Adesão de Marina não é garantia de mais votos no segundo turno
Carlos Guimarães Filho
A partir de hoje, Dilma Roussef (PT) e Aécio Neves (PSDB) irão travar o primeiro embate do segundo turno. A briga será para saber quem consegue seduzir Marina Silva (PSB), terceira mais votada no primeiro turno com 21,6 milhões de votos, e seus correligionários para a reta final da disputa. A expectativa dos dois candidatos é de que Marina não repita a postura de quatro anos atrás, quando declarou imparcialidade na disputa entre Dilma e José Serra (PSDB) posição que é reforçada por analistas políticos.
"Repetir a postura de 2010 será ruim para ela. Político tem que ter postura e posição. Se ela fizer isso [declarar imparcialidade] praticamente está desistindo da política", ressalta Wilson Ferreira da Cunha, cientista político e professor da PUC-GO.
Porém, o eventual apoio declarado da candidata do PSB não é garantia da transferência automática dos milhares de votos. Para o cientista político e professor do Grupo Uniter Hélio Rubens Godoy, o eleitorado de Marina é composto por pessoas com fortes ideologias, o que dificulta a mudança de candidato. Godoy aposta na divisão dos votos por critérios de compatibilidade.
"O eleitorado da Marina é de oposição, mas que tem viés ideológico com cunho ambientalista e religioso, entre outros. O [eleitor] conservador migra para o Aécio. Mas o pessoal da nova política teria dificuldade", aponta. "Também tem muito ex-apoiador do PT voltado para parte social que deve votar para Dilma", complementa.
Sem peso
Dilma e Aécio devem necessariamente se concentrar no apoio de Marina no segundo turno. Apesar dos chamados nanicos contabilizarem 3,6 milhões de votos, a eventual adesão dos outros seis candidatos não deve pesar na decisão do dia 26 de outubro. "Talvez os nanicos evangélicos podem ter algum peso. Mas, não acredito que os demais candidatos façam muito diferença", diz o professor da PUC-GO.
O apoio de Marina Silva (PSB) está sendo tratado como decisivo pela campanha de Aécio Neves (PSDB). O objetivo dos tucanos é unir os discursos de mudança que os dois candidatos tentaram apresentar durante a primeira fase da disputa. No seu discurso após o resultado de ontem, Aécio disse que todas as contribuições são bem-vindas. Marina, em seu pronunciamento, apesar de não dar respostas diretas sobre eventual apoio à candidatura do PT ou do PSDB, sinalizou uma inclinação em apoiar o tucano.
Durante a maior parte da campanha, as pesquisas mostraram Marina à frente de Aécio e, com a virada nas pesquisas na reta final, o candidato do PSDB começou a sinalizar para um pedido de apoio. Ontem, durante a votação, o ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso foi mais direto e declarou que a equipe de Marina sabe que é necessária uma aliança maior e que os partidos deveriam se unir.
Em São Paulo, o presidente regional do PSB, Márcio França, foi eleito vice-governador ao lado de Geraldo Alckmin (PSDB) e pode facilitar a aproximação entre os partidos. Além disso, o PPS, que apoiou a ex-ministra, é presidido por Roberto Freire, aliado tradicional do PSDB. O ex-tucano Walter Feldmann, conselheiro político de Marina, também pode ser um canal de aproximação.
O apoio direto da família de Eduardo Campos, substituído por Marina após sua morte, também deve ser disputado pelos dois candidatos do segundo turno. O ex-presidente Lula está escalado para fazer a ponte com os herdeiros do ex-governador de Pernambuco. Apesar das divergências políticas, Lula nunca rompeu com Campos e tem boa relação com sua família.
O presidente nacional do PT, Rui Falcão, disse que a ordem é procurar todos partidos que ficarem sem candidato no 2.º turno.
Coerência
Em entrevista coletiva ontem à noite, Marina disse que o programa da legenda é "coerente com outro caminho, com outra maneira de caminhar", sinalizando um possível alinhamento com a outra candidatura de oposição, do PSDB.
Magoada com os ataques do PT no primeiro turno, a candidata do PSB deve resistir em se aliar a seu antigo partido. Neca Setúbal, coordenadora do programa de governo do PSB, atribuiu a queda de Marina nas pesquisas ao "bombardeio" que a candidata sofreu dos petistas. Na campanha, Marina chegou a dizer que o partido da atual presidente usou a mesma campanha de medo que o PSDB usou contra Lula antes de sua primeira vitória eleitoral.
Há ainda quem aposte que a candidata não deve apoiar nem um, nem outro. Um dirigente do PSB que preferiu não se identificar declarou à agência Reuters que Marina deve optar pela neutralidade novamente. "Uma coisa é certa. Com o PT ela não vai de jeito nenhum. O Beto (Albuquerque, candidato a vice-presidente do PSB) também já me disse que não apoiaria o PT", disse o aliado da candidata.
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