A última semana da campanha eleitoral transformou, ao menos na propaganda, os principais candidatos à Presidência em inimigos declarados dos bancos e do sistema financeiro nacional. O embate inicial protagonizado por Dilma Rousseff (PT) e Marina Silva (PSB) sobre a independência do Banco Central (BC) tomou outro rumo e descambou em uma disputa para saber qual candidata seria mais avessa aos bancos.
A propaganda petista afirmou que, com um BC independente, Marina permitiria que banqueiros passassem a decidir não só sobre os juros, mas também sobre salários e até sobre os empregos dos brasileiros. Marina retrucou dizendo que no governo Dilma houve distribuição do "bolsa-banqueiro", em referência aos ganhos das instituições bancárias no governo petista. Na tréplica, Dilma associou a candidata do PSB à herdeira do Banco Itaú, Neca Setubal, que apoia publicamente Marina: "Não tenho banqueiro me sustentando", disse a presidente. Marina novamente retrucou: "A Neca Setubal, por mais que esteja sendo satanizada por ser uma pessoa que tem dinheiro, é elite desse país preocupada com educação, tecnologia e inovação. A elite não é quem tem dinheiro, é quem tem pensamento estratégico."
Todos recebem
Uma análise da prestação das contas dos candidatos, no entanto, revela que a relação entre eles e os bancos é bem mais próxima do que fazem parecer as ásperas declarações públicas. Dilma, por exemplo, recebeu R$ 9,5 milhões em doações de bancos para sua campanha. Marina recebeu R$ 2 milhões, assim como Aécio Neves, do PSDB. O candidato Eymael (PSDC) recebeu R$ 50 mil de uma instituição bancária.
Os números são ainda maiores quando se verificam as doações feitas para os comitês financeiros e diretórios nacionais dos partidos. Na prática, as legendas acabam repassando a verba para as campanhas dos candidatos. Os partidos que integram a coligação de Dilma (PT, PMDB, PSD, PP, PR, Pros, PDT, PCdoB e PRB) receberam, somados, R$ 12,7 milhões dos bancos. As legendas que formam a chapa de Aécio Neves (PSDB, PMN, SD, DEM, PEN, PTN, PTB, PTC e PTdoB) levaram R$ 8,9 milhões. A coligação Unidos pelo Brasil, de Marina Silva, por sua vez, levou o menor valor entre as três principais candidaturas: R$ 1,5 milhão.
Para o cientista político Leonardo Barreto, professor da Universidade de Brasília, a discussão sobre o Banco Central acabou sendo engolida pelo marketing político. "A discussão sobre a independência ou não do BC é muito importante, mas essa discussão acabou não sendo feita de maneira substantiva porque simplesmente se associou Marina a uma relação espúria com os bancos. Distorcer bons assuntos nas eleições acaba sendo natural."
O cientista político e professor da PUCPR Mário Sérgio Lepre também vê a ação de marqueteiros na troca de acusação. "O marqueteiro tem esse dado, da rejeição da população aos banqueiros. A estratégia rápida para inviabilizar um candidato rival que desponta é associar esse candidato aos bancos", explica.