A ideia lançada pelo economista Eduardo Giannetti de atrair os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Lula para apoiar um eventual governo Marina Silva bate de frente com a história recente da democracia brasileira. Em 2014, petistas e tucanos completam 20 anos de polarização na disputa presidencial e não dão sinais de que estão dispostos a mudar esse panorama.
Conselheiro de Marina, Giannetti declarou nesta semana, em entrevista à Folha de S.Paulo, que Marina está disposta a procurar pessoas ligadas aos dois partidos na formação da equipe de governo. "Se José Sarney, Renan Calheiros e Fernando Collor vão para a oposição, com quem se governa e com quem se negocia? É com Lula e FHC", disse ele, que é ex-professor do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper).
A afirmação foi recebida com ironia, especialmente pelos tucanos. O presidenciável Aécio Neves disse que "o que vai prevalecer é o software original". Na mesma linha, FHC declarou que "no mandato de Aécio gostaria muito de ter a aliança da Marina".
O professor de Ciência Política do Insper Carlos Melo diz que a colocação de Giannetti é possível para quadros técnicos de ambos os partidos, mas inimaginável em relação aos políticos. "Técnicos que trabalharam no Ministério da Fazenda, por exemplo, seriam um reforço factível. Mas achar que esse tipo de apelo por um governo de concertação vai funcionar no Congresso é querer demais", avalia.
Nas seis eleições diretas após a redemocratização, em 1985, petistas e tucanos só estiveram juntos no segundo turno de 1989, quando o PSDB apoiou Lula. Em 1992, quando Itamar Franco assumiu depois do impeachment de Collor, ofereceu vagas para os dois partidos no ministério. "O PT achava mais seguro apostar as fichas na eleição do Lula, em 1994, mas então o Plano Real deu certo e FHC venceu", lembra Melo.
Na época, o posicionamento de ambas as siglas foi decisiva para o futuro da polarização. Em raros momentos houve tentativas de reaproximação. Aécio foi um dos poucos tucanos que mantiveram a interlocução com o PT quando governador de Minas Gerais, imaginava que esse diálogo o colocaria como principal nome do pós-Lula, o que não se concretizou.
Membro do primeiro escalão nos governos de Ernesto Geisel (1974-1979), Fernando Collor (1990-1992), FHC (1995-2002) e Lula (2003-2010), o deputado federal Reinhold Stephanes (PSD-PR) assinala que nenhum deles conseguiu colocar em prática o tipo de moderação sugerido por Giannetti. "Mesmo a visão de que o Itamar tentou juntar todo mundo é errada. Na verdade, foram os grandes partidos que juntaram o Itamar, porque a situação depois do impeachment ficou insustentável", afirma.
Stephanes e Marina foram companheiros de ministério no segundo mandato de Lula da Agricultura e Meio Ambiente, respectivamente. O convívio teve vários momentos de tensão. Para o deputado, a ex-colega não parece ter o perfil adequado para colocar em prática uma gestão moderada. "Marina é uma mulher honesta, séria e religiosa. Agora, do ponto de vista político e administrativo ela é extremamente fraca. O mundo dela continua sendo o Acre, o extrativismo, a floresta, e não o do Brasil como um todo", opina.
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