Acompanhando a presidente Dilma Rousseff (PT) em um ato eleitoral em Curitiba na última sexta-feira, o vice-presidente Michel Temer (PMDB) aproveitou para participar de um evento interno do partido, na sede da legenda na capital. Em conversa exclusiva com a Gazeta do Povo, falou dos rumos e temas da campanha presidencial. Ele desconsidera uma possível vitória do concorrente Aécio Neves (PSDB) nas urnas. Por isso não cogita a hipótese de uma eventual aliança com os tucanos no próximo governo. Temer reafirmou que o partido deve lançar candidatura própria para a Presidência em 2018, mas desconversa quando questionado se ele próprio poderia ser o candidato. "Nós vamos escolher um nome, isso o PMDB vai decidir", disse. Sobre o racha no partido parte apoia Dilma e parte está com Aécio , o presidente da sigla afirma que, após as eleições, tudo vai mudar. "Eu mesmo, como presidente nacional do PMDB, pretendo convocar o partido para estabelecer uma unidade absoluta, uma espécie de verticalização", explica.
A Operação Lava Jato e a consequente delação premiada do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, que citou desvios na estatal, viraram assunto eleitoral. Como o sr. e a presidente Dilma têm tratado o assunto?
É um assunto eleitoral. Primeiro, a presidente tem pensado até em novos métodos de combate à corrupção, além dos já existentes. Temos conversado muito sobre isso. E segundo, quem está apurando [as denúncias] é a Polícia Federal. Mas a Polícia Federal é um órgão do Ministério da Justiça, que, por sua vez, é integrante da administração pública federal. Então, quem está apurando isso é o próprio Poder Executivo. Queremos apuração rigorosa desses fatos. Não há nada a esconder.
Em alguns estados, os grandes nomes do partido que estão com Aécio. O que o sr. acha?
Não tem sido tradição no PMDB punir aqueles que, por razões locais, não possam acompanhar a chapa nacional. Agora eu quero dizer o seguinte: é um assunto que vai mudar. Se ganharmos a eleição agora, em 26 de outubro, eu mesmo, como presidente nacional do PMDB, pretendo convocar o partido para estabelecer uma unidade absoluta, uma espécie de verticalização. Ou seja, se houver uma decisão em nível nacional, você não pode fazer outra aliança nos estados que não seja aquela feita no plano nacional.
Há nessa campanha uma luta do "nós contra eles". Como a presidente Dilma fala é o "retrocesso contra o avanço". Mas o PMDB foi aliado do governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Não é contraditório assumir essa posição?
O PMDB é o partido da governabilidade. Você sabe que, se o PMDB está de um lado determinado, o governo não consegue muitas vezes aprovar certas teses que são úteis para o país. Ele esteve, é verdade, ao lado do Fernando Henrique, por exemplo. Quando se aprovou o real, foi graças ao PMDB. Quando se aprovou a Lei de Responsabilidade Fiscal, que é importantíssima, o PMDB, que é um fortíssimo partido congressual, deu apoio para aprovar. Agora, o governo Lula e o governo Dilma, nas várias ações de natureza social, o PMDB deu apoio. Ou seja, o PMDB é o partido da governabilidade. O que tem acontecido é que não tem lançado candidato à Presidência da República. E tenho dito com muita frequência que nós temos que preparar a candidatura para 2018.
O sr. seria talvez um dos nomes para essa disputa?
Não, não. Nós vamos escolher um nome, o PMDB vai decidir.
O PMDB será oposição ao governo se Aécio Neves ganhar a eleição?
Eu nem quero cogitar essa hipótese porque nós vamos ganhar a eleição [risos]. O PMDB será situação.
Sobre o partido no Paraná: houve aqui uma briga entre os partidários. O PMDB nacional referendou a ala do senador Roberto Requião para a direção da legenda. Como o sr. vê essa briga? Acredita que isso teve influência na eleição local?
Foi um problema localizado. Nós queremos acabar com essas brigas regionais. As disputas de natureza eleitoral antes da eleição são legítimas. Você quer lançar candidato a governador e de repente aparecem três candidatos. Mas, quando se lança um candidato, o PMDB terá de estar reunificado em torno daquele candidato. É o que pretendemos no futuro.
E como reverter a votação da Dilma no Paraná [no 1.º turno ela perdeu para Aécio]? Faltou um pouco de união entre Requião e Gleisi em torno da campanha da presidente?
Em primeiro lugar acho que o fato de o Requião e a Gleisi estarem juntos [na disputa pelo governo]. Em segundo lugar, os votos que a Marina [Silva] teve aqui. O eleitor da Marina é muito parecido com o eleitor da Dilma, então acho que a tendência será que a grande maioria do eleitor da Marina vote na Dilma e, por isso, acredito que o voto aqui vai crescer enormemente.
Nessa reta final, o que fazer? É preciso continuar investindo nos ataques?
Continuar visitando o país, como eu tenho feito, como vários companheiros têm feito e como a Dilma tem feito. Continuar com que a Dilma saia-se bem nos debates. Estou sugerindo que ela fale muito do que foi feito no passado e do que estamos fazendo agora, revelando a diferença.
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