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Por que o senhor resolveu se candidatar ao governo do Paraná?Sou militante do PSTU desde 2000, participei da greve das universidades públicas contra a privatização da educação, contra a privatização do Banestado e da Copel no governo Jaime Lerner. No ano passado, em junho, nós percebemos que aquelas pessoas que foram às ruas nas manifestações tinham um desejo grande de mudança. Elas tinham como reivindicações a questão do transporte, da saúde, educação e moradia, que são reivindicações da classe trabalhadora, juntamente com um desejo de mudança. Nós percebemos que o Paraná, desde 1978 é governado pelas mesmas três ou quatro famílias, que possuem seus partidos mas sempre governam para os grandes empresários que financiam suas campanhas. O PSTU tem uma proposta diferente, de governar para os trabalhadores. Esse é o motivo da candidatura, é levar à população um programa de um partido que vai de fato governar para a classe trabalhadora.

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O senhor tem a campanha mais barata, com menos recursos, entre os candidatos a governador, com um limite de gastos de R$ 25 mil. Como tem sido fazer campanha com estes recursos?Nós não pegamos nenhum centavo das grandes empresas, nossa campanha é financiada pelos trabalhadores. É pequena, com poucos recursos mesmo. É muito difícil, só mantemos isso por uma questão ideológica porque entendemos que, se é para governar para os trabalhadores, não podemos receber dos grandes empresários. Para mudar realmente, é preciso uma campanha que apenas os trabalhadores financiem. Agora, é muito difícil quando você tem uma campanha de R$ 25 mil e os outros tem campanhas de R$ 30 milhões. Nós fazemos a campanha como dá, percorrendo o estado, visitando fábricas, canteiro de obras, nas ruas, mas mesmo depois de terminadas as eleições nem vão saber que o Rodrigo Tomazini foi candidato, porque não temos os mesmos recursos. A eleição, infelizmente, ao contrário do que dizem, que é a "festa da democracia", para nós é um jogo de cartas marcadas onde aqueles que já estão governando continuarão no poder por conta da forma com que são estruturadas as eleições e os financiamentos de campanha. As mudanças que a população pede dificilmente virão.

Os partidos de esquerda normalmente lançam candidaturas "puras". Não seria mais viável unir os partidos em coligações e formar uma chapa esquerdista mais forte?No âmbito nacional, nós temos um problema sério com o PSol porque nós não aceitamos dinheiros de empresas. Infelizmente, o PSol vem aceitando dinheiro das empresas. A Luciana Genro [candidata do PSol à presidência] aceitou dinheiro da Gerdau, por exemplo. Aqui no estado nós tentamos uma conversa tanto com o PCB, quanto com o Psol. Nós respeitamos a posição do PCB que é de sair sempre com candidaturas próprias. Tivemos quatro reuniões com o Psol e chegamos a esboçar um acordo, mas eles recuaram. Temos diferenças ideológicas em várias questões, que poderiam ser contornadas mas nem na composição da chapa os companheiros quiseram nos dar espaço. O PSTU tem um peso social importante e deveria ter um espaço importante. Por isso, resolvemos sair sozinhos para lançar um programa próprio.

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Em seu plano de governo, o senhor defende a reestatização do Banestado. Como seria possível reaver o banco estatal?Nós temos que romper imediatamente com o pagamento da dívida. É uma dívida que consome R$ 1 bilhão por ano, uma dívida que já foi paga. Ao nosso modo de ver a privatização do Banestado foi bastante fraudulenta para favorecer interesses econômicos na época do governador Jaime Lerner. São vários processos da justiça. O Itaú deve devolver as agências do Banestado e sem indenização porque o lucro gerado por estas agências durante este período já paga a indenização. Judicialmente, como acontece com a situação do pedágio, é muito complicado. O que nós queremos enquanto governo é alavancar uma grande mobilização popular e conscientizar a população de que o Banestado é um banco importante para o Paraná. Com o Banestado no Paraná nós conseguiremos fazer um grande plano de obras público a juros quase zero, como é o BNDES, por exemplo, e viabilizar o que é necessário. Isso que é garante o que as pessoas pediram nas ruas, em junho. Apoiado na mobilização popular nós temos certeza que a justiça vai ter que se manifestar.

