Um bimotor transportando mais de R$ 500 mil em dinheiro e cerca de 5 quilos de santinhos (impressos) de dois candidatos às eleições no Estado do Tocantins foi flagrado pela Polícia Civil de Goiás na quinta-feira, 18, durante uma operação de combate ao tráfico de drogas. Além do dinheiro e dos impressos, o plano de voo da aeronave foi alterado, segundo a polícia, e o piloto tentou fugir, sendo impedido pelos agentes.
Os impressos têm o nome de Marcelo Miranda, ex-governador que lidera a disputa pelo cargo no Estado, mas que teve os bens indisponibilizados pela Justiça Federal esta semana. O outro político dos impressos é o candidato a deputado federal Carlos Henrique Gaguim. Ambos são candidatos pelo PMDB.
Marcelo Miranda estava em campanha em Araguaína, no interior do Tocantins, na manhã desta sexta-feira, 19. O assessor de comunicação da campanha, Melk Aquino, informou que o conselho político da chapa decidiu não falar, nem divulgar nota ou resposta, por enquanto. "Serão dadas respostas política e jurídica nos próximos dias. O que se quer é que seja apurado", afirmou.
Em entrevista à TV Anhanguera na noite de quinta, publicada pelo jornal O Popular nesta sexta, Marcelo Miranda disse que desconhecia o ocorrido. O celular de Carlos Henrique Gaguim não atendeu e ele não retornou aos recados.
Flagrante
Foram presos Douglas Marcelo Alencar, 38, apontado como o líder do grupo; Marco Antônio Jayme Roriz, 46; Lucas Marinho Araújo, 24, segurança; e o piloto da aeronave Roberto Carlos Maya Barbosa, 48. O delegado responsável pela operação Ricardo Chueire, comanda o Grupo Especial de Repressão a Narcóticos (Genarc) de Itumbiara e fez o flagrante em Piracanjuba, cidade a cerca de 85 quilômetros de Goiânia, imaginando que os envolvidos estavam transportando drogas.
Por volta de 15 horas de quinta-feira, 18, as equipes do Genarc de Itumbiara, que cobre a região de Piracanjuba, investigavam a ação de traficantes de drogas quando viram uma caminhonete Toyota Hilux chegando a uma pista de pouso da cidade e acreditaram se tratar da carga de entorpecentes. Conforme ele, com a aproximação das viaturas, o piloto, que estava com o motor ligado, "tentou decolar, mas foi perseguido, abordado e impedido pelos Policiais Civis". O bimotor prefixo PR GCM seria de um empresário tocantinense do ramo da construção civil, amigo de Marcelo Miranda.
Crime eleitoral
Segundo Chueire, foram encontrados no interior do avião, R$ 504 mil em maços ainda com os invólucros da Caixa Econômica Federal. "Havia também farta quantidade de santinhos que nem contamos, pesamos, para ter noção", disse. O dinheiro teria sido sacado em uma agência da própria Piracanjuba, cidade que não constava no plano de voo da aeronave, relatou o delegado. Conforme ele, o avião seguiria para Palmas com o dinheiro e o material publicitário apreendido.
"Assim que fizemos o flagrante, eles (os presos) confirmaram que o dinheiro era para a campanha eleitoral (de Miranda), mas na presença do advogado eles prestaram depoimento formalmente negando isto", informou Chueire. No depoimento, os envolvidos (menos o piloto), afirmaram que o dinheiro era de um empréstimo feito em Brasília, usando a conta do segurança Lucas emprestada. Já a polícia investiga se o "laranja" do esquema foi o segurança que seria natural de Piracanjuba, e cuja conta bancária para a transação suspeita teria sido usada para movimentar o volume encontrado e outras quantias.
O delegado ainda não sabe por quanto tempo o grupo ficará detido. Segundo ele, a Procuradoria Eleitoral do Ministério Público Federal do Tocantins já foi comunicada dos "fortes indícios de crime eleitoral" e receberá cópias dos procedimentos instaurados em Goiás. "Não estamos investigando crime eleitoral aqui, isto cabe a eles (MPF-TO)", reforçou. A reportagem não conseguiu contato com o advogado dos presos que foram autuados por enquanto por lavagem de dinheiro, associação criminosa e crime tributário.
Crises
Pesquisa recente, realizada pela TV Anhanguera, aponta que Marcelo Miranda tem 48% das intenções de voto no Tocantins, contra 33% do segundo colocado, Sandoval Cardoso (SD), sinalizando chances de vitória no primeiro turno.
Miranda, que já foi governador do Tocantins por dois mandatos, foi cassado em 2009 pelo Tribunal Superior Eleitoral acusado de, nas eleições de 2006, ter feito compra de voto, abuso de poder e uso indevido dos meios de comunicação, ficando inelegível por oito anos.
Ocorre que a inelegibilidade do candidato ao governo vence em 1º de outubro, às vésperas da eleição do dia 5.
Agravando ainda mais a situação, a Justiça Federal, a pedido do MPF-TO, decretou a indisponibilidade dos bens de Miranda esta semana. O motivo é a suspeita de desvio de mais de R$ 20 milhões em supostos esquemas em um dos governos dele. Durante a prisão em flagrante em Piracanjuba, a situação da indisponibilidade dos bens do candidato teria até sido relatada aos policiais como motivo para o levantamento do dinheiro que foi flagrado no avião o que foi negado em depoimento depois.
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