Os cinco senadores que se arriscaram em disputas nas eleições municipais deste ano devem terminar a corrida eleitoral com péssimo desempenho. Três deles sequer foram para o segundo turno e os dois que chegaram à segunda rodada dificilmente serão vitoriosos considerando as pesquisas divulgadas até semana passada.
As explicações para esses fracassos variam de acordo com o cenário eleitoral local, mas na avaliação do cientista político da Universidade de Brasília (UnB), David Fleisher, há ao menos um elemento em comum. "O eleitor pensa 'acabamos de te eleger senador e agora você quer virar prefeito?'", disse.
A rejeição do eleitor, no entanto, está combinada também à situação individual de cada candidatura. Humberto Costa (PT-PE), candidato derrotado à prefeitura de Recife já no primeiro turno, e Wellington Dias (PT-PI), que ficou fora da segunda rodada em Teresina, são exemplos de candidaturas que naufragaram em meio a conflitos dentro dos diretórios locais de seu partido.
Costa, que teve mais de 3 milhões de votos em 2010 quando foi eleito senador, ficou em terceiro na disputa pela prefeitura de Recife com 17,4% dos votos válidos, mais de 100 mil votos atrás do novato candidato do PSDB, Daniel Coelho, que ficou em segundo, atrás do eleito Geraldo Julio (PSB).
O parlamentar só se candidatou depois de um racha do PT na capital pernambucana, causado principalmente pela insistência do atual prefeito, o petista João da Costa, em disputar a reeleição. A cúpula nacional do PT interveio no diretório local e impôs a candidatura do senador, o que provocou também o rompimento da aliança com o PSB.
Já Dias, que foi governador entre 2003 e 2010 e fez seu sucessor para o comando do Estado, ficou em terceiro em Teresina, com pouco mais de 14,1% dos votos, bem atrás de Firmino Filho (PSDB) e Elmano Férrer (PTB), que disputam o segundo turno.
Na capital piauiense, o PT também estava dividido e Dias se candidatou para unificar o partido. Dias acredita que, ao menos essa vitória, ele conseguiu.
"Insisti para não ser candidato e depois numa estratégia do partido aceitei ser candidato nas vésperas da convenção", disse o parlamentar à Reuters.
"E aqui havia por parte da população uma discussão de que eu seria candidato agora para me afastar em 2014 (para concorrer ao governo do Estado). E isso gerou insegurança no eleitorado, mesmo eu afirmando que tinha compromisso de manter o mandato".
Já Inácio Arruda (PCdoB-CE), que foi eleito senador em 2006, fracassou na disputa em Fortaleza. O comunista teve apenas 1,8 por cento dos votos válidos e ficou em sétimo lugar na disputa.
O senador comunista disse na semana passada, em discurso no Senado, que o PCdoB teve um bom desempenho nas eleições municipais e ressaltou que, no caso de Fortaleza, o problema foi concorrer sem nenhum partido aliado.
"Nessas eleições onde disputamos sozinhos, evidentemente, a nossa força não conseguiu o êxito que os nossos companheiros, em alianças, alcançaram", discursou Arruda.
Outra explicação para o fracasso de alguns senadores já no primeiro turno, segundo Fleisher, é que os votos conseguidos na disputa para o Senado vêm de várias partes do Estado e não apenas da capital.
"Às vezes, ele (o senador) ganha mas não foi bem votado na capital" afirmou o cientista político.
Dias, eleito senador em 2010 com mais de 997 mil votos, conta que conseguiu 77% dos votos de fora da capital e cerca de 60% dos votos de Teresina.
Segundo turno
Outros dois senadores avançaram um pouco mais nas disputas municipais, mas segundo as pesquisas não devem sair vitoriosos nas urnas.
Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), que também se candidatou na última hora para a prefeitura de Manaus, está reeditando a disputa que teve há dois anos com o ex-senador tucano Arthur Virgílio por uma vaga no Senado.
Em 2010, a comunista levou a melhor com uma diferença de apenas 28.580 votos sobre o candidato do PSDB. Agora, porém, tudo indica que Virgílio irá à forra.
Ele terminou o primeiro turno na frente com mais de 40,5% dos votos válidos, contra 19,9% de Vanessa. E lidera as pesquisas com folga.
O levantamento Ibope feito entre os dias 17 e 19 mostra o tucano com 68 por cento das intenções de votos válidos, contra 32% da comunista.
Em João Pessoa, Cícero Lucena (PSDB-PB), eleito senador em 2006, conseguiu levar a disputa para o segundo turno depois de receber 20,2 por cento dos votos válidos e enfrenta o petista Luciano Cartaxo, que teve mais de 38,3 por cento dos votos na primeira rodada.
A pesquisa Ibope, porém, aponta que o senador não sairá vencedor. A sondagem feita entre os dias 17 e 19 aponta Cartaxo com 73% das intenções de votos válidos contra 27% do tucano.
Com um mandato de oito anos, é cômodo para os senadores disputarem eleições para prefeito ou governador durante esse período e serve até como estratégia para manter o nome na vitrine eleitoral, evitando o risco de ficar sem um cargo público.
"Todas essas candidaturas, de uma certa maneira, ajudam na próxima candidatura. Seu nome fica mais conhecido, fica mais perto dos eleitores. Isso facilita na reeleição depois", argumentou Fleisher.
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