Tadeu Veneri é um homem de utopias. Fala com a serenidade de quem não abandona suas convicções, mesmo em momentos adversos. As utopias do neto e filho de ferroviários que se tornou deputado estadual, no entanto, não se restringem à política, mas o abraçam na vida pessoal. A relação com o futebol ilustra bem essa postura: mantém uma paixão indissociável pelo Paraná Clube, ainda que o time não passe por boa fase. “Eu vou em qualquer situação. Em época de campanha [eleitoral], a única coisa que peço é para não marcarem compromisso perto de horário de jogo”, avisa.
A ligação de Veneri com o “Paranito” se criou por “osmose”, como gosta de definir. Na década de 1970, quando chegou a Curitiba, torcia pelo Clube Atlético Ferroviário, uma das agremiações que deu origem ao Colorado, que viria a se fundir a outros clubes, formando o Paraná. Era natural que a paixão se “transferisse” para o tricolor. Desde então, Tadeu raramente deixa de ir ao Estádio Durival Britto e Silva, onde o clube manda seus jogos. Gosta de ficar na curva da geral, pertinho da torcida Fúria Independente. “Eu vou pra festar, comer um pão com bife ou com bolinho, ver amigos... Sempre levei meus filhos, agora levo meus netos”, acrescenta. “Mesmo em fase ruim, a gente sempre acredita na vitória. Sempre”, completa.
Abismo social
Filho de uma professora e de um ferroviário, Veneri nasceu em União da Vitória. Passou a infância em uma modesta casa de madeira, localizada em uma área que alagava a cada chuva. “A gente aproveitava para caçar sapos”, lembra. Adorava ouvir notícias ao rádio e, ainda menino, se interessava pelas grandes greves dos ferroviários, que paravam o estado. “Meu pai nunca se envolveu, não gostava. Mas eu fazia ele me levar lá, pra ver aquela movimentação. Quando a greve acabava, tocavam os apitos. Aquilo me marcou”, conta.
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Aos 14 anos, começou a trabalhar como entregador de malotes. Em uma bicicleta, percorria quilômetros e quilômetros, na maioria das vezes, em estradas de terra. Como se sujava, às vezes os empresários nem sequer deixavam-no entrar nos escritórios para concluir a entrega: ele tinha que arremessar os volumes. Nessas andanças, começou a se consolidar sua consciência social. “Eu via a tragédia das pessoas. Tinha pessoas muito, muito pobres, o que contrastava de forma gritante com a riqueza de uns poucos, que eram madeireiros”, reforça.
Curitiba de perrengues
Veneri chegou a Curitiba no fim de julho de 1972, aos 19 anos. Como tantos jovens, trazia apenas uma mala pequena e a vontade de fazer a vida. Nos primeiros dias, ficava de favor em uma distribuidora, onde dormia sobre os malotes. Depois, conseguiu pagar uma pensão na Rua Saldanha Marinho, onde dividia um quarto com outros três rapazes. Por muito tempo, passava o dia com uma única coxinha e um Chocomilk. “Eu cheguei sem dinheiro e sem conhecer nada da cidade. Passava um perrengue danado”, define.
Polêmicas-clichês
Paraná, Coxa ou Atlético?
Paraná
Em relação a descriminalização de drogas, como a maconha, o que o senhor pensa? Já usou?
Nunca usei. Fui de beber cerveja, rabo de galo e cuba. Não era comum. Mas descriminalizar é uma forma de reduzir a violência que o tráfico impõe. Hoje, morre o pobre.
Qual o posicionamento do senhor em relação ao aborto?
Um problema de saúde pública. Não posso criminalizar uma menina de 13 ou 14 anos, se vê obrigada a fazer. É uma consequência da educação e da condição social. Também morre o pobre, porque a menina rica vai fazer no exterior, muitas vezes até sem o pai saber.
