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| Foto: Andre Rodrigues/ Gazeta do Povo

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Entre os candidatos à Presidência da República, a Gazeta do Povo também já entrevistou Aécio Neves (PSDB) e Luciana Genro (PSol).

Luciano Genro defendeu reforma para taxar grandes fortunas. Leia a entrevista completa.

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A defesa da reforma agrária, da estatização do sistema bancário, do aborto, do fim da Polícia Militar e o aprofundamento da democracia direta estão na agenda de temas que serão defendidos por Mauro Iasi, candidato à Presidência da República pelo PCB.

Embora sejam assuntos controversos, Iasi defende que essas bandeiras têm de ser ao menos discutidas. A candidatura serve para apresentar o debate à população mais do que para angariar votos. "Não vamos contabilizar eleitores. Queremos mostrar que estes assuntos precisam ser discutidos", afirma.

O PCB integrou a base aliada até 2003, mas rompeu com o PT e com Lula por não concordar com o andamento do mandato. Iasi não considera ruim que o partido, desde então, precise lutar por visibilidade. "Nós pagamos um preço alto por não manter a governabilidade, mas detestaríamos estar do lado de quem venceu. Hoje, eles estão respondendo pela aliança com ruralistas e banqueiros, com empreiteiras. O governo não transforma as pessoas em canalhas, ele só dá chance para que os canalhas se revelem", reclama.

Iasi esteve ontem em Curitiba para o lançamento das campanhas do PCB no Paraná. Ele conversou com a Gazeta do Povo sobre a candidatura e a relação que teve com o PT, partido que integrou até 2004. Veja os principais trechos da conversa: Já foi dito em entrevistas e em outras ocasiões que as candidaturas do PCB têm objetivo de mostrar o projeto do partido. Se a conquista dos votos não é o objetivo principal, como defender e sustentar esse tipo de campanha?

Temos um diferencial. Estamos organizados em todo território nacional e achamos que era essencial, nesta eleição, apresentar o projeto próprio do partido. Muito em função da característica dessa eleição e da mudança que houve na conjuntura desde o ano passado, com as manifestações. Acreditamos que temos o dever de intervir no debate político brasileiro, já que as eleições têm rodado em torno de temas mais imediatos, que não vão a fundo nos problemas estruturais do país. A eleição tem se tornado um espaço em que os projetos políticos são muito reduzidos. Seja a continuidade do governo ou com as expectativas da oposição. Foi uma decisão conjunta do partido?

Foi. Participamos de um processo intenso de congresso, que culminou com a reafirmação de nossa estratégia e a reflexão de como agir neste momento, que foi a escolha pela candidatura própria. E como foi a escolha pelo seu nome dentro do partido?

Eu sou um professor universitário. Trabalho com educação popular, tenho militância nesta área, na produção intelectual e acadêmica. Não tenho nenhuma carreira política, nem pretendo ter. O nome foi uma escolha do comitê central e referendada pelo congresso, por acreditar que eu posso representar esse debate. O plano de governo do PCB, registrado no TSE, diz que o Brasil tem uma série de problemas estruturais. Para o PCB, quais são esses problemas e o que será defendido como passível de mudança?

Nós resumimos nossas principais propostas em cinco eixos. O primeiro é o que chamamos de "desmercantilização" da vida, no qual é afirmado que tudo que é essencial à existência humana, como educação, saúde, transporte, moradia, são direitos e, como tais, têm de ser garantidos pelo Estado de maneira universal, pública e gratuita. Um segundo eixo é que, para garantir esses direitos, são necessárias algumas mudanças na lógica econômica do Brasil. Defendemos mudanças de caráter socializante, que passa pela reversão das privatizações.

É preciso que o Estado tenha o controle de setores estratégicos da economia, como a produção e distribuição de energia, mineração, portos, aeroportos, o que inclui, por exemplo, a estatização de todo sistema financeiro, uma reforma agrária profunda e radical.

O terceiro eixo seria um aprofundamento da democracia direta, com participação popular efetiva. O quarto eixo seria um resultado de tudo isso: a garantia e a ampliação de todos esses direitos. E, por fim, a nossa compreensão é que o Brasil precisa ter um protagonismo maior nas questões internacionais, mas isso precisa ser feito em consonância com essas mudanças.

As candidaturas de esquerda que estão sendo defendidas neste ano [PSol e PSTU], sustentam muitos pontos parecidos. Esses partidos não teriam mais chance de expor o que acreditam se estivessem em uma coligação?

Nós sempre defendemos uma frente de esquerda com aquelas forças que se opõem aos ideais defendidos pelo governo do PT nos últimos anos. Tentamos intensamente, mas temos críticas quanto ao método de construção desta frente de esquerda. Nós acreditamos que ela não pode ser uma frente meramente eleitoral. Ela tem de ser algo que se construiu nas lutas. O método aplicado geralmente é o inverso. O PCB defende alguns posicionamentos radicais, como a estatização do sistema bancário e a reforma agrária. Esse tipo de argumento "espanta" as pessoas? Como defendê­los?

Toda proposta de mudança gera estranhamento e achamos que isso é positivo, porque chama atenção para o debate. Por exemplo: todo mundo deveria se perguntar, todo dia, para que serve um sistema financeiro e bancário no país. O mesmo diz respeito a outros temas que parecem radicais, mas que precisam ser debatidos, como é o caso das privatizações. Quando foi privatizada a telecomunicação, dizia-se que várias empresas disputando baratearia o serviço e melhoraria a qualidade. Nós vemos, hoje, que pelos dois lados isso é uma falácia. O serviço é caro e as empresas são as primeiras nas listas de reclamações. E isso precisa ser debatido, não apenas aceito. Quando a gente para e pensa, não é tão estranho assim.

O senhor estava no PT até 2004 e depois voltou ao PCB, partido que militou na juventude. Como avalia as gestões do governo federal que estão a cargo do PT?

Eu costumo dizer que, se o PT cometeu algum crime, foi o de "lesa-geração". Porque há uma geração de militantes que tinha possibilidade de fazer política diferente, de mudar o país numa perspectiva das classes trabalhadoras, mas o PT optou por uma forma de governabilidade que se rende às formas mais tradicionais da política brasileira. Pela governabilidade, que salva os setores da classe dominante e mantém a concentração de renda, sob um verniz de mudança social. Isso é muito perverso para a classe trabalhadora, porque atrasa a conscientização desta classe e a desarma. Por isso o PCB rompeu com o Lula, já em 2003. Muitos partidos nasceram nessa toada da classe trabalhadora, mas se modificam para conquistar eleitores, como o PT e o PCdoB. Isso também pode acontecer com o PCB?

Essa é uma tentação muito grande, uma sedução muito grande. Principalmente num país como o nosso, com desigualdades tão profundas, onde aqueles que aderem a ordem são muito bem recompensados, enquanto aqueles que se mantêm na luta dos trabalhadores normalmente são perseguidos e sofrem por isso. O PCB tem vantagem, que é o peso histórico do partido. Acho que tivemos um posicionamento único, pois o PCB era aliado de Lula, estava no governo e tinha as benesses que isso produz, mas optou por manter seus princípios e a linha política, pagando o preço de viver um momento no isolamento.

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