eles evitam, por exemplo, falar mal de Lula, que tem grande popularidade", diz Fassoni.

Palácio Iguaçu

Na disputa estadual, Beto Richa (PSDB) optou por programas temáticos, mostrando personagens e locais que teriam sido beneficiados na sua administração. Também exaltava pesquisas que o mostravam na liderança. Usou depoimentos dos tucanos Aécio Neves e Alvaro Dias (candidato ao Senado) e, assim como Dilma, no âmbito federal, fez poucos ataques aos adversários: criticou o governo federal e Requião apenas duas vezes.

Gleisi Hoffmman (PT) se apresentou como a candidata que governará em parceria com a União. Para reforçar essa imagem, apareceu várias vezes ao lado de Lula e exibiu imagens de Dilma falando sobre seu trabalho. "Ela mantém uma imagem de segurança a partir do respaldo que o governo federal dará a sua gestão", comenta Deizi Link, especialista em análise do discurso.

Roberto Requião (PMDB) escolheu criticar fortemente a gestão de Beto Richa, especialmente em relação às contas públicas. Temas como o aumento das contas de luz, da substituição tributária e das rebeliões em penitenciárias foram recorrentes. Ao criticar, ele garantia ao eleitor a volta de seus programas de governo. "Ele se apresenta como um bom cidadão que tem o dever de denunciar os erros atuais. Apela para a memória política do eleitor e se ancora na tradição do seu governo", avalia Deizi.

A Gazeta do Povo usou um programa de computador para destacar as principais palavras-chave usadas pelos concorrentes ao governo do estado durante os programas eleitorais de 19 de agosto a 1º de outubro. Veja o resultado:

Requião

Reforçou os problemas que o Paraná enfrenta e buscou personalizá-los. Por isso, o nome de seu principal oponente, "Beto", é muito utilizado. Requião também destacou que irá repetir ações de sua gestão passada. A palavra "volta", por essa razão, foi utilizada com frequência.

Richa

Utilizou com frequência o verbo "acreditar", seu principal lema de campanha. Seu discurso também busca reforçar a ideia de esforço e proximidade com o povo, com a repetição de "trabalho", "nossa" e "gente". Recorreu também a palavras que enaltecem sua administração, como "bem" e "bom".

Gleisi

Usou termos que buscam sinalizar as ações de seu futuro governo. Tenta passar a ideia de que fará mudanças. Fez reiteradas referências ao trabalho realizado como ministra da Casa Civil e aos programas criados pelo governo federal. O nome "Dilma" e a palavra "presidenta" apareceram com frequência.