O tema pedágio é bastante recorrente durante a campanha de 2014. Como o senhor, caso eleito, trataria essa questão?O Requião já usou isso como mote de campanha: ou baixa, ou acaba. Não fez nem um, nem outro. O Beto Richa também falou que ia fazer e não fez. Não tem como falar isso e ser como o Requião, tendo o Marcelo Almeida [candidato ao senado] na chapa dele, que é dono de empresa de pedágio. Não dá pra ser isento sendo financiado por estas empresas. O pedágio não cumpre função social alguma. Nós estamos viajando muito de carro e por exemplo, indo de Curitiba a Cascavel você anda por estradas terríveis e muito caras. Se você for analisar os contratos de pedágios, que são de 20, 30 anos, feitos para não serem quebrados mesmo. Por outro lado, as empresas descumprem com os contratos não realizando as obras necessárias. O nosso governo utilizará o dinheiro do IPVA integralmente na melhoria das estradas e abrir as cancelas, impedindo imediatamente a cobrança. Faríamos também um plebiscito para saber se a população concorda ou não com os pedágios. Assim como aconteceu com a Copel, que a população conseguiu barrar a venda nós temos certeza que a população tem força para acabar com o pedágio no Paraná.

Em seu plano de governo, o senhor defende que a Copel e a Sanepar não se utilizem de parcerias com o capital privado e a redução das tarifas e água e luz em 50%. Como seria possível tirar essa proposta do papel?A Copel hoje é uma empresa de capital misto e hoje tem quase metade das ações negociadas em bolsas de valores. Um dado da revista Exame mostrou que a Copel geradora teve no primeiro trimestre deste ano um lucro de R$ 583 milhões, multiplicando por quatro, um lucro de R$ 2 bilhões. O grande problema é esse; é um lucro altíssimo, mas ele é desviado. Nós acreditamos que uma empresa pública não deve gerar lucro e sim servir à população. Você imagina, se existe este lucro, porque foi necessário aumentar a tarifa em 25%? É porque este dinheiro não está sendo reinvestido na Copel. Infelizmente, ela está na mão de meia dúzia de acionistas lucrando com o nosso dinheiro, então nós estamos aqui para esclarecer à população. A mesma coisa acontece com a Sanepar.

Também em seu plano de governo o senhor afirma que nenhum dos candidatos aborda as causas da violência e sim focam nas consequências que ela traz. Como o senhor pretende reverter este quadro?Os candidatos sempre dão alternativas como aumentar o número de efetivo policial, mais unidades do Paraná Seguro, monitoramento por câmeras de segurança, sempre no viés de criminalizar ainda mais a pobreza. A violência é um problema social. No Brasil, 11 milhões de pessoas vivem com R$ 75 por mês e 5 milhões vivem sem dinheiro algum. É impossível que isso não gere violência. A distribuição de renda é muito desigual, precisamos combater a desigualdade social, investindo o dinheiro público no setor público. Um segundo passo é fazer com que a polícia comece a agir de forma diferente se aproximando mais da comunidade para entender os problemas daquela comunidade. A Polícia Militar é um resquício da ditadura, que chega, atira e depois pergunta. Até a ONU indica que nós temos que acabar com a PM no Brasil e unificar a Polícia Militar com a Polícia Civil. Fazendo esta união, nós podemos garantir aos trabalhadores sindicalização e o direito à greve se houver necessidade. Precisamos também fazer um aumento de salários, já que o trabalhador tem que fazer bicos para complementar a renda. Mas está é uma questão que é nacional e não apenas estadual. Outro grande problema, que também é nacional mas que nós precisamos debater é a questão da descriminalização das drogas. Hoje nós percebemos que os presídios estão superlotados. A PEC de Cascavel, que teve uma rebelião recente, 70% dos presos tem de 18 a 34 anos, são jovens. Cerca de 70% deles estão presos por drogas e furtos, muitas vezes também relacionados às drogas. Isso mostra que a maioria das mortes de jovens na periferia são por conta do tráfico. Veja bem, descriminalizar não significa incentivar. Não queremos que ninguém utilize drogas. Mas precisamos combater o traficante, que não está na favela e sim lavando dinheiro nos bairros nobres. O Estado tendo o controle da produção e da venda, você ataca o traficante. Também é necessário que o dinheiro utilizado em armamento e treinar polícia para ocupar as favelas passe para clínicas de reabilitação, tratando a questão das drogas não como crime, mas como saúde pública.

