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O Brasil deu uma guinada à direita após a abertura das urnas no início do mês. A tendência vai se manter agora, no segundo turno. Nas principais cidades, quando há candidatos mais à esquerda, em geral eles não estão bem nas pesquisas. Mas a direita vitoriosa seria mais bem classificada como “as direitas” vencedoras. Nesse espectro ideológico, afinal, há uma pluralidade de perfis e posicionamentos: o liberal, o conservador, o antipolítico (ao menos no discurso), o “gerentão”, o ruralista e o reacionário. Muitas vezes mais de um desses perfis se cruzam num único político.

Vencedor já no primeiro turno em São Paulo, o empresário João Doria (PSDB) havia encarnado durante a campanha a figura do candidato que não é político, mas sim um gerente eficiente que pode “dar um jeito” na administração pública. Logo após ser eleito, Doria anunciou projetos de cunho liberal: a concessão à iniciativa privada ou venda de espaços públicos municipais como o estádio do Pacaembu, o autódromo de Interlagos e alguns parques.

Curitiba terá prefeito de direita

O segundo turno em Curitiba também é disputado entre dois candidatos que estão no campo político mais à direita. Tanto Rafael Greca (PMN) quanto Ney Leprevost (PSD) fazem parte de grupos políticos identificados com esse espectro ideológico. E, durante a campanha, ambos buscaram explorar o fato de o adversário ter algum esquerdista como apoiador ou como antigo aliado. Greca criticou a atual aliança de Leprevost com o PCdoB – partido que foi contra o impeachment de Dilma Rousseff. E Leprevost usou na campanha imagens de Greca com Dilma e Lula. Nessa época, o candidato do PMN era filiado ao PMDB – partido que, no Paraná, tinha aliança com o PT.

Outro vitorioso que também personaliza a direita “gerencial” foi Antônio Carlos Magalhães Neto (DEM). Embora seja um político tradicional, se reelegeu em Salvador (BA) após adotar uma gestão tipicamente de direita, focada num forte ajuste fiscal e controle de gastos. Com isso, sobrou dinheiro para tocar obras e manter sua popularidade.

Em Belo Horizonte (MG), os dois candidatos do segundo turno também estão no campo da centro-direita. E ambos personificam no imaginário popular o antipolítico. João Leite (PSDB) um pouco menos do que Alexandre Kalil (PHS). Leite se tornou uma figura pública como goleiro, inclusive da seleção brasileira. Mas está na política há algum tempo, como deputado. Já Kalil, além de ser empresário, também é ligado ao futebol: foi presidente do Atlético Mineiro. Mas nunca teve cargo eletivo.

Conservadorismo moral

O Rio de Janeiro tende a eleger neste domingo (30) um conservador nos costumes: o senador Marcelo Crivella (PRB). Na última pesquisa Ibope*, ele apareceu bem à frente do candidato da esquerda, Marcelo Freixo (PSol): 46% das intenções de voto contra 29%.

Crivella é bispo licenciado da Igreja Universal e se posiciona contra a legalização do aborto. Já condenou a prática da homossexualidade, embora tenha atenuado sua posição durante a campanha. E também declara ser um criacionista – grupo que rejeita a teoria da evolução de Charles Darwin e que tenta conciliar a biologia com a criação descrita na Bíblia.

Outro perfil direitista que pode emergir destas eleições é o do ruralista. Político tradicional e rotineiramente associado às causas do campo, Iris Rezende (PMDB) está no segundo turno em Goiânia (GO). Na campanha, renegou o PT, a quem já havia apoiado. E se aliou ao senador Ronaldo Caiado (DEM) – talvez o principal líder ruralista do país. O adversário de Iris, Vanderlan Cardoso (PSB), por sua vez, é um empresário de sucesso – perfil em alta.

Extrema-direita

Simpáticos à ditadura militar e críticos ferrenhos de políticas de direitos humanos e de programas voltados às minorias, os reacionários (ou representantes da extrema-direita) não têm chances de conquistar nenhuma grande prefeitura do país. Dentro das “direitas”, é o segmento que menos teve sucesso nas eleições. Seu principal representante foi Flávio Bolsonaro (PSC), filho do deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ). Ele ficou em quarto lugar na disputa pela prefeitura do Rio, com 14% dos votos.

* O Ibope ouviu 1.204 eleitores do Rio de Janeiro entre os dias 21 e 27 de outubro. A margem de erro é de três pontos porcentuais para mais ou para menos e o nível de confiança da pesquisa, de 95%. O levantamento foi contratado pela Rede Globo e registrado no TRE -RJ sob o protocolo RJ-03731/2016.

Direita tende a se dividir em 2018, dizem analistas

O cientista político Doacir Quadros, do Grupo Uninter, afirma que a ascensão dos partidos de direita e centro-direita nas eleições de 2016 ocorreu principalmente em razão da crise do PT – que comprometeu o desempenho de toda a esquerda. Segundo ele, o eleitor optou por escolher candidatos que encarnaram o discurso antipetista. Mas esses políticos têm tendências e perfis bem variados dentro da direita. “A meu ver, no curto prazo o discurso contra o PT contribuiu para a direita chegar ao poder. Mas há uma grande tendência de haver uma divisão entre eles em 2018”, diz Quadros. Ainda assim, ele não aposta que a esquerda consiga reconquistar a Presidência daqui a dois anos.

O cientista político Mário Sérgio Lepre, da PUCPR, também acredita que a esquerda não terá candidato competitivo em 2018 e que, apesar disso, a direita pode se fragmentar na sucessão presidencial. “Pode ocorrer de a direita ter muitos candidatos”, diz Lepre. Dentre eles, podem estar concorrentes da centro-direita (do governo Temer e do PSDB), um ruralista (como o senador Ronaldo Caiado, DEM-GO), alguém como o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ). “Isso pode levar para o segundo turno alguém que não é muito razoável”, afirma o cientista político da PUCPR.

Lava Jato

Lepre afirma que um fator que ameaça embaralhar toda a disputa de 2018 é a Operação Lava Jato – que pode implicar os principais nomes cotados para se candidatos à sucessão presidencial. “Aí emerge a figura do salvador da pátria. Mas quem vai ser? O Bolsonaro? Fica a incógnita”, diz Lepre.

Doacir Quadros, porém, não acredita na viabilidade eleitoral de alguém da extrema-direita, como Bolsonaro. Segundo ele, candidatos com esse discurso podem ter votos suficientes para se eleger a cargos legislativos, mas dificilmente chegam ao Executivo. O eleitor médio tende a ter posições mais ao centro no espectro político. E concorrentes com discurso radical acabam desagradando à maioria da população.

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