A Construtora OAS, o frigorífico JBS e a Construtora Andrade Gutierrez são os três principais financiadores da campanha até o momento, de acordo com a segunda prestação parcial de contas apresentada pelos candidatos à Justiça Eleitoral. Juntas, as três empresas doaram quase R$ 64 milhões, 39% do total de recursos que entrou na contabilidade oficial dos três principais concorrentes ao Planalto.

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As doações das três maiores beneficiaram principalmente a presidente Dilma Rousseff (PT), que disparou no ranking de arrecadação. Depois de sair atrás de Aécio Neves (PSDB) no primeiro mês de campanha, ela se recuperou na segunda parcial da prestação de contas, cujo prazo para entrega se esgotou na terça-feira. No total, a petista já arrecadou R$ 123,6 milhões até agora - cerca de cinco vezes o valor declarado pelas contas da campanha presidencial do PSB, partido de Marina Silva, sua principal adversária.

Dilma arrecadou sozinha mais da metade dos cerca de R$ 200 milhões declarados por todos os presidenciáveis nas duas parciais entregues ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) antes das eleições. Em segundo lugar vem Aécio, com R$ 44,5 milhões. Marina Silva ainda não tem registros de doações em seu nome, pois sua candidatura ainda precisa ser deferida pelo TSE. O total arrecadado na conta do ex-candidato do PSB Eduardo Campos e em seu comitê chega até agora a R$ 24 milhões.

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A OAS é a líder no ranking de doações, com R$ 26,1 milhões repassados nos três primeiros meses de campanha. A principal beneficiária foi Dilma, que recebeu 77% do total. O JBS vem logo a seguir, com R$ 26 milhões (a conta incluiu a Flora Produtos de Higiene e Limpeza, outra empresa do grupo). A Andrade Gutierrez doou R$ 11,8 milhões. Os dados foram calculados pelo Estadão Dados em parceria com a Transparência Brasil, com base nos registros contábeis apresentados pelas campanhas à Justiça Eleitoral. Foram levadas em consideração todas as doações nas contas da campanha de cada candidato e do comitê para presidente além do dinheiro que saiu das direções nacionais dos partidos para essas duas contas.

Segundo o diretor executivo da Transparência Brasil, Claudio Weber Abramo, o valor parcial das doações aos candidatos a presidente neste ano já se aproxima do que foi doado ao longo de toda a eleição de 2010, incluindo o 2.º turno - quando os valores são corrigidos para eliminar o efeito da inflação. Se as doações continuarem nesse ritmo, 2014 terá uma campanha ainda mais cara do que a anterior. É uma tendência que se repete desde 2002.

Uma parte do aumento das doações pode ser creditada à diminuição do caixa 2 e à maior eficácia dos mecanismos de controle, diz Abramo. Mas outra parte é aumento de custos.

O Estado constatou diversas inconsistências na contabilidade do PSB. Na conta da direção nacional do partido, por exemplo, há registro de repasses para a conta do comitê de Eduardo Campos, mas estes não aparecem como receita na contabilidade do mesmo comitê. Também acontece o contrário: na conta do comitê aparecem repasses vindos do partido, mas estes não estão na contabilidade da legenda. Ainda assim, o Estado conseguiu mapear todas as doações de pessoas físicas e jurídicas.

Além dos recursos que já caíram nas contas de candidatos e comitês, os três partidos ainda têm dinheiro em caixa, que pode ou não ser repassado para as campanhas presidenciais. O PT tem R$ 2 milhões, diferença entre os R$ 66,5 milhões que recebeu em doações e os R$ 64,5 milhões que distribuiu a diversas campanhas - principalmente aos candidatos a governador do partido. O PSDB está com uma sobra de caixa ainda maior: R$ 4,4 milhões. O PSB, por sua vez, dispõe de R$ 2,6 milhões para distribuir entre seus candidatos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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Concentração de doadoras já vem desde primeira parcial

Dezenas de milhares de empresas e pessoas já doaram para as campanhas eleitorais de 2014 até agora, mas a maior parte do valor total arrecadado pelos partidos vem de um seleto grupo de doadores. Das 15.733 pessoas físicas e jurídicas que contribuíram com mais de R$ 100 para as campanhas na primeira prestação de contas, feita no início de agosto, apenas 32 delas foram responsáveis por 50% do total doado.

A maior doadora até a primeira parcial das contas foi o frigorífico JBS, que está bancando R$ 59 milhões em gastos de candidatos e partidos neste ano. Sozinha, a empresa representa 15% do total de R$ 390 milhões arrecadados de doadores que contribuíram com mais de R$ 100, conforme levantamento da Transparência Brasil e do Estadão Dados.

Em seguida, vêm a construtora OAS, a fabricante de bebidas Ambev e a construtora Queiroz Galvão, com R$ 17 milhões, R$ 16,7 milhões e R$ 11,3 milhões, respectivamente. Além de empreiteiras e gigantes dos ramos de bebida e alimentos, o ranking das empresas que mais doaram têm empresas de telecomunicações (como a Telemont), do ramo hospitalar (Hospital 9 de Julho) e bancos (como o Safra).

Para Cláudio Abramo, diretor executivo da Transparência Brasil, a distância financeira entre os maiores e os menores doadores confere um poder desequilibrado de influência das grandes empresas sobre os candidatos que venham a ser eleitos. "Essa é uma das principais deficiências do sistema brasileiro de financiamento eleitoral: a inexistência de um teto absoluto para as doações que uma empresa pode realizar abre as portas para o que se pode literalmente chamar de compra de influência sobre os candidatos."

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A ONG não é contra a doação de empresas a políticos ou partidos, mas defende maior controle sobre as contribuições. Para Abramo, se houvesse limite para o total que uma empresa ou pessoa física pudesse doar, a distância entre os maiores e os menores se reduziria drasticamente, o que reduziria o poder de influência dos gigantes.

Fernando Filgueiras, professor de Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), concorda. "Não devemos esperar, por parte dos doadores de campanha, inocência ou endosso entusiástico a esta ou aquela campanha. O que doadores esperam é poder de influência sobre decisões políticas e no formato das políticas publicas", observa. "É evidente que ela cria uma distorção enorme na representação política e influência no jogo de poder, porque certamente estes doadores terão um acesso privilegiado no processo de decisão." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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