A imagem é sempre sorridente. A mensagem, de apoio ao candidato: o eleitor que vota neste ou acredita naquele concorrente. Seriam cenas corriqueiras de uma campanha em que o eleitor faz questão de declarar seu voto. Seriam, se os personagens em questão não fossem modelos internacionais. Dois dos principais candidatos ao governo do Paraná apresentam em seu site ou perfil no Facebook eleitores que não são eleitores. Pelo menos, não no Paraná.
Na página da petista Gleisi Hoffmann no Facebook, o álbum "Eu sou... e voto Gleisi" apresenta fotos de várias profissões com legendas como: "Eu sou pedreiro e voto Gleisi". Até ontem, pelo menos 61 profissões eram retratadas. O subtítulo ainda convida: "Está faltando alguma profissão? Indique que acrescentamos no álbum!". O problema é que, conforme revelou o blog Caixa Zero, hospedado no site da Gazeta do Povo, do jornalista Rogerio Galindo, pelo menos uma parte desses "eleitores" não é nem mesmo do Brasil. As fotografias foram retiradas de bancos de imagens internacionais.
A prática não é exclusiva de Gleisi. No site do governador Beto Richa (PSDB), candidato à reeleição, na seção "Interatividade", uma "eleitora" segura uma placa com a hashtag (palavra-chave usada em redes sociais) "#euacredito", tema que faz parte da estratégia de campanha de Richa. A mesma jovem aparece em outros sites com a plaquinha em branco, ou seja, para ser preenchida com um texto qualquer. Logo abaixo, a imagem de uma outra moça sorridente é usada para ilustrar um aplicativo que permite inserir a mesma hashtag em fotos enviadas pelos eleitores. A mesma imagem é encontrada em um site russo.
Professor de Ética e Filosofia Política da Universidade Estadual de Londrina (UEL) Elve Miguel Cenci lembra que as campanhas eleitorais "usam todas as técnicas da publicidade e muitas vezes o candidato é apresentado como um produto". Os avanços tecnológicos, como a imagem digital de alta qualidade, fazem com que os estrategistas abusem das "técnicas do meio mercadológico", avalia.
Outro lado
A assessoria de Beto Richa não quis comentar a questão. Já Gleisi afirmou, por meio de assessores, que o uso de banco de imagens "é uma prática comum". Na avaliação da candidatura, a rapidez da internet exige a publicação de conteúdo em períodos muito curtos, o que impediria a produção de fotografias de eleitores reais. Por e-mail, a assessoria da petista indicou outros exemplos envolvendo o uso de bancos de imagens nas campanhas, citando inclusive a presidente Dilma Rousseff (PT), que busca a reeleição.
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