Em uma tentativa de se aproximar do eleitorado mais conservador, a presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição pelo PT, defendeu nesta terça-feira (16), de forma mais enfática, a família como forma de reforçar os valores, a redução da violência e a democracia.
Ao explicar o que entende como família, Dilma afirmou que existem diversos tipos de núcleos familiares, mas evitou citar uniões de casais homossexuais. "Reforçar a família é algo que permite que tenhamos melhores valores, que a gente diminua a violência, que a gente tenha uma sociedade mais democrática. Porque a família, é sem sombra de dúvida, a grande unidade, a célula protetora da sociedade", afirmou Dilma, na já tradicional coletiva de imprensa realizada no Palácio da Alvorada, em Brasília.
Dilma participa na noite desta terça-feira de um debate da CNBB (Confederação Nacional dos Bispos do Brasil), que será realizado em Aparecida (SP). Outros sete presidenciáveis, entre eles, Marina Silva (PSB) e Aécio Neves (PSDB), também participarão do evento. A cúpula da Igreja Católica tentará se equilibrar entre a orientação do papa Francisco, mais tolerante em assuntos polêmicos como o homossexualismo, e a oportunidade de cobrar dos candidatos posições sobre esses temas.
De acordo com Dilma, o governo respeita todos os tipos de uniões entre pessoas e garantiu que não tem pretensões de alterar a legislação vigente sobre o assunto. Atualmente, a união estável entre pessoas do mesmo sexo é garantida. "O meu governo tem a concepção de família do que existe na realidade. Não definimos nenhuma forma de família e não temos a pretensão governamental de interferir em algo que é da sociedade. Nós aceitamos todas as famílias. E aí, vou parodiar o Papa: quem é a presidente da República, para definir que família existe no mundo. Não temos esse poder e nem queremos", disse.
No início do mês, Dilma afirmou que irá trabalhar em um eventual segundo mandato para criminalizar a homofobia. Um projeto de lei sobre o assunto está parado no Congresso.
Erradicação da fome
Dilma iniciou sua fala durante a coletiva para exaltar o resultado do Brasil em relatório divulgado nesta terça pela FAO (braço das Nações Unidas para alimentação e agricultura), que indicou que o país superou o problema da fome. Segundo o documento, existem 3,4 milhões de brasileiros em situação de insegurança alimentar, o que corresponde a 1,7% da população nacional.
"É a maior demonstração de que o sonho de uma geração de um país sem fome e sem miséria está sendo realizado. [...] Viemos progressivamente caindo. Hoje saímos de uma situação em que estávamos no mapa da fome, que tem mais de 5% da população subalimentada. Saímos de 19 milhões de pessoas, segundo os dados da ONU, para 3,4 milhões de pessoas em 2013. Isso significou redução de 10,7% que era o percentual da população brasileira para algo como 1,7%", comemorou Dilma.
Para a candidata, a implementação de programas sociais, como o Bolsa Família, e a garantia do emprego e a defesa da renda do trabalhador durante a crise financeira mundial, foram essenciais para que o país entrasse no grupo de 32 países que superaram o problema da fome.
A presidente, no entanto, reconheceu que a erradicação completa da fome, uma das suas metas quando assumiu a Presidência, não foi cumprida mas ressaltou os resultados positivos. Para Dilma, o próximo passo a ser dado pelo governo agora é a garantia de educação de qualidade para todas as crianças e adolescentes.
Para Anne Kepple, consultora da FAO, o Brasil atingiu esse patamar devido à "dezenas de políticas articuladas", citando como exemplo o programa Bolsa Família, a construção de cisternas no Nordeste e o programa nacional de alimentação escolar. "Já nos ano 90 a movimentação do Betinho (...) colocou em pauta a questão da fome no Brasil", disse ela.
Marketing selvagem
Durante a coletiva, Dilma comentou o parecer do procurador-geral Eleitoral, Rodrigo Janot, enviado nesta terça ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) em que defende a suspensão de uma propaganda da petista em que critica a proposta da candidata Marina Silva (PSB) sobre a autonomia do Banco Central. Para a candidata, a posição de sua campanha é uma opinião que "deve ser respeitada".
"Não acho [que seja marketing selvagem]. Pode ser que as pessoas não gostem do que nós falamos. Agora, é uma opinião. E crime de opinião no Brasil é algo ultrapassado. Eu fui para a cadeia por crime de opinião e sei perfeitamente que na democracia a opinião deve ser acolhida. Cada um tem o direito de fazer a sua parte. Isso também é democrático. O procurador acha isso, outra pessoa acha aquilo. O que eu estou dizendo é que nós estamos externando uma opinião e ele deve ser respeitada", disse.
A coligação de Marina entrou com um pedido na justiça eleitoral para suspender a propaganda. Na peça publicitária em questão é dito que, havendo autonomia do BC, os banqueiros passarão a determinar "os juros que você paga, seu emprego, preços e até seu salário (...) ou seja, os bancos assumem um poder que é do Presidente e do Congresso".
Para Janot, a peça cria, artificialmente, estados emocionais nos eleitores, o que é proibido pelo Código Eleitoral. Segundo ele, apesar das controvérsias sobre o tema, não se pode vincular um quadro de "grande recessão" a uma eventual autonomia do BC.
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