Em um cenário turbulento, é difícil prever qualquer coisa sobre as eleições de 2016. Entretanto, é possível cravar uma única coisa: elas serão muito diferentes dos pleitos municipais dos últimos 20 anos.
Por um lado, elas servirão como um tubo de ensaio para novas regras eleitorais, que proíbem as doações privadas e reduzem o tempo de campanha. Por outro, elas se darão em um cenário de intensa instabilidade política.
Esses dois fatores devem pesar na estratégia dos partidos. Com menos tempo para construir candidaturas próprias, o PSDB, por exemplo, deve apostar no fortalecimento de alianças para ter mais competitividade nas eleições – especialmente nos grandes municípios. Já o PT deve apostar em candidaturas próprias, mesmo que pouco competitivas, para tentar reconstruir a imagem do partido diante do eleitorado.
Mudanças e efeitos
No lado estrutural, a reforma eleitoral aprovada na Câmara, no ano passado, trouxe mudanças bastante significativas para as eleições. Uma mudança que passa quase desapercebida para o eleitorado é a redução do tempo de campanha para apenas 45 dias. Além disso, foram ampliadas restrições na propaganda eleitoral gratuita de televisão e no custo máximo das campanhas.
Outra mudança, muito significativa, não veio da reforma aprovada pelo Congresso, mas do Supremo Tribunal Federal (STF), que vetou o financiamento empresarial de campanhas. Ou seja, os candidatos de 2016 terão menos dinheiro, menos tempo e menos meios para convencer o eleitorado.
Na prática, essas mudanças acabam dificultando o lançamento de novos nomes no cenário político. Figuras menos conhecidas terão mais dificuldades em criar uma imagem diante do eleitorado, o que fortalece quem já tem um nome estabelecido – exercendo mandato ou não. É preciso considerar, entretanto, que o nivelamento do financiamento das campanhas pode reverter parte dessa tendência.
Cenário ruim
Outro fator que, em tese, poderia reverter as dificuldades criadas pelo Congresso para novas candidaturas é o profundo desgaste da classe política no pós-impeachment.
Entretanto, para o presidente do PSDB no Paraná, Ademar Traiano, o efeito é justamente o contrário. “Estamos vivendo um quadro político tão ruim que temos dificuldades de encontrar candidatos. Pessoas de bem estão sem interesse de participar da vida política”, afirma o deputado.
O partido mais afetado por essa crise foi o PT, que sofreu não só com a degradação da imagem do mundo político em geral, mas viu a imagem do partido ser afetada por uma série de escândalos nacionais de corrupção. 23,4% dos prefeitos e 33,5% dos vereadores eleitos pelo partido em 2012 deixaram o partido nos últimos três anos e meio.
Presidente do PT no Paraná, Ênio Verri minimiza. “São pessoas que entraram no PT no auge da popularidade do partido, e não militantes”, afirma. Ele destaca, ainda, que o número de filiados ao PT cresceu no período – ou seja, na leitura de Verri, o partido perdeu seus quadros eleitos, mas ganhou novos quadros mais alinhados ideologicamente com o projeto de país defendido pela legenda.
Seja como for, a crise política mudou radicalmente a agenda política do PT entre 2012 e 2016. Antes, a prioridade era apostar em aliados competitivos do governo federal – mesmo que não fossem do partido. Um exemplo foi a aliança com Gustavo Fruet (PDT) em Curitiba. Agora, a ideia é lançar candidaturas próprias sempre que possível, para usar o tempo de TV como canal de comunicação do partido com a sociedade.
Os desdobramentos da crise política, incluindo o afastamento de Dilma Rousseff (PT) em decorrência do processo do impeachment, também deram uma reviravolta no PMDB – partido do presidente interino Michel Temer.
Segundo o secretário-geral da legenda no Paraná, João Arruda, antes do impeachment o partido tentava usar 2016 para alavancar o partido no nível municipal, visando uma candidatura própria para 2018. Agora, o compromisso com a governabilidade implica em aceitar mais alianças, evitar conflitos e ceder mais espaço a outros partidos.
Fragmentação
Outro fator político recente que deve influenciar bastante nas estratégias dos partidos é a fragmentação partidária da política brasileira. Seus efeitos já foram sentidos entre 2008 e 2012. Na primeira eleição, os cinco partidos que mais elegeram prefeitos concentraram 72,2% das prefeituras. O PMDB, sozinho, conseguiu eleger 135. Nas eleições seguintes, esse número caiu para 60,9% – o PSDB, partido que mais elegeu, fez 75 prefeitos.