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 | Fotos: Paulo Whitaker/ Reuters
| Foto: Fotos: Paulo Whitaker/ Reuters

O telespectador que acompanhou na terça-feira o debate da Band TV entre os candidatos Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) pode ter saído com mais dúvidas do que tinha antes do embate. Sem tema definido para perguntas entre os dois e sem a participação de jornalistas para dirigir perguntas aos concorrentes, o formato deixou os dois livres para abordar as questões que mais lhes interessavam. O resultado foi que não aprofundarem as propostas para o país e preferiram trocar acusações. A Gazeta do Povo separou alguns dos temas em que os dois divergiram para verificar quais informações são procedentes, as que não são e aquelas em que o discurso do candidato foi parcialmente verdadeiro.

Corrupção

Dilma afirmou que seu governo deu liberdade para a investigação sobre corrupção. Em contrapartida, citou denúncias de corrupção envolvendo políticos tucanos e aliados que não teriam sido investigadas e resultado em punição, como os casos da suposta compra de votos para a reeleição de Fernando Henrique Cardoso; a "pasta rosa"; supostas doações irregulares para campanhas eleitorais; a denúncia de tráfico de influência no caso Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia) no governo FHC; a denúncia de cartel para obras no metrô de São Paulo; e o mensalão mineiro. Na verdade, alguns dos casos foram parcialmente investigados e concluídos sem apontar culpados; e outros ainda estão na Justiça. Veja a situação de cada um deles abaixo:

Mensalão mineiro: o caso do desvio de verba de estatais mineiras para beneficiar o então candidato à reeleição para o governo mineiro Eduardo Azeredo (PSDB), em 1998, não está parado. Corre na Justiça de Minas.

Cartel do metrô: a multinacional alemã Siemens denunciou cartel iniciado no governo Mário Covas, em 2000, seguido pelos governos Geraldo Alckmin e José Serra, todos tucanos, para fraudar obras ferroviárias. A Suíça investiga a denúncia desde 1997. Inicialmente investigado pela Justiça paulista, o caso seguiu para STF por envolver políticos com foro privilegiado e corre em segredo de Justiça.

Pasta Rosa: em 1995, funcionários do Banco Central, em auditoria no Banco Econômico, localizaram uma pasta rosa com documentos que indicariam doações ilegais do banco a políticos, a maioria do extinto PFL (hoje DEM), aliado do PSDB no governo FHC. O então procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, pediu o arquivamento das denúncias, acatado pelo STF.

Sivam: denúncias apontaram favorecimento de empresas brasileira e norte-americanas para a instalação do Sistema de Vigilância da Amazônia. Em 1995, o PT, então na oposição, pediu uma CPI para investigar o governo FHC. A investigação, que contava com gravações telefônicas indicando possível tráfico de influências, só foi aberta em 2001 e acabou encerrada por falta de provas, sem nenhum punido.

Compra de votos: O jornal Folha de S.Paulo obteve gravações, em 1997, com a confissão de dois deputados – João Maia e Ronivon Santiago (do extinto PFL) – de que eles e outros quatro parlamentares receberam R$ 200 mil cada um para votar pela emenda que permitiu a reeleição de FHC. A oposição não conseguiu criar uma CPI e uma comissão de sindicância inocentou todos.

Miséria

Dilma afirmou que o governo do PT tirou 36 milhões de pessoas da miséria (aqueles que ganham menos de R$ 81 por mês). Os 36 milhões são, na verdade, os beneficiários do programa Bolsa Família, que, com o complemento de renda, tecnicamente deixaram de ser miseráveis.

Violência

Dilma afirmou que os homicídios aumentaram em Minas durante as gestões do PSDB. Dados do Mapa da Violência de 2014 mostram que a taxa de homicídios cresceu 52,3% no estado na última década.

Creches

Dilma afirmou que seu governo entregou duas mil creches. Dados do PAC2, porém, mostram que apenas 379 foram concluídas. Mais de duas mil ainda estão passando pelo processo de licitação.

Gasto mineiro com saúde

A petista afirmou que o governo mineiro não investe os 12% exigidos por lei no sistema público de saúde. De fato, há um acórdão do Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais que comprova que, em 2012, o governador Antônio Anastasia (PSDB), sucessor de Aécio, firmou um Termo de Ajustamento de Gestão (TAG) para adequação gradual de aplicação de recursos nos serviços públicos de saúde. De acordo com o termo, o governo deveria atingir os 12% apenas neste ano.

Plano Real distribuiu renda

Aécio Neves disse que o Plano Real, criado no governo tucano de Fernando Henrique Cardoso, foi o maior distribuidor de renda do país. Realmente, a estabilização da moeda e o controle da inflação possibilitaram – mas não fizeram sozinhas – as bases para uma melhor distribuição de renda, consolidada com os programas sociais posteriores.

Saúde

O candidato justificou que a Emenda 29, que determinou a aplicação pelos estados de 12% da arrecadação na saúde não existia até recentemente. Por isso estados como Minas não podem ser acusados de descumpri-la. De fato, a emenda foi regulamentada em 2011.

Saúde e Bolsa Família

Para rebater a acusação de que Minas não investiu 12% na saúde, Aécio afirmou que o governo do PT tentou incluir recursos do Bolsa Família como gasto de saúde. De fato, em 2005, medida provisória do presidente Lula tentou repassar R$ 1,2 bilhão do Ministério do Desenvolvimento Social para o Ministério da Saúde. O dinheiro seria destinado ao próprio Bolsa Família, mas o Congresso vetou essa parte da MP.

Inflação

O tucano disse que o governo Dilma perdeu o controle da inflação. Na verdade, a meta da inflação é de 4,5%, e chegou a 6,5%, que é o teto fixado – ainda dentro da meta, mas no limite máximo.

Educação na rabeira

Aécio afirmou que o Brasil está atrás de outros países em todos os rankings da educação. No Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), um dos principais indicadores da educação do mundo, que leva em consideração 65 países, o Brasil está mal, mas não na lanterna. Em matemática, o Brasil aparece em 58º. Em Leitura ocupa a 55º posição e, em Ciências, está na 58º.

Aeroporto de Cláudio

O senador afirmou que o Ministério Público Federal não havia aceitado a investigação criminal pela construção do aeroporto de Cláudio (MG), em área pertencente a sua família, quando ele era governador. É um fato. Mas a investigação de improbidade administrativa ainda existe.

Nepotismo

O tucano negou que parentes tenham feito parte de seu governo. Mas familiares próximos a Aécio de fato fizeram parte de sua gestão em Minas Gerais. A lista inclui a irmã, primos e um tio.

Segurança

Segundo o tucano, apenas 40% dos recursos do Fundo Nacional de Segurança foram utilizados pelo governo federal. Na verdade, o Portal da Transparência mostra que os gastos com o fundo foram de 16% do total. O valor previsto para 2014 era de R$ 575,6 milhões e os gastos, até agora, foram de R$ 93,3 milhões

Desempenho da indústria

Aécio afirmou que o desempenho da indústria brasileira na gestão Dilma é o pior dos últimos 50 anos. De fato, o desempenho industrial enfrentou dificuldades no governo da atual presidente, chegando a ter retração em alguns momentos. Porém, a série histórica de avaliação foi iniciada em 1992, com resultado pior que os atuais, não permitindo comparação com décadas anteriores.

Petrobras

Aécio disse que Dilma, em outra ocasião, havia mentido ao afirmar que demitiu em abril de 2012 o ex-diretor de abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa, atualmente investigado pela Operação Lava Jato. Na verdade, Costa não foi demitido; saiu da estatal por sua própria vontade

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