Legendas são cautelosas na matemática
É preciso ter cautela na comparação dos dados das eleições passadas, já que em 2010 o cenário era diferente. Ainda assim, a análise pode apontar tendências. Segundo o cientista político Emerson Cervi, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), a quantidade de votos de cada partido, especialmente os maiores, não tem sofrido grandes alterações ao longo das últimas eleições.
Uma mudança significativa a ser considerada é a saída dos chamados "candidatos bons de voto" nas principais chapas. Nas eleições para a Câmara Federal, por exemplo, Ratinho Jr. (PSC, coligado com o PSDB para federal), candidato a deputado estadual, André Vargas (sem partido), que se desfiliou recentemente do PT, e Moacir Micheletto (PMDB), falecido em 2012, não participarão do pleito. Cervi considera, entretanto, que a tendência é que esses votos sejam redistribuídos dentro da mesma chapa.
Outro ponto é o voto de legenda. Em 2010, nem PT nem PMDB tinham candidatos próprios ao governo. A tendência é que ambos melhorem seu desempenho nesse quesito lideranças dos dois partidos calculam uma votação de legenda acima dos 100 mil. Já o PSDB tinha candidato próprio em 2010 o próprio governador Beto Richa e foi a legenda mais votada nas duas Casas.
Lideranças dos partidos têm expectativas diferentes. Presidente do PT, Ênio Verri se diz otimista. Pelas contas do partido, há uma chance de PT e PDT aumentarem suas bancadas na Assembleia, e a chapa pode conseguir uma cadeira a mais na Câmara.
Já o líder do governo na Assembleia, Ademar Traiano (PSDB), avalia que a coligação tem condições de melhorar seu desempenho per capita, e considera "natural" um crescimento no número de votos necessário. Entretanto, ele admite que o partido pode perder uma cadeira na Assembleia.
O deputado estadual Luiz Cláudio Romanelli (PMDB), por outro lado, faz uma análise mais pessimista do cenário. Apesar de o partido precisar apenas "empatar" os votos da eleição passada, na sua avaliação houve um crescimento muito alto no número de candidatos regionais por partidos pequenos. Isso deve resultar numa votação mais pulverizada, que prejudica as grandes legendas. Para ele, o PMDB deve perder deputados nas duas Casas.
Metodologia
Para calcular o número de votos necessários para eleger um candidato, a reportagem considerou o coeficiente eleitoral de 2010 e acrescentou 3,47% desse valor a variação no número de eleitores no estado entre outubro de 2010 e julho de 2014. Para a Câmara o coeficiente ficou em 197.200 votos, e para a Assembleia, 109.428. Foram considerados os votos de legenda.
As três principais forças políticas do Paraná na Câmara Federal e na Assembleia Legislativa, PSDB, PMDB e PT, vivem situações distintas nas suas eleições proporcionais. A coligação encabeçada pelos tucanos terá de aumentar sensivelmente a votação de sua chapa de deputados, em relação a 2010, para manter sua bancada nas duas Casas. Já os petistas verão seu grupo crescer se repetirem o desempenho das eleições passadas. O PMDB, mesmo com chapa pura, fica exatamente no meio: se repetir a votação de 2010, deve apenas manter os deputados que já tem.
INFOGRÁFICO: Confira o número de votos que cada coligação precisa para manter sua bancada
Na Câmara, tucanos e petistas apostaram em "chapões" para a disputa. A coligação do PSDB conta com nove partidos, que, juntos, possuem 16 deputados. Já os petistas se uniram com outras quatro legendas, todas elas sem nenhum deputado atualmente o PT conta com quatro, além de André Vargas, que se desfiliou recentemente.
Com 57 candidatos, o chapão tucano precisaria fazer, em média, 55 mil votos por candidato para repetir sua bancada incluindo aqui os votos de legenda. É uma marca bastante alta: dos nove partidos da coligação, apenas o PSDB e o PR conseguiram ultrapassar esse índice há quatro anos vale destacar que duas legendas da coligação, PSD e SD, ainda não existiam em 2010. Já o chapão petista conta com 52 candidatos e precisaria, em tese, de apenas 19 mil votos para reeleger cinco parlamentares. PT e PCdoB fizeram, respectivamente, 63 mil e 38 mil em 2010. O PDT, por outro lado, fez 18 mil.
Já na Assembleia, a configuração é diferente. O PSDB se coligou com outros quatro partidos que, juntos, contam com hoje com 18 deputados e 69 candidatos. Para repetir a bancada, precisaria de uma média de 28 mil votos, que não foi atingida por nenhuma das legendas em 2010. Já o PT está ligado com outras três agremiações que, juntas, contam com 11 deputados e 66 candidatos. Para manter a bancada, seriam necessários 18 mil votos por concorrente PT e PDT, responsáveis por 77% dos candidatos, fizeram 27 mil e 26 mil votos por candidato cada um em 2010.
Puro sangue
Já o PMDB optou pelo caminho inverso e vai de chapa pura nas duas Casas. Antes da convenção, parte do partido queria se coligar com o PSDB, alegando que, sem isso, a legenda perderia deputados. Entretanto, os números mostram que, mesmo sem outro partido para deixar as chapas mais "leves", a legenda tem condição de manter suas bancadas.
Na Câmara, o partido tem hoje cinco deputados e 18 candidatos. Para manter a bancada, cada candidato teria que fazer, em média, 54 mil votos. Com 17 concorrentes, o partido fez uma média de 58 mil votos por candidato em 2010. Já para a Assembleia, onde conta com 13 parlamentares, o partido tem 40 candidatos. Para repetir a dose, a média precisaria ser de 35 mil votos por candidato pouco mais que os 34 mil das eleições passadas, quando contou com 33 candidatos.
Expectativa
"Fator Ratinho" deve fazer do PSC a nova força da Assembleia
A presença de Ratinho Jr. (PSC) nas eleições de 2014 pode modificar bastante a correlação de forças na Assembleia na próxima legislatura. Atualmente, o PSC e sua coligação têm apenas dois representantes no legislativo estadual. Pela montagem das chapas, esse número pode crescer bastante: o grupo precisaria de apenas 2 mil votos por candidato para superar essa marca contra, por exemplo, 18 mil da chapa petista, 28 mil da chapa tucana e 34 mil do PMDB. A coligação do PSC conta com o maior número de candidatos: 98, divididos entre PSC, PTdoB e PR. Juntos, eles fizeram 6,8 mil votos por candidato nas eleições passadas um número pequeno, mas três vezes maior que o necessário para reeleger a atual bancada. A tendência, entretanto, é de crescimento. Ratinho, por exemplo, fez 358 mil votos para deputado federal em 2010.
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