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Efeitos eleitorais

PSB do Paraná pode se beneficiar da candidatura da ex-senadora

Dona de 16% dos votos no Paraná em 2010, quando disputou a Presidência da República pelo PV, a ex-senadora Marina Silva pode alavancar a candidatura do PSB paranaense no pleito deste ano caso seja escolhida como nova cabeça de chapa do partido. Eduardo Campos, que morreu na última quarta-feira, sofria com o desconhecimento do eleitorado do Sul do país e patinava nas intenções de voto. A expectativa dele era crescer nas pesquisas com o início do horário eleitoral no rádio e na televisão. A força que Marina pode representar se destaca, sobretudo, em Curitiba. Há quatro anos, ela fez 45% dos votos na capital e deixou para trás Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB). A boa votação, porém, encontrou – e deve reencontrar agora – resistência nos municípios menores. "A Marina era e continua sendo muito forte nos grandes centros urbanos, como Curitiba e região metropolitana. Mas, no interior do Paraná, a falta de identificação dela com o agronegócio pesa contra", diz o diretor-presidente do Instituto Paraná Pesquisas, Murilo Hidalgo. A mesma influência, no entanto, não deve atingir a disputa pelo governo do estado. Apesar de Marina ser próxima a Roberto Requião (PMDB), o PSB é historicamente ligado ao tucano Beto Richa. "Não é automático para as pessoas do PSB que, porque a Marina é amiga do Requião, eles deixarão de gostar do PSDB. É preciso relativizar essa história. É inimaginável pensar que os quadros da legenda trabalhariam contra o governo Richa", diz o cientista político Emerson Cervi, da UFPR. "Ela vai ter de ganhar o PSB no Paraná. O que tende a ocorrer é o pessoal do PSB não dar ouvidos a Marina, até porque nem ela mesma é do partido." (AG e ELG)

A entrada de Marina Silva (PSB) na eleição pode pôr à prova o modelo de alianças adotado no Brasil desde 1985, conhecido como presidencialismo de coalizão. Avessa às negociações partidárias tradicionais, a ex-senadora é boa de voto, mas não tem pontes com as principais lideranças do Congresso Nacional e desaprova o pragmatismo em parcerias adotado pelo próprio PSB em diversos estados. A decisão sobre a entrada dela na vaga de Eduardo Campos, vítima de acidente aéreo, deve ser anunciada nesta semana, mas em entrevista à Folha de S.Paulo o presidente do PSB, Roberto Amaral, confirmou que ela será a candidata (veja mais na página 17).

INFOGRÁFICO: Veja as vantagens e desvantagens que o partido terá de lidar nos próximos dois meses

O presidencialismo de coa­lizão consiste na divisão de cargos no governo entre legendas aliadas, em troca de apoio na Câmara dos Deputados e no Senado. A fórmula foi potencializada a partir da gestão Itamar Franco (1992-1994) como receita para a manutenção da governabilidade em um sistema político fragmentado em vários partidos com representação parlamentar. Atualmente, há 32 siglas em funcionamento no país, 22 delas com assento no Congresso.

Oito partidos participaram do primeiro escalão do governo Dilma Rousseff até abril, quando os ministros que participariam das eleições precisaram deixar os cargos. Juntos, PT, PMDB, PSD, PDT, PP, PCdoB, PR e PRB controlam 319 cadeiras na Câmara (62% do total de 513) e 51 no Senado (63% do total de 81).

Dos seis partidos que formam a coligação de Marina (PSB, PPS, PRP, PHS, PSL e PPL), só três têm representantes no Congresso. O PSB tem 24 deputados, o PPS, seis; e o PRP, dois (a soma deles representa 6% do total). No Senado, o único a ter vagas é o PSB (quatro, que correspondem a 5% do plenário).

Futuro incerto

"Vejo muitas dificuldades para ela [Marina] se relacionar com o Congresso. Até porque os problemas não são apenas partidários, são com as bancadas temáticas", diz o líder do Solidariedade na Câmara, o deputado para­naense Fer­nando Francischini. "Os ruralistas são contra a Marina pela defesa da causa ambientalista, os evangélicos acham ela incoerente em relação ao aborto", diz Francischini.

O senador Pedro Simon (PMDB-RS), por outro lado, acredita que Marina pode ter a força para romper com a prática do "balcão de negócios". "O Itamar também não tinha grandes laços com o Congresso e assumiu em uma situação dramática. Acertou quando chamou os maiores partidos e escolheu seus melhores quadros", afirma Simon.

Apesar do discurso de "nova política" e de que colocaria "as velhas raposas na oposição" (uma menção aos peemedebistas José Sarney e Renan Calheiros), Campos tinha interlocução com outros partidos, como PT e PSDB. Tanto que avalizou alianças regionais de todos os tipos. Das 25 coligações feitas pelo PSB em disputas de governos esta­duais, em seis o partido dá sustentação a cabeças de chapa do PMDB, em quatro do PSDB e em duas do PT.

A manutenção dessas negociações é um dos principais motivos de desconfiança, dentro do PSB, em relação a Marina. Na prática, ela não teria condições de desfazer as chapas, mas poderia esvaziá-las eleitoralmente, ao manifestar apoio informal a outros nomes. Um dos exemplos é o Paraná, no qual o PSB apoia Beto Richa (PSDB), mas onde ela tem mais vínculos com a chapa de Roberto Requião (PMDB).

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