Os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso se envolveram na quarta-feira (8) em mais uma polêmica eleitoral, desta vez sobre a qualidade do voto no 1.º turno e a vitória do PT nos estados do Nordeste. A polêmica teve origem na segunda-feira, quando, em entrevista aos blogueiros Josias de Souza e Mário Magalhães, do UOL, o ex-presidente tucano disse que o PT cresceu nos grotões do país e tem o voto dos "menos informados".
No dia seguinte, no Facebook, Lula replicou com um post no qual disse, sem mencionar Fernando Henrique, que acha "um absurdo que o Nordeste e os nordestinos sejam caracterizados como ignorantes ou desinformados". A tréplica do tucano foi direta: ontem, por meio de nota, disse que Lula "não se emenda, vive de pegadinhas".
FHC disse que estava falando de nível educacional. "Ele quer transformar uma categoria do IBGE em insulto", afirmou. "Daqui a pouco ele só será ouvido em programas humorísticos." A troca de acusações entre os dois ex-presidentes tem como pano fundo um outro debate, sobre o mesmo tema, que corre de maneira muito mais ruidosa e agressiva nas redes sociais.
Como aconteceu em 2010, mas agora com maior amplitude, logo após o término da apuração do 1.º turno começaram a ser reproduzidos nas redes comentários preconceituosos contra o resultado positivo do PT nos estados do Nordeste. Já na segunda-feira, um dos sucessos na internet era uma página chamada Esses Nordestinos.
Na sucessão de ataques a favor e contra os nordestinos, o local virtual que mais chamou a atenção e provocou reações foi uma comunidade autodenominada Dignidade Médica, que teria 97 mil participantes. De acordo com o cabeçalho de apresentação no Facebook, o grupo existe "exclusivamente para classe médica e somente médicos ou estudantes de medicina".
Uma das postagens sobre o voto dos nordestinos que apareceu na página do grupo logo após a votação dizia: "70% de votos para Dilma no Nordeste! Médicos do Nordeste causem um holocausto por aí! Temos que mudar essa realidade".
A repercussão negativa foi tão grande que o Conselho Federal de Medicina (CRF) reagiu. Na quarta-feira, sua diretoria emitiu nota na qual afirma que repudia "qualquer comentário ou ação que denote preconceito por conta de etnia, origem geográfica, gênero, religião, classe social, escolaridade, orientação sexual ou posicionamento ideológico".
A candidata do PT, Dilma Rousseff, também entrou na polêmica. Sem se referir diretamente a FHC ou às manifestações nas redes sociais, ela tuitou várias mensagens sobre o assunto. Uma delas, divulgada ontem, diz: "Espero que o povo do Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sul e Sudeste seja igualmente respeitado"
Justiça
Mas o PT pretende ir além. Em São Paulo, o presidente do diretório estadual, Emidio Souza, pediu ao setor jurídico do partido que estude medidas legais contra manifestações preconceituosas. Segundo o advogado Marco Aurélio de Carvalho, da área jurídica, elas devem ser anunciadas hoje. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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