Eduardo Suplicy, 73, o mais longevo senador paulista desde 1945, não voltará ao Congresso. Com planos de dar aulas e falando até em cantar "a sério", o petista soou neste domingo mais sereno com a derrota que seus apoiadores nos movimentos sociais, que dizem ter perdido um aliado crucial no Congresso.
Veja a apuração dos votos em São Paulo
Na manhã deste domingo, pouco antes de votar em um bairro de classe média em São Paulo, Suplicy disse ter recebido convite para dar aula em curso de gestão de políticas públicas na USP Leste.
Fiel ao figurino do boa praça exótico que adora Bob Dylan, brincou dizendo querer entrar na turnê dos filhos músicos, João e Supla. "Meus filhos seguem amanhã outra vez para uma turnê nos EUA. De repente posso até me juntar a eles".
Guilherme Boulos, coordenador do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) e colunista da Folha, lamentou: "A derrota não é só do Suplicy. É uma derrota para as organizações populares de São Paulo".
Boulos e Pablo Ortellado, professor da USP e coautor de "Vinte Centavos: A Luta Contra o Aumento" (Veneta), sobre os protestos de 2013, colecionam histórias em que Suplicy foi acionado por ativistas em apuros, para negociar com governos estadual e municipal, para falar em plenário sobre agenda importante para os movimentos ou acompanhar lideranças detidas pela polícia.
"Vai ele mesmo na delegacia. É um apoio presencial", conta Ortellado, que destaca o trânsito do senador fora do PT.
TEIMOSIA E PT
Na sua legenda, no entanto, o lamento pela derrota não é unâmime. Suplicy só garantiu a vaga na disputa pelo Senado após ameaçar trocar a legenda pela Rede Sustentabilidade, de Marina Silva, em 2012.
A cúpula do partido atribui o revés deste domingo à teimosia do próprio senador, que insistiu em disputar a reeleição, quando o comando petista preferia que ele concorresse a uma vaga na Câmara dos Deputados.
A ideia era aproveitar o prestígio dele, que transcendo o PT, para ser um grande puxador de votos e garantir uma ampla bancada, substituindo petistas condenados e presos pelo mensalão, como o ex-deputado João Paulo Cunha (PT-SP).
Não há clareza sobre o futuro de Suplicy na legenda. Uma alternativa apontada por aliados seria encaixá-lo em alguma área da gestão do prefeito Fernando Haddad, mas gestões para tal ainda não ocorreram.
Em entrevista à "TV Folha", Suplicy disse ter muitos planos para os próximos meses, entre eles viajar a Índia para acompanhar a experiência da aplicação de sua principal bandeira política, a transferência de renda mínima universal, em comunidades do país.