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Especialistas pedem o resgate do papel do Itamaraty como principal formulador de políticas | Tereze Neuberger/Jornal de Brasília
Especialistas pedem o resgate do papel do Itamaraty como principal formulador de políticas| Foto: Tereze Neuberger/Jornal de Brasília

Vizinhança

Relação com países próximos também deve mudar na próxima gestão

Independentemente de quem for eleito e do tema ter sido negligenciado em detrimento de outros assuntos, durante a campanha eleitoral, a relação com a América Latina também está em jogo. Para Túllo Vigevani, do Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais da Unesp, as diferenças são mais retóricas, ao menos no campo econômico. O discurso de Aécio tem sido de crítica ao Mercosul e outros países vizinhos.

"Mas este discurso talvez não seja mantido. A América do Sul é o melhor mercado para produtos brasileiros mais sofisticados. Deve separar-se o discurso eleitoral do que será possível fazer", afirma.

Ilha comunista

A relação com Cuba, seja pelos contratos assinados no Porto de Mariel, seja pelos médicos cubanos no Brasil graças ao programa Mais Médicos, é outra questão de destaque na campanha. Para Vigevani, há possibilidade de mudança no segundo caso.

"Em relação a Mariel, não creio que nada mude. A presença brasileira na região, com tecnologia, infraestrutura, serviços, pode ser de interesse nacional brasileiro", argumenta. Mas, de acordo com o professor, no caso dos médicos, há chance de mudança porque há pressões na sociedade contra esses médicos.

Já sobre o Oriente Médio, o professor Mamede Jarouche, do Centro de Estudos Árabes da USP, crê não haver diferenças significativas nos dois candidatos em relação ao processo de paz palestino-israelense, no qual o Brasil mantém o apoio a uma solução de dois Estados.

Com relação ao papel do Itamaraty, as expectativas divergem. Para o ex-embaixador Roberto Abdenur, a vitória de Dilma implica a continuidade da atual situação, em que o ministério divide espaço com o Planalto na formulação da política externa. "O Itamaraty tem de resgatar seu papel de ser o grande coordenador das ações. Hoje, ele parece pouco mais importante que o Ministério da Pesca. Num governo Aécio isso seria corrigido", defende.

Milhões de eleitores que vão às urnas neste domingo ficaram sem saber, durante a campanha, que ideias a presidente Dilma Rousseff (PT) e o oposicionista Aécio Neves (PSDB) guardam para conduzir o Brasil no cenário internacional no quadriênio 2015-2018. Os rumos da política externa do país, no entanto, já são vislumbrados por especialistas e englobam novas acomodações e fortes rupturas, dependendo do tema em questão.

Um dos mais sensíveis é a relação com os Estados Unidos, abalada pela espionagem da Agência de Segurança Nacional americana (NSA, na sigla em inglês) no Brasil, incluindo em seus alvos a presidente. O caso veio à tona com as revelações do ex-técnico da NSA, Edward Snowden, e levou Dilma a cancelar uma visita de Estado aos EUA. As expectativas nesse caso são de normalização.

Embora concordem com o posicionamento da presidente, alguns especialistas recomendam um recomeço na relação com os EUA. "Acredito que num segundo mandato ela vai reajustar varias coisas, vai procurar mais os EUA para dinamizar a economia porque, independentemente de quem for presidente, a economia vai ter problemas. E Aécio com certeza vai priorizar as relações com os EUA" disse o brasilianista James Green, do programa Brazil Initiative, da Brown University.

Para o embaixador Luiz Augusto de Castro Neves, do Centro Brasileiro de Relações Internacionais, a relação da China como principal parceiro comercial não deve ser alterada caso qualquer um dos candidatos ganhe as eleições. Ele explica que, do ponto de vista econômico, nos últimos 14 anos a China tem buscado aumentar a exportação e comprar as commodities brasileiras, sobretudo minério e soja. E não tem interesse em mudar de maneira alguma essa relação.

Em desenvolvimento

No que diz respeito aos Brics (bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), no entanto, acredita-se que as relações estratégicas podem ser congeladas caso Dilma não seja reeleita. É improvável que a vitória de Aécio signifique a reversão em acordos já feitos, mas todas as parcerias podem entrar na geladeira.

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