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Cenira deixou o emprego para tentar se eleger deputada | André Rodrigues/ Gazeta do Povo
Cenira deixou o emprego para tentar se eleger deputada| Foto: André Rodrigues/ Gazeta do Povo

Pé na estrada

Agente comunitária promete correr cidades vizinhas atrás de votos

Desde que se casou, há 10 anos, as disputas eleitorais fazem parte do cotidiano da agente de saúde Clarisdete Rodrigues, 50 anos. O sogro João Pires, hoje falecido, participava da vida política da pequena Guairaça, cidade no Noroeste do estado com pouco mais de 6 mil habitantes. Na época, Pires foi eleito vereador por duas vezes. O marido José Paulo também se lançou candidato duas vezes, ambas sem sucesso.

Apesar de acumular três pleitos com baixíssima quantidade de votos (o auge foram 40 votos, em 2010), Clarisdete ainda sonha com uma vaga na vida pública. A candidata a deputada estadual pelo PPS vai percorrer vários municípios próximos a sua cidade em busca dos eleitores.

"A primeira vez foi para completar [a cota de mulheres do partido]. Então peguei gosto e comecei a fazer campanha", conta a agente comunitária. "Quero trabalhar pela saúde. Faltam muitas especialidades e as pessoas precisam ir para Maringá ou Paranavaí."

Se não der desta vez, Clarisdete projeta as eleições de 2016, quando seria, pela terceira vez, postulante a vereadora. Ela calcula 200 votos para confirmar a vaga, cenário adverso para quem soma apenas 79 votos nas três eleições que disputou. "Apesar dos poucos votos, nunca desanimei. Pouco a pouco vou conseguir", acredita.

  • Eneas fez 68 votos para vereador na eleição de 2010
  • Algacir Ribeiro: policial tenta se eleger em sua quinta eleição

A pequena quantidade de votos registrados nas últimas eleições poderia ser motivo de desilusão ou até de abandono da vida pública. A baixa votação, porém acabou servindo de "combustível" para alguns postulantes ao posto de político continuarem a tentativa de seduzir o eleitorado. De acordo com o levantamento da Gazeta do Povo, quatro dos 41 candidatos ao cargo de deputado estadual no pleito 2010 que não atingiram sequer uma centena de votos estão concorrendo novamente na atual eleição.

Embora o desejo do quarteto seja praticamente o mesmo, melhorar a qualidade de vida da população paranaense, as histórias de persistência têm nuances diferentes. O policial militar Algacir Milton Ozir Ribeiro, 45 anos e 25 de corporação, irá participar do seu quinto pleito. Por duas vezes tentou uma vaga na Câmara Municipal de Curitiba (2004 e 2008) e na Assembleia Legislativa do Paraná (2006 e 2010). O policial não participou da disputa em 2012 porque estava de mudança e ainda não tinha um ano de domicilio eleitoral, como prevê a legislação.

Apesar da baixa quantidade de votos nas quatro eleições da qual participou – nunca recebeu mais de 112 votos, sendo que em 2006 contabilizou apenas 31 votos – Ribeiro decidiu ousar e concorrer a uma vaga para deputado federal pelo PRTB. A candidatura faz parte de uma estratégia pensando no cargo de vereador em 2016 pelo município de Matinhos, no litoral do estado, para onde se mudou há dois anos. "Não tem muito candidato a deputado federal no litoral. Quero que meu nome fique conhecido para sair vereador daqui dois anos. Então fazer um bom trabalho de base e tentar deputado novamente em 2018", explica.

A estratégia é semelhante à do empresário Eneas dos Santos Araújo, 59 anos, que na eleição para vereador, há dois anos, fez 68 votos. Ele questiona a quantidade, alegando que chegou a contabilizar mais de 3 mil votos quando um apagão no sistema "sumiu" com o registro. Independentemente da controvérsia, Araújo acredita em um bom desempenho no dia 5 de outubro.

"Além da ajuda dos amigos e conhecidos, vou pegar o carro para pedir votos no Norte do estado. Se não sair [eleito este ano], na próxima estou de novo. Já vou começar a trabalhar no ano que vem visando vereador em 2016", diz o candidato do PSDC, que conquistou apenas 82 votos para deputado estadual em 2010.

Última chance

Essa pode ser a última participação em eleições da técnica de enfermagem Cenira Trindade dos Santos, 52 anos. Ela considera abandonar a disputa por cargos públicos caso não seja eleita em outubro. Considerando o desempenho nas três candidaturas anteriores – 229 votos em 2008, 96 em 2010 e 145 em 2012 – a aposentadoria política está próxima.

"Eu amo a política, mas é sofrido. Eu mesmo levo cavalete, coloca placa na rua, depois passo para recolher tudo", pondera.

Apesar dos desempenhos pífios, Cenira acredita que existe uma chance maior esse ano. Ao contrário das eleições anteriores quando precisava conciliar o pedido por votos com o trabalho em uma maternidade da capital, a candidata do PSDC pediu demissão do hospital onde estava empregada para se dedicar exclusivamente à campanha.

"Por isso que agora fiz questão de sair [do emprego]. Tem muitas formas de ajudar [as pessoas], mas a política está no meu sangue. Já fui líder comunitária e hoje quero ser eleita para ajudar ainda mais", ressalta Cenira.

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