A bancada peemedebista do Senado tem potencial para criar dificuldades em um eventual mandato presidencial de Marina Silva. Mesmo tendo sido senadora por dois mandatos, de 1995 a 2011, com uma passagem no Ministério do Meio Ambiente (2003 a 2008), Marina não tem um interlocutor dentro do PMDB capaz de conversar e agradar a todas as alas do partido, que se acostumou a apoiar os governos FHC, Lula e Dilma em troca de distribuição de cargos e de emendas parlamentares. Ela tem dito que quer fazer uma "nova política" sem essa barganha.
O apoio do PMDB é de grande importância para os planos de Marina que, em caso de vitória, disse que vai trabalhar no Congresso para aprovar duas reformas constitucionais: a política e a tributária. Para tanto, precisaria de, pelo menos, 49 votos dos 81 senadores. A tendência é que, após as eleições, o PMDB permaneça com a maior bancada no Senado - atualmente tem 19 senadores -, o que lhe garante direito, pelo regimento interno, a indicar o presidente do Senado e do Congresso, e o comando da principal comissão, a de Constituição e Justiça (CCJ). Com esses dois postos, o andamento das propostas poderiam ser facilitadas ou dificultadas.
A avaliação é a de que a "bancada" de Marina sozinha - que abrigará apoios individuais de integrantes do PSB, PMDB, PT, PSDB, PDT, entre outros partidos - deve ter no máximo 40 parlamentares. Os apoios de bancadas completas não estão certas por enquanto, exceto o do próprio partido dela, o PSB.
A "presidente-Marina" tem boas relações com senadores peemedebistas que atualmente não têm ascendência sobre os colegas, como o candidato à reeleição Pedro Simon (RS), que nem sequer participa das reuniões da bancada. Teria de fazer acenos para conquistar apoios no partido. Entretanto, ela tem adotado uma postura em relação ao Congresso mais pragmática do que Eduardo Campos, morto em acidente aéreo no dia 13: em vez de "fulanizar" como fez Campos que, em seu governo, o atual presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB), forte candidato a ficar na cadeira pelos próximos dois anos, vai para a oposição, Marina defende uma nova forma de fazer política sem vetar nominalmente qualquer pessoa. A leitura é de que Marina tem tentado garantir pontes com o PMDB do Senado.
Um cacique peemedebista disse que a relação de Marina com o PMDB vai depender da "sinalização" que ela dará logo no início da gestão, caso vença. "Ninguém vai implodir o País numa primeira circunstância", disse. "A oposição não é uma empresa de demolição", completou, numa indicação de que o partido não iria, desde logo, para o confronto. Outro senador do partido que conviveu com Marina no Senado disse estar "com um pé atrás". "Ela vai ter que conversar com a gente. Não dá para ter posições inflexíveis, como na discussão do Código Florestal", avaliou.
Ponte
O candidato a vice de Marina, Beto Albuquerque, é apontado por senadores como uma possível ponte dela diante da ausência de um interlocutor forte, por ora, no PMDB. Ligado ao agronegócio, Beto já acenou a senadores que está à disposição para se aproximar do partido.
Presidente da Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), a senadora Kátia Abreu (PMDB-TO) afirmou que Marina não pode ser "higienista" e "seletiva" no Senado, como fez ainda quando era vice de Campos, ao vetar o apoio do deputado Ronaldo Caiado (DEM), expoente do agronegócio. "Não aceito nenhum tipo de seleção", criticou. "Ela começou muito mal quando disse que governa com pessoas e não com partidos", completou, fazendo referência a discursos recentes da candidata.
Ligado a Marina, Pedro Simon, por sua vez, aposta na renovação e na participação popular para conquistar os votos dos senadores - inclusive do PMDB. "Eu duvido que o governo vai pressionar alguém para votar", disse.
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