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Partido fundado em 2005 por dissidentes do PT e do PSTU, o PSol pode não ter conseguido levar para o segundo turno a disputa pela prefeitura do Rio de Janeiro nas eleições deste ano, mas seu desempenho nas urnas - com o segundo lugar do candidato Marcelo Freixo e as quatro vagas conquistadas na Câmara Municipal na capital carioca - foi suficiente para colocar o partido em evidência no cenário político da cidade.

Mas não foi só no Rio que o PSOL alcançou boas marcas. Nas três outras capitais do Sudeste - São Paulo, Belo Horizonte e Vitória - o partido também registrou crescimento no voto destinado à legenda, ou seja, aumentou a quantidade de eleitores que cravaram o número 50 nas urnas. Estaria o 50 substituindo o 13 na conquista pelos chamados votos ideológicos, que tradicionalmente eram destinados ao PT?

O recente atrito entre o PSOL e o PT em Belém, surgido depois que o ex-presidente Lula gravou um depoimento apoiando o candidato à prefeitura de Belém Edmilson Rodrigues pelo partido adversário, bota mais lenha na fogueira. O PSOL, que surgiu justamente para contestar o agora governista PT, rachou naquele município.

Em comparação com as eleições municipais do Rio em 2008, o partido teve este ano um aumento aproximado de 307,2% nos votos para a sua legenda, o que caracterizaria o chamado voto ideológico. Quando o eleitor opta pelo número do partido, é como se estivesse dando uma carta branca a ele, em vez de escolher nominalmente um candidato. Em contraposição, o PT registrou queda de 61,8% nos votos dados à legenda.

Eurico Figueiredo, professor de Ciência Política da pós-graduação da UFF, acredita que o bom desempenho do PSol esteja atrelado ao vazio deixado na esquerda pelo PT.

"Ainda que hoje seja mais complicado falar em termos políticos de esquerda e direita, o PT, sem dúvida, ocupa atualmente uma posição mais central no panorama político, o que abriu espaço para que outros partidos de esquerda, como o PSOL, conseguissem o apoio da classe média, de setores estudantis e grupos de trabalhadores", afirma Figueiredo.

Já Jairo Nicolau, cientista político da UFRJ, também ressalta o bom desempenho do PSOL nas eleições deste ano, mas afirma que é preciso ter cautela na comparação entre o partido e o PT. "O PSOL teve um bom desempenho no Rio, mas, sem dúvida, o resultado do partido para a Câmara Municipal foi impulsionado pela popularidade conquistada pelo Marcelo Freixo, que hoje é uma figura maior que o próprio PSOL. Nada garante que o partido conseguirá repetir isso futuramente. O PV, por exemplo, também teve um bom desempenho no Rio em 2008, mas, nessa eleição, foi inexpressivo", analisa Jairo. "Caberá ao PSOL se organizar para não perder força nos próximos anos".

Outras capitais

Nas demais capitais do Sudeste, assim como no Rio, o PSol também teve candidato próprio às prefeituras, embora em nenhuma delas eles tenham alcançado um desempenho que se compare ao de Freixo no Rio. Em São Paulo, o candidato do partido, Carlos Giannazi, ficou em 5º lugar, mas o partido teve um aumento de 57,2% nos votos conquistados para a legenda. Em Vitória, o crescimento foi de 55,9% e, em Belo Horizonte, de 524,3%. Em contraste, os votos para a legenda do PT registraram queda em todas essas capitais, à exceção de Belo Horizonte.

Apesar dos números, o cientista político e professor da PUC-RJ Ricardo Ismael acredita que ainda é cedo para afirmar se o PSOL ocupará o lugar que cabia ao PT. Para ele, o fato de os petistas não terem tido um candidato próprio à prefeitura do Rio, apoiando o prefeito reeleito Eduardo Paes, do PMDB, pode ter beneficiado o desempenho do PSol.

"O PSol cresceu devido à boa campanha do Marcelo Freixo, por um lado. Por outro, o PT não está mais ocupando a mesma posição de outrora, o que abriu caminho para que outras lideranças pudessem ganhar espaço. Ainda assim, acho que precisamos aguardar ainda algumas eleições para vislumbrar qual será o cenário futuro", afirma Ismael.

A falta de um candidato próprio também foi mencionada pelo presidente estadual do PT no Rio, Jorge Florêncio de Oliveira, como a principal razão para o partido ter tido um desempenho abaixo do esperado. Pela mesma razão, o petista também acredita ser cedo para afirmar que o PSol está abocanhando o quinhão petista.

"Esperávamos um desempenho melhor nas eleições cariocas, emplacando cinco vereadores, em vez de quatro. Como não tivemos uma candidatura própria para prefeito, isso acabou tendo um impacto negativo no voto para a nossa legenda, que foi muito abaixo das eleições de 2008. Podemos ter perdido para o PSOL votos em setores mais conscientizados politicamente", admite Oliveira, que vê uma candidatura própria do PT para o governo estadual do Rio em 2014 como um requisito fundamental para o partido se recuperar.

Mesmo entre os petistas cariocas, houve quem apoiasse a campanha do PSol e de Marcelo Freixo, em detrimento da aliança do PT com o PMDB de Paes. Foi o caso de Stel Soares, sindicalista e diretor do Clube de Engenharia. Membro do PT há cerca de 20 anos, Stel integrou o movimento "Petistas com Freixo" por achar incoerente a situação do seu partido no Rio.

"Não tenho dúvida de que o PSOL angariou muitos votos do PT nessa eleição carioca, todos votos ideológicos. E isso aconteceu pela falta de alternativa do petista histórico. Foi um voto de protesto", afirma Soares.

Para o deputado estadual Marcelo Freixo, protagonista da disputa pela prefeitura carioca com o prefeito Eduardo Paes, o desempenho do PSOL foi resultado do projeto de cidade construído pelo partido. Para ele, o principal desafio do PSOL para o futuro é justamente fugir da comparação com o PT e construir uma identidade própria.

"Não entramos na eleição para firmar uma posição partidária ou ideológica, mas sim para apresentar um projeto de cidade alternativo. O PT vem fazendo uma escolha de ser um partido satélite e, com isso, tem perdido a característica crítica, o que se expressa no resultado eleitoral. O maior desafio para a história do PSol é construir uma imagem própria e evitar ser simplesmente um novo PT", afirma Freixo.

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