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Paulo Câmara foi secretário de Eduardo Campos e conta com todo o apoio da família do ex-governador, morto em agosto | Wagner Ramos/PSB
Paulo Câmara foi secretário de Eduardo Campos e conta com todo o apoio da família do ex-governador, morto em agosto| Foto: Wagner Ramos/PSB

Para sociólogo, "cenário é absolutamente contraditório"

Autor do livro "Nas ruas: a outra política que emergiu em junho de 2013", o sociólogo Rudá Ricci diz que o conservadorismo dos eleitores nas disputas pelos governos estaduais e Presidência da República é "absolutamente contraditório" em relação aos protestos do ano passado. "Logo em seguida das manifestações, a aprovação da Dilma e da maioria dos governadores bateu no fundo do poço. É o retrato de que não eram só os meninos que saíram de casa que queriam mudança, mas a maioria da população."

Para Ricci, os partidos conseguiram se blindar ao não oferecerem alternativas reais de candidatos "outsiders". "Os manifestantes teriam realmente peso eleitoral se encontrassem um canal de identificação com pelo menos algum candidato ou partido. O que acontece é que o nosso sistema é tão fechado em grupos políticos tradicionais que se tornam impermeáveis para qualquer nome novo."

O sociólogo calcula que os "realmente descontentes" correspondem a uma fatia de 30% do eleitorado. "Há uma enorme parte desse grupo que preferiu adotar a tática do cinismo, de votar em quem considera menos pior, porque acha mesmo que nada vai mudar." Segundo ele, no entanto, esse ambiente "mal resolvido" permite que o "fantasma das manifestações" continue perseguindo os políticos nos próximos quatro anos.

  • Rudá Ricci, sociólogo

Alvos das manifestações de junho de 2013, os políticos e partidos tradicionais estão prestes a dar a volta por cima no próximo domingo. Dos 27 nomes que lideram as pesquisas para governador, apenas um é novato em disputas eleitorais. Em 17 unidades da federação, o favorito disputa a reeleição (10 casos) ou é ex-governador (7). Nas nove restantes, o primeiro colocado é ex-congressista ou ex-prefeito.

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Até o único estreante segue uma fórmula de sucesso antiga. No começo do ano, Paulo Câmara (PSB) foi escolhido a dedo como sucessor pelo então governador de Pernambuco, Eduardo Campos, que se preparava para concorrer à Presidência. Ex-secretário de Administração, Turismo e Fazenda da gestão Campos, ele seria mais um dos experimentos de "poste" inaugurados por Lula com Dilma Rousseff (PT), em 2010. A tragédia provocada pela morte do padrinho, em agosto, potencializou o desempenho nas pesquisas e deixou Câmara com chances de vencer no primeiro turno.

Também não há novatos entre os segundos colocados. O único deles que nunca exerceu mandato é o paulista Paulo Skaf (PMDB), mas que concorre a governador pela segunda vez. Skaf, contudo, tem um trunfo mais relevante que grande parte dos cargos públicos – é presidente licenciado da poderosa Federação das Indústrias do Estado de São Paulo.

Reeleição

Dezessete governadores disputam a reeleição. Dez deles lideram as pesquisas mais recentes, outros seis estão em segundo lugar e apenas o petista Agnelo Queiroz, no Distrito Federal, aparece na terceira posição. Desse segundo pelotão, apenas quatro correm risco de não chegar ao segundo turno – José Melo (Pros-AM), Renato Casagrande (PSB-ES), Zé Filho (PMDB-PI) e Sandoval Cardoso (SD-TO). Dentre eles, no entanto, só Casagrande foi cabeça de chapa em 2010 – o restante assumiu em abril de 2014 após renúncia dos governadores eleitos. Todos estão perdendo disputas contra ex-governadores.

Dos favoritos, quatro têm chances de se eleger no primeiro turno – Beto Richa (PSDB-PR), Geraldo Alckmin (PSDB-SP), Tião Viana (PT-AC) e Raimundo Colombo (PSD-SC). Se apenas os atuais líderes das pesquisas conseguirem um novo mandato, o índice de reeleição de 2010 será de 65%. Em 2010, essa porcentagem ficou em 73% – 11 de 15 governadores conseguiram se eleger.

A perspectiva de renovação real cai quando se coloca na balança o desempenho dos ex-governadores. Além dos sete que encabeçam as pesquisas para voltar ao cargo – Waldez Góez (PDT-AP), Eduardo Braga, (PMDB-AM), Paulo Souto (DEM-BA), Paulo Hartung (PMDB-ES), Cassio Cunha Lima (PSDB-PB), Welington Dias (PT-PI) e Marcelo Miranda (PMDB-TO) –, outros dois estão em segundo lugar – Roberto Requião (PMDB-PR) e Iris Rezende (PMDB-GO).

Além disso, dos nove que aparecem como favoritos para ocupar o cargo de governador pela primeira vez, quatro são atualmente senadores, três são ex-deputados federais e dois ex-prefeitos.

Por que há tão pouca renovação na política brasileira? As manifestações do ano passado foram definitivamente esquecidas?Deixe seu comentário abaixo e participe do debate.

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