Entre as propostas para a educação, o Estado deve ser o único financiador da educação pública e defende o fim das parcerias entre Estado e instituições privadas. O senhor seria, então, contrário aos programas do governo federal, como o Prouni, por exemplo?Sim, somos contrários. Somos a favor da expansão do ensino superior, mas de outra forma. No Prouni, o governo faz isenções fiscais às universidades, que ofertam as vagas ociosas. Se o valor a que chega a isenção de impostos, se isso fosse investido na educação pública poderia dobras as vagas das universidades federais. Então, por que colocar este dinheiro nas universidades particulares? Nós vemos em ranking que as universidades públicas têm muito mais qualidade. Nós não achamos que o governo tem que investir por exemplo, no sistema S, para ofertar cursos profissionalizantes, o próprio governo pode aplicar isso. São parcerias completamente interesseiras. O programa não é para trazer o estudante ao ensino superior, ele poderia fazer isso investindo dinheiro na escola pública. Ele está resolvendo o problema do empresário da educação superior, que financia a campanha.

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Como o senhor avalia a atual gestão? A avaliação é péssima, é um tremendo desastre. Este ano a educação entrou em greve pela necessidade de apenas se cumprir a lei do piso salarial nacional. A saúde entrou em greve e olha que o governo deveria cumprir 12% em saúde por lei e isso nem investiu. Ou seja, as contas nem deveriam ter sido aprovadas pelo Tribunal de Contas. O governador Beto Richa não deveria nem ser candidato por não cumprir uma lei tão importante. Também não cumpriu a lei de 8% para a pesquisa em ciência e tecnologia. O que nós vemos na questão na segurança, os carros sem gasolina, cachorros sem ração. O pessoal que entrega o leite nas escolas reclamando que os pagamentos estavam atrasados. Um governo que tem um aumento exorbitante dos gastos em propaganda, mas que quando vamos ver nas áreas sociais, é um tremendo desastre. Na verdade, não existe por parte do governo Beto Richa, vontade de fortalecer o setor público. Ele governa para os empresários que financiaram sua campanha e abandona o serviço público. Nós queremos inverter completamente isso, fortalecendo o serviço público, a saúde pública, porque é no governo do Richa que acontece essa barbárie: um lucro de R$ 2 bilhões por ano na Copel e ele aumentando a conta em 25%.

Por que eleger Rodrigo Tomazini governador do Paraná? Para mudar de vez a forma com que os governadores vêm governando o nosso estado. Que a classe trabalhadora, a juventude e quem realmente produz riquezas no nosso estado possam ter acesso à produção que ela mesma gera. A riqueza tem que ser distribuída entre os trabalhadores e não ficar na mão de meia dúzia de empresários. É preciso que se invista na saúde pública, em moradia, na educação pública. Só com o lucro da Copel nós construiríamos em um ano, de 12 a 14 hospitais. Não dá mais para a população gastar tanto e ver seu dinheiro sendo perdido. Agora, não acreditamos que a eleição vá mudar. Nós pedimos o voto no 16, é importante que a população vote na gente mas, da forma como o processo é organizado, com tempos de TV muito diferenciados, com financiamento de campanhas milionárias não torna o processo democrático. Sempre os mesmos serão eleitos. Temos certeza que a renovação no Congresso Nacional, Senado e na Assembleia Legislativa do Paraná será mínima. Com certeza as mudanças que a juventude e que a classe trabalhadora quer não irão acontecer. Além das eleições, as mobilizações têm que continuar para que a gente possa avançar nas mudanças que a gente precisa.