As coisas foram se ajeitando. Vez por outra, a mãe despachava latas com pães e frango frito, que davam um “reforço” na alimentação. Ele logo começou a trabalhar, primeiro como vendedor de pacotes de viagem, depois na rede Hermes Macedo. Apesar da rigidez dos tempos, divertia-se como dava. Ganhava convites, por exemplo, para os bailes Esmeralda e Safira, da UFPR. “A gente emprestava o paletó de um colega de quarto da pensão pra poder ir”, conta.
Voltas e reviravoltas
Veneri foi aprovado em um concurso público para o Banco do Brasil, onde começou a trabalhar. Entre guichês, conheceu a colega Selma, uma acreana simpática, por quem se apaixonou. Casaram-se em 1979 e tiveram dois filhos: Marcelo e Gisele. Veneri se aproximou do movimento sindical e vivia sua melhor fase, mas dois anos depois um aneurisma levou Selma. “Foi de repente. Ela foi internada num sábado e morreu na segunda-feira. Foi um desastre. Eu fiquei atordoado. Saí do movimento sindical e fui criar meus filhos. Era a melhor escolha que eu podia ter feito, naquelas circunstâncias”, avalia.
Por um ano, Tadeu morou no Acre, próximo à família da ex-mulher. De volta a Curitiba, apostou no esporte para ocupar o tempo e exorcizar as próprias dores. Começou a saltar de paraquedas (“Fui para perder o medo de altura”) e a fazer canoagem em corredeiras. Também praticou corrida de rua. Chegou a participar de maratonas, mas na segunda prova de longa distância rompeu a rótula e parou. “O segredo da corrida está na cabeça, não nas pernas. Dá uma sensação de independência incrível”, sintetiza.
Num dia desses, o banco Crédito-Sul patrocinava uma apresentação da Orquestra Sinfônica Brasileira, que se realizaria no Teatro Guaíra. Veneri foi pedir um ingresso e acabou conhecendo Denise. O papo virou romance, que virou casamento. Vieram outros dois filhos: Gabriela e Juliana. Foi a mulher quem convenceu o bancário a voltar às atividades sindicais. “Ela me deu muita força”, aponta.
Mais utopias
O anel de tucum no dedo anelar da mão esquerda denuncia a proximidade de Veneri com a Teologia da Libertação, linha da Igreja Católica influenciada pelo viés social. O adereço simboliza uma aliança com os pobres e com as minorias. Segundo a tradição, deve ser presenteado por alguém que reconhece na pessoa as motivações sociais. Talvez o anel e essa inclinação revelem muito das utopias de Veneri. “Este [anel] eu ganhei do Padre Paulo, do interior, que é bem próximo dos movimentos sociais”, conta. “A miséria e a tristeza não são belas, mas elas são humanas”, acrescenta Tadeu, que é católico, mas costuma frequentar apenas a Novena do Perpétuo Socorro, “pra carregar as energias”.
Atualmente, Veneri tem lido “Guerras Santas” (Phillip Jenkins), que trata dos primeiros anos do cristianismo, e “Hereges” (Leonardo Padura). As obras o ajudaram a ver a fé como algo inexato. “O que não dá é para levar a sua religião como única verdade”, resume. Ao mesmo tempo, cita livros históricos, como “O Massacre dos Chucros” (Renato Mocellin), como temas de sua predileção.
Enquanto isso, aos 63 anos de idade, ele vislumbra a concretização de outras utopias. Uma delas seria abrir grandes clubes à comunidade em dias específicos, em troca de isenção de IPTU. Dessa forma, ele apostaria na força do esportes como atividade preventiva – de “redução de danos” – e de promoção de igualdade. “Você poderia levar um monte de crianças de colégios públicos para o Country Club, em dias em que o espaço estaria ocioso. Cria uma interação entre a cidade. Ao mesmo tempo, esses clubes deixariam de ser só um espaço para gente que chega de helicóptero e carrão. Não pode haver essa exclusão”, vislumbra. “Em três mandatos, teríamos resultados fantásticos”, acredita.
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