| Foto: Reprodução/Facebook

Quem anda pelo Centro de Londrina nas manhãs de sábado já se acostumou com a cena: uma bicicleta elétrica com uma caixa de som acoplada circula pelas ruas. No som, uma gravação. O locutor fala de problemas como saúde e educação, entre outros, cita nomes de políticos e pergunta o que eles fizeram.

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A resposta vem numa paródia à música “Florentina de Jesus”, do palhaço e hoje deputado federal Tiririca (PR/SP): “não fez nada, não fez nada...”.

O dono da bicicleta é Émerson Petriv, mais conhecido como “Boca Aberta” e desde domingo (2) o vereador mais votado do Paraná pelo Partido da República (PR), com 11.480 votos – mais votos do que obtiveram cinco dos oito candidatos que disputaram a prefeitura de Londrina neste ano.

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Boca Aberta, como Petriv prefere ser chamado, foi assessor de Antonio Belinati, tio do prefeito eleito da cidade Marcelo Belinati (PP), quando este era deputado estadual.

Também ocupou um cargo numa subsidiária da Sercomtel, a empresa municipal de telefonia de Londrina e depois da eleição de 2012 mergulhou de cabeça no que ele chama de “carreira solo”, afastando-se dos Belinati. Petriv foi candidato a vereador naquela eleição, mas obteve 1.648 votos e ficou na suplência. Em 2014 tentou uma vaga na Assembleia Legislativa e obteve 12.210 votos, sendo 10.214 só em Londrina.

O “personagem” Boca Aberta, porém, começou a tomar forma em 2009, quando ele abriu um blog com o nome “amigo Boca Aberta”, que tratava da temática LGBT (Lésbicas, Gays, Travestis, Transexuais e Transgêneros). Chegou a registrar em cartório a realização de uma parada gay em Londrina, que nunca saiu do papel por conta de uma divisão no movimento.

Casado e heterossexual, Boca Aberta tomou outro rumo já na campanha de 2012, com o novo estilo, mais polêmico e marcado pela presença nas ruas. A última postagem do seu antigo blog, feita em 2012, mostra uma foto dele com “Tio Bila” (apelido dado por eleitores a Antonio Belinati e que o próprio Belinati assumiu) defendendo uma das suas polêmicas propostas: quem andasse em pé nos ônibus pagaria meia passagem.

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Depois das eleições de 2012, ele se tornou uma pedra no sapato do prefeito Alexandre Kireeff (PSD). No começo parava com a sua caixa de som embaixo do gabinete do prefeito, no Centro Cívico, e de lá fustigava Kireeff com seus discursos. A situação chegou a um ponto em que a Justiça determinou que Petriv não possa se aproximar a menos de 200 metros do prefeito.

Outras autoridades, como a vereadora Elza Correia (PMDB) e o presidente da Companhia de Habitação de Londrina (Cohab-Ld), José Roberto Hoffmann, conseguiram medidas judiciais semelhantes.

Os adversários atribuem as críticas de Boca Aberta à sua ligação com os Belinati, o que ele nega. A esse tipo de questionamento ele costuma responder com frase de artista: “estou fazendo carreira solo”.

Eleito pelo PR, partido que apoiou Marcelo Belinati, o vereador mais votado diz que será “independente” e não terá um alinhamento automático com o prefeito. “Não tenho rabo preso com político nenhum, meu compromisso é com o povo”, afirmou.

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Segundo Petriv, o novo prefeito não será poupado de críticas quando ele achar necessário.

Projetos

Petriv diz que Boca Aberta não é um personagem. Como vereador, ele disse que vai manter os hábitos, inclusive de circular com a bicicleta e a sua caixa de som. Vai frequentar as sessões de bermuda e botina, seu traje habitual. “Eu sou isso que o povo vê na rua”, justificou o vereador eleito, que conhece o regimento da Câmara e garante que não há impedimento em participar das sessões de bermuda.

Um dia depois da eleição, ele prometeu que, como vereador, vai receber salário de professor em início de carreira, pouco mais de R$ 1.900. A diferença entre esse valor e os R$ 12.900 de salário aprovado para os vereadores da próxima Legislatura (quase R$ 11 mil), Boca Aberta afirmou que pretende doar mensalmente ao Hospital do Câncer. Boca Aberta disse que a doação será feita “ao vivo”, num programa de televisão.

No ano passado, Petriv colheu assinaturas para apresentar um projeto de iniciativa popular, equiparando salários de vereadores aos de professores em começo de carreira. Como não conseguiu aprovar o projeto, ele disse que vai tentar firmar um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) junto ao Ministério Público (MP), para que os vereadores recebam salário de professor.

Outro projeto já anunciado por ele é apresentar um projeto para que 15% dos salários de todos os cargos comissionados da administração direta, indireta e da Câmara sejam depositados num fundo destinado para a saúde. O dinheiro seria usado na contratação de médicos plantonistas e remédios para as Unidades Básicas de Saúde (UBSs). “Não dá para o povo esperar 12 horas para ser atendido”, justificou